Os progressos da civilização são essencialmente caracterizados pelo pôr-se em questão o “divino” e o “mistério”, o pretenso sagrado e a “verdade” eterna; é a eliminação gradual do abstracto ao qual se substitui pouco a pouco o concreto. Ou seja, os factos ganham terreno ao imaginário, o saber à ignorância, a luz à obscuridade. Um combate ininterrupto e sangrento que a humanidade conquistou o pouco de liberdade e de independência de que dispõe, arrancado das mãos dos reis, dos czares e dos governos.
Sozinho ou unido a outros, é sempre o indivíduo que sofre e combate as opressões de toda a espécie, as potências que o escravizam e o degradam. Mais ainda, o espírito do homem, do indivíduo, é o primeiro a revoltar-se contra a injustiça; o primeiro a conceber a ideia de resistência ás condições nas quais ele se debate. O indivíduo é o gerador do pensamento libertador, e também do acto libertador.
É sempre o indivíduo, o homem com a sua pujança de carácter e a sua vontade de liberdade que abre a via do progresso humano e transpõe os primeiros passos para um mundo melhor e mais livre; em ciências, em filosofia, no domínio das artes como no da indústria, o seu génio eleva-se até aos cumes, concebe o impossível, materializa o seu sonho e comunica o seu entusiasmo aos outros, que se envolvem por seu turno na amálgama. No domínio social, o profeta, o visionário, o idealista que sonha com um mundo segundo o seu coração, ilumina a estrada das grandes realizações. O Estado, o governo, é pela sua própria natureza, conservador, estático, intolerante e oposto à mudança. Se ele evolui positivamente ás vezes é por, submetido a pressões suficientemente fortes, ser obrigado a operar a mudança que se lhe impõe, pacificamente por vezes, brutalmente o mais das vezes, isto é, pelos meios revolucionários. É que é natural para o governo, não somente resguardar o poder que detém, mas também de o reforçar, de o expandir e o de perpetuar no interior e no exterior das suas fronteiras. Aproveitará todas as ocasiões para os engrandecer. Os interesses financeiros e comerciais que sustentam o governo que os representa e serve, motivam esta tendência. A razão de ser é hoje tão evidente que os próprios não mais podem ignorá-la, o temor da individualidade.
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