domingo, setembro 30



Somos um país conservador, moralista, pobre, que vive da censura moral e económica.

Somos tradicionais, adoramos estar próximo dos poderosos e ricos, admiramos os que parecem rectos e estáveis, e controladores. Não somos independentes.

Temos pouca cultura de liberdade e responsabilidade, somos devotos e gostamos de dar a responsabilidade dos nossos actos a outros. Gostamos de dividir para reinar.

Dão uma imagem casta, apesar de serem exactamente o oposto.

Não há nada como umas idas á missinha que não se resolva tudo.

Tomamos a sina de coitadinhos e lamuriamo-nos de tudo e de nada. Somos sempre as vítimas.



Os êxitos que se alcançam na vida não dependem só dos outros, mas da atitude que temos parente a vida. Ninguém ama, nem protege, aquilo que não conhece, por vezes as oportunidades acontecem, e nós distraídos não damos por elas. Mas nada acontece por acaso. Destruir a diversidade no ser humano é aniquilar a humanidade na sua maior grandeza.

sexta-feira, setembro 28


Rigor, coragem, honestidade são valores cada vez mais raros neste mundo. Hoje cultiva-se a arrogância, o individualismo e o materialismo.
Sempre soube que antes de ter direitos, tenho deveres. E isso fez de mim um homem.
Sempre respeitei e admirei aqueles que servem os outros, e desprezo pelos que se servem deles.
Aprendi com 3 mulheres maravilhosas, tudo o que de carácter norteou a minha vida, e o que tornou a minha vida especial foram os meus amigos, eles são o meu refúgio feliz.

Nunca vivi numa redoma, por isso sempre deixei as pessoas entrarem na minha vida. Em mim podem encontrar sempre a verdade. Defendo quem amo com unhas e dentes (e pontapés se for preciso).
Não compreendo, nem aceito (porque não as tenho) atitudes ou posições dúbias. Agora posso sempre mudar de opinião, se os argumentos forem suficientemente fortes para me convencer.
Tive grandes amigos na vida que hoje nem me telefonam, e não respondem aos meus telefonemas, é assim a vida. Para muitos os amigos só servem para os seus propósitos e intenções, são para as ocasiões, são dispensáveis.
Eu por mim não dispenso os meus.
Aos outros não lhes tenho ódio ou rancor, tenho pena deles, não por me considerar “especial de corrida”, mas por ver que eles não são aquilo que eu amei neles.

Eu adoro abraçar os meus amigos porque os quero ter só para mim, protege-los de todo o mal que lhes possa acontecer. Sei que não posso, mas tenho sempre tanto medo de os perder.
Os meus amigos são o meu porto de abrigo, o meu porto seguro, onde eu gosto de me atracar.

quarta-feira, setembro 26


No meu modesto entendimento, não há nada melhor do que recuar e observar.
Acho que tenho um filtro que me faz ver o que me convêm, e aquilo que devo rejeitar.
Faço isto não por batota, mas por defesa pessoal. Se há uma coisa interdita no meu coração, é a raiva, a maldade, o rancor. São coisas repugnantes para mim.
Não tenho ódios de estimação. Geralmente tenho pena das pessoas que me odeiam, e que me detestam, por eu ser quem sou e como sou. Não é insolência o facto de pensar assim, não me iludo, há gente mais bonita do que eu (a maioria), mais inteligente e mais bondosa.
Mas tantas vezes me sinto sozinho, e a solidão dói, dói muito, a mim faz-me chorar.

Vivi a minha infância e adolescência na dor e solidão, isso fez de mim um ser atento aos outros, frágil mas ao mesmo tempo com uma força que vem de quem sabe olhar a vida de frente, e que luta para se salvar.
Passei de uma noite chuvosa de trovoada, para um céu limpo e solarengo. Foi uma viagem difícil, mas fi-la pelo meu pé, e encontrei gente que me quis acompanhar.
Os meus amigos.

segunda-feira, setembro 24


Consigo conversar durante horas, adoro conversar, trocar ideias.
Mas também gosto de ouvir pois é ai que aprendo.
Nada melhor do que participar numa discussão de ideias. Abre a mente.

