quarta-feira, fevereiro 11

Quando chega ao fim de Outubro começa já tudo a pensar no Natal, a começar pelos comerciantes e acabando nas histéricas das criancinhas, algumas com mais de 40 anos…
Aviso que não estou disléxico, eu sei que estamos em Fevereiro, e que este apontamento não é aconselhável a pessoas influenciáveis ou sensíveis.
Se estão a pensar as coisas que envolve canibalismo, estilo duas pessoas com mais de 18 anos a fazer sexo, desenganem-se. Vou mesmo falar do Natal, depois não digam que não avisei.

Como o conto de Natal de Dickens está mais batido do que uma taça de chantilly, e esta foi comprada no IKEA, bem como a varinha, já que não vos aconselho a comprar as natas na loja, pois se as almôndegas tem cavalo com restos de serradura, nem quero imaginar de onde vêem as natas das vacas suecas…
Hoje em dia estamos em Setembro e é ver as luzes de Natal a invadir as cidades, que quando chega o dia já dá vontade de enfiar as luzes no Pai Natal, e ele ficar como os pirilampos a piscar no cu.
Os anúncios de Natal nas televisões e na rádio, já para não falar nos outdoors, também são do mais imbecil que há. Popotas e Leopoldinas fazem-nos desejar que sejam vacas, para serem enfiadas numa praça de touros para serem espetadas pelos broncos dos aficionados.
O pior é que os adultos ficam mais infantis que os pequenos. Uma das coisas mais curiosas do Natal é que tem dois símbolos, o Menino Jesus e o Pai Natal, um nasce nu e em palhas deitado, outro anda vestido de vermelho e com casaco com gola de lã.

E isto das prendas é ridículo e ultrajante para quem não tem nada para comer, ou não tem família. Somos bombardeados com mais publicidade do que Fátima em esmolas.
Depois fica tudo hipocritamente delico-doce e solidário de pacotilha, são desde os acamados nos hospitais, os presos nas cadeias, e as criancinhas dos bairros sociais, vai tudo a eito, para depois passarem 50 semanas sem lhes prestar atenção, porque lhes passa depressa, no dia 2 de Janeiro voltam a ser os filhos-da-puta egocêntricos de merda.
 Larga o dinheiro do subsídio meu parvo, que a tua criancinha mimada quer o telemóvel xpto, a puta da tua filha quer ir ao concerto daquela banda de tenagers drogados, a mula gorda da tua mulher quer aquele vestido M quando ela á XXL, e vai fazer uma linda figura no reveillon, a fazer pandan com o teu fato colorido, a fazer inveja ao Goucha, e com essa barriga que te faz teres apenas uma recordação dos teus genitais.
Depois na mesa de Natal existe mais açúcar que cocaína em casa do Justin Bieber.

Também é altura de aturar os parentes chatos, para ver se cai mais uma prenda, no fim esperam que os velhos morram para receber o pilim, mesmo que eles dêem sempre as meias e as cuecas (sempre de mau gosto), ou com mais sorte dinheiro.
Depois de estoirado o orçamento de 3 meses (Novembro, Natal e Dezembro), andam em Janeiro a comer os restos do Natal.
Os pobres enchem os centros comerciais, e os ricos as lojas das Amoreiras, El Corte Inglês e a Rua Castilho (que a avenida da Liberdade é só para turistas). Ambos uma pobreza de ideias.

No saldo disto tudo, ficam todos mais pobres, as pessoas, a sinceridade, a época festiva, a paciência, e especialmente o espírito de Natal.

terça-feira, janeiro 20

A Bicha da Sala Laranja

Era uma vez uma bicha, que trabalhava na sala laranja.
Na sala laranja, a bicha era uma técnica, uma apoiante técnica, e atendia chamadas de clientes, e outras bichas, iradas porque não tinham Sport TV, ou não conseguiam ver as mulas ou os broncos da Casa dos Segredos.
A bicha da sala laranja anda pelos corredores com passinhos curtos, rápidos e como se tivesse um cartão de credito da Zara entre os joelhinhos.
A bicha da sala laranja olha para as outras bichas de soslaio, a fazer-se de difícil, arma-se em diva impenetrável, embora seja exactamente o oposto que quer.
A bicha da sala laranja é muito profissional, nunca sorri para os outros, não se junta ás outras bichas, que por sua vez andam como os flamingos, aos pares. As outras bichas da sala laranja, e das outras salas de outras cores, juntam-se em bandos no refeitório, riem-se desbragadamente com agudos que fazem roer de inveja a Celine Dion, gesticulam imenso, e tem sempre as amigas gajas que as acompanham no galinheiro.
A bicha da sala laranja não traz marmita, como a maioria das outras, mas quer levar nela. Ao contrario dos outros lados as bichas da sala laranja comem fast-food das maquinas do refeitório, sandes manhosas, chocolates cheios de açúcar, bebidas gasosas (como elas), iogurtes líquidos com cores que combinam com as suas vestes, berrantes, á Goucha, batatas fritas cheias de óleo, ou mandam vir pizzas ou sushi (que as mais finas comem em gabinetes).

A bicha da sala laranja só se derrete para o garanhão da sala, ficando dengosa e lamechas quando ele lhe dirige a palavra, sendo grosseira para os outros, nessa altura ela saltita como o Bambi, e esvoaça a sua cabeça como as piquenas dos anúncios dos shampoos. E nessas alturas ela não esvoaça, levita.
A bicha da sala laranja não gosta de bichas modernas, mas não gosta que a achem antiga, não faz activismo gay, nem vai ao Príncipe Real ou ao Bairro Alto, a não ser ao Finalmente (ao Lugar ás Novas) ou ao Trumps (em dias de festa), nem participa na Marcha do orgulho Gay e no Arraial Pride (isso é para as pirosas). Aliás diz mal das bichas activistas, dos gays que jogam rugby, enfim de todos os gays em geral, incluindo as suas amigas bichas.

A bicha da sala laranja bebe e come sempre de dedinho espetado, porque lhe disseram que era chique, a Kardashian faz, como se tivesse tido uma trombose ou um AVC, e usa cremes nas trombas que tem mais camadas que um bolo de noiva, e por vezes até usa rímel e um batom que diz sempre que é para o cieiro.
A bicha da sala laranja quando fala tem sempre a mão como se tivesse o pulso quebrado, e segurasse um saquinho de compras de pano de alguma loja chique, fala muito e alto, mas é a primeira a queixar-se do barulho, tal como do frio, do calor, do cheiro. Usa sempre vestes esvoaçantes e leves para lhe acentuar a figura esbelta que ela pensa que possui.

A bicha da sala laranja sonha um dia mudar de cor… nem que seja ficar roxa de levar nas trombas do preto musculado que trafica haxixe na rua.