Se a Sociedade é a mãe, o Dinheiro é o pai. São ambos omnipotentes, ao agir sobre os destinos humanos. A qualquer ser humano dizem: «Sem nós, nada podes fazer. Somos nós que te damos tudo quanto desejares na vida: sucesso, saúde, bem-estar, prazer, a consideração dos outros para contigo, e tudo o mais que possas desejar. Apenas tens de nos seduzir. Para isso, tens de fazer tudo o que te for possível: tens de nos entregar o teu espírito e o teu corpo. Sê manhoso em todas as situações, mas faz por pareceres diplomático; sê ganancioso, mas faz por pareceres bom investidor; e se apregoares direitos humanos, mais sucesso pessoal terás; dá bastante graxa aos meus intérpretes, porque se eles não te apadrinharem, para nós nunca serás ninguém; sê vaidoso, mas faz por pareceres modernaço; sê orgulhoso, mas disfarça o teu orgulho sob a capa da simpatia, de maneira que ninguém tenha o descaramento de te dizer que «tens a mania qu’és bom»; não te preocupes com filosofias de vida, mas dá aspecto de pessoa culta: o tempo em que filosofia significava amor à sabedoria já passou; faz o que os teus baixos instintos te mandarem fazer, mas que todos pensem que é na brincadeira e de forma desportiva e que, agindo dessa forma, és uma pessoa evoluída; cumpre servilmente, além disto, tudo o que os nossos intérpretes te mandarem fazer, para estares sempre na crista da onda da modernidade. Para nós, o que possas fazer será sempre pouco. Se nos conseguires seduzir, poderemos conceder-te, com as nossas sacros santíssimas bênçãos, o que desejas na vida. Quando morreres, dar-te-emos a recompensa que te pudermos dar (nenhuma!), já que a mais não somos obrigados!...
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