Já chorei muito, por causa das agressões e violência de minha mãe, por causa de discriminação a que me sujeitaram, por não me sentir bem na minha pele.
Não sei como os outros me vêem, mas aflige-me o sofrimento alheio, e quando expresso em lágrimas ainda me magoa mais.
Não perco o respeito, nem a admiração por quem chora, perco por aqueles que provocam as lágrimas nos outros.
Se não viro a cara ao sofrimento alheio, muito menos ao dos meus amigos, porque os amo, e o sofrimento deles é também o meu, e eu quero ser feliz.
Claro que corro sempre o risco de ser considerado intrusivo, um metediço que gosta de se meter na vida dos outros (já me rotularam assim). Mas é porque não me conhecem, se não entendem as minhas intenções eu estou sempre disponível para vos elucidar.
Se já tem uma ideia fixa sobre mim, então não vale a pena perder o meu tempo a explicar-vos.

No fundo sou um bom sujeito com algumas fraquezas.
Procuro que a minha vida seja o menos desconfortável possível, mas confesso que vivo sempre com um amargo de boca, por não poder ser mais, fazer mais.
O desrespeito é tanto, a má educação grande, a justiça tão vaga, que me irrita até á medula. Apesar desta minha maneira de ser, tolerante e assertiva, ferve dentro de mim uma revolta por este mundo não ser melhor, mais agradável de ser vivido.
Quantas vezes acho este mundo parecido ao inferno, e nessas alturas fico danado, revoltado, irado, espumo pela boca.
Às vezes parece que sou eu sozinho contra o mundo.

Tenho medo desta gente que ataca quando estamos distraídos…

sábado, setembro 22


Ingenuidade das simples criaturas que nós somos.
Muitas vezes olho em volta e só vejo o mesmo desânimo, a mesma apatia, a mesma tristeza.
Também a tenho, mas bolas, não deixo que ela me domine.
Tristes criaturas que se limitam a ter mentalidade de criados, e que muitas vezes o são. Servem os ricos e poderosos como se tivessem nascido com a sina de fazê-lo.
Esta mentalidade provinciana de muitos que se querem fazer passar por cosmopolitas, faz-me rir.

Eu devia trazer no peito um cartaz “ RESERVADO O DIREITO DE ADMISSÃO”, se calhar está-me mesmo gravado no peito.
Ainda ontem alguém me disse que tenho jeito para as palavras, puro engano dele. Se as minhas palavras, ditas ou escritas, fazem sentido é porque são ditas com sinceridade, do coração, são autênticas, porque são sentidas.
Também um amigo me disse ontem, “fostes o único que reparastes, que estavas atento”. Como posso não estar atento ás pessoas que amo?
Sim porque amo os meus amigos, com aquele amor que não tem factura, nem recibo, simples, honesto e incorruptível.
Também me doeu saber os defeitos de carácter de outro por quem tinha estima. Aquela confirmação de que há ali uma falha de carácter, doeu-me.

Não sou de atirar pedras aos outros, mas continuo a não compreender e muito menos aceitar a maldade do homem.
Respeito a opinião diferente da minha, sempre ganhei no diálogo, e sempre perdi no confronto. Mesmo quando os ganhei. O confronto nunca me trouxe nada de bom, o diálogo sempre. Nem sempre vencer me traz alegria.
As pessoas vão infligindo mágoa e dor aos outros, e algumas com prazer.
A paz é possível, tenha o homem sabedoria para isso.

Pois é, de vez em quando vem-me estas ingenuidades…

quinta-feira, setembro 20


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. O que antes parecia mal, agora parece bem.
Não me venham com essa conversa de que depois de mortos todos foram bonzinhos. Anda para ai uma mania de branquear toda a maldade de um indivíduo depois de morto.
Isto de não dizer mal dos mortos, por respeito, é treta. Se eles vivos não respeitaram os outros merecem esta consideração depois de mortos?

