Por um lado, para o julgamento científico, o indivíduo nada significa senão uma unidade, repetida num número infinito de exemplares, que bem se poderia designar por um número ou uma letra; e por outro lado, para a compreensão é precisamente o homem, artificialmente isolado e único, que é o único objecto por excelência. O indivíduo é o verdadeiro portador da realidade. Por outras palavras, é o indivíduo que é o homem concreto, em oposição ao homem normal ou ao homem ideal, que não é mais que uma abstracção, infalivelmente.
No lugar duma diferenciação moral e espiritual do indivíduo surgem a prosperidade pública e o aumento do nível de vida; o sentido da vida individual já não reside no desenvolvimento e amadurecimento do indivíduo, mas na realização dum conceito abstracto, que tem a tendência, definitivamente, a tirar-lhe toda a vida; em contrapartida ele será, como unidade social, regido, administrado, divertido por uma organização pré-fabricada de lazeres, no seu conjunto culminando numa satisfação e num bem-estar das massas, que é o critério ideal. É por isso que o apetite e o ciúme do poder, e uma desconfiança crescente, penetram todo o organismo estatal de alto a baixo. A história oferece-nos muitos exemplos.
É o racionalismo que se manifesta como um dos principais factores da aglutinação dos indivíduos em massa; de facto, este racionalismo priva a vida individual das suas bases, e, por conseguinte, da sua dignidade e da sua legitimidade, pois o homem como unidade social perdeu a sua individualidade e se transformou num número abstracto da estatística social. A importância do indivíduo é de tal modo pequena que chega mesmo a desaparecer, e quem quer que se esforce por apoiar o contrário, tem a maior dificuldade em encontrar argumentos. Que pesam na verdade alguns indivíduos em face de dez mil, de cem mil, ou de um milhão de outros?
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