quarta-feira, março 16

A tirania política e a opressão social são elevadas à categoria de virtudes: ao mesmo tempo que a maior aspiração, a menor tentativa de vida mais livre e mais digna serão imediatamente consideradas como intolerável e condenadas, sempre na base deste mesmo individualismo.
O homem viveu em condições naturais, sem Estado nem governo organizado. As pessoas viviam agrupadas em pequenas comunidades de algumas famílias, cultivando a terra e dedicando-se à arte e ao artesanato. O indivíduo, e mais tarde a família, era a célula base da vida social; cada um era livre e igual ao seu vizinho. A sociedade humana desta época não era um Estado mas sim uma associação voluntária onde cada um beneficiava da protecção de todos. Os mais velhos e os membros mais experimentados do grupo eram os guias e conselheiros. Eles ajudavam a resolver os problemas vitais, o que não significa governar e dominar o indivíduo. Só mais tarde é que se vê aparecer governo político e o Estado, consequências do desejo dos mais fortes de tomarem vantagem sobre os mais fracos, de alguns contra o maior número. O Estado eclesiástico ou secular, serviu então para emprestar uma aparência de legalidade e de direito aos danos causados por alguns à maioria.
O povo consente porque é convencido da necessidade da autoridade; inculcam-lhe a ideia de que o homem é mau, virulento e demasiado incompetente para saber o que é bom para si. É a ideia fundamental de qualquer opressão. Deus e Estado só existem por serem apoiados por esta doutrina.
Concepções tipo, nação, raça, humanidade não tem realidade orgânica. A palavra Estado não contém nada de sagrado, de santidade ou de misterioso
O Estado não é senão a sombra do homem, a sombra do seu obscurantismo, da sua ignorância e do seu medo.
A vida começa e acaba no homem, no indivíduo. Sem ele, nada de raça, nada de humanidade, nada de Estado. É o indivíduo que vive, respira e sofre. A autoridade religiosa edificou a vida política à imagem da Igreja, os “direitos” dos governantes vinham do alto; o poder, como a fé, era de origem divina. Os filósofos escreveram espessos livros provando a santidade do Estado, chegando por vezes ao ponto de lhe darem o privilégio da infalibilidade. A investigação era uma blasfémia, a servidão era a mais elevada das virtudes, chega-se a considerar certas ideias como evidências sagradas, não por a verdade ter sido demonstrada, mas por as repetirem sem cessar. 

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