Pequenas causas podem fazer grandes efeitos, assim como grandes actos podem não resultar em nada.
Estranho este mundo em que quem rouba um pão é ladrão, quem rouba o estado é absolvido de qualquer culpa.
Envergonho-me desta sociedade onde o roubo descarado é estimulado, consentido e desculpado.
Mas que mundo louco eu sou obrigado a viver…
Falamos demais no que temos, de do que fazemos. Alimentamos a nossa vaidade com o que possuímos, e falta o essencial, possuir um cérebro funcional e um carácter forte e recto.
São os bens que possuem e não o bem que podem fazer aos outros, são egocêntricos e acham que eles é que estão certos, os outros que se preocupam e agem contra as injustiças, são parvos.
Vivem o dia como se não tivesse havido o ontem e não houvesse o amanhã. Pensam-se imortais e imunes á desgraça, á doença, á pobreza, ao sofrimento.
Claro que quando caem querem a simpatia e a ajuda do outro, aliás exigem-nas, e armam-se em vítimas. Arranjando culpas em tudo menos neles próprios.

O que serei amanhã é uma ideia que me preocupa sempre. É o futuro que me interessa, o que já fiz, o que já vivi, está feito e vivido. Aprendi com tudo (ou quase tudo), mas avancei em frente. Só posso ter medo do que não conheço, e o incerto é o futuro, não o passado.

sábado, setembro 1


Demasiadas vezes esquecemos que os homens são feitos de carne e osso, e sofrem…
Mas para meu (talvez vosso) desconforto, tal acontece.

Isto tudo acontece numa cultura de mártires, em que o sofrimento é apreciado como forma de salvação, uma espécie de penitência e heroísmo. Mas eles gritam e nós não ouvimos?
E continuam a gritar, meus amigos. E não pensem que não chegará a vossa vez.
Nunca me senti maior parente o sofrimento dos outros, sempre me senti maior fazendo os outros felizes, O meu poder está na liberdade do meu pensamento, e no bem que possa fazer ao outro.
Sou atento, especialmente aos que amo, se por vezes não intervenho mais é porque respeito o espaço de liberdade do meu amigo. Se me conhecem bem sabem que estou disponível para eles.

Choca-me as pessoas que esquecem aqueles que lhes foram úteis. Essas criaturas são ignóbeis, reles. Tenho-os tido na minha vida, deixei-os ir, alguns com dor (minha claro), mas não merecem a minha atenção, muito menos a minha amizade. Até a bondade tem limites.
Sempre optei por estimar quem merece a minha estima, nunca dei afectos por dever, nem aos meus pais (que também nunca mos deram), nem ao meu irmão (que não os merecia). Não me move o dinheiro, nem o poder, não faço as coisas por obrigação, e os afectos, coisa tão íntima e pessoal, muito menos.

Aqueles que me fizeram sofrer apaguei-os da minha vida, foi o melhor que fiz. Não foi por bondade, foi para sobreviver, para manter a minha integridade.
Aprendi a não ter pena de mim (o que aconteceu demasiado tempo). As pessoas maravilhosas que me estimas e mimam são a prova de que afinal sou um tipo decente.
Nunca fui adepto da escuridão, apresento-me como sou, de maneira clara e franca, de cabeça levantada, não me calo, tenho ideias claras, falo do que penso saber, e pergunto o que não sei nem entendo, tento ser aquilo que digo.
Nem conseguiria ser de outra forma, não quero ser uma fraude, não quero…
Não sou obediente, nem ignorante, não gosto da dor, nem física, nem mental, tenho medo da morte, não por ser um fim, mas por me impedir de ser maior, de ser mais, de fazer mais.

Não me vejo como uma pessoa de carácter forte, mas não tenho medo de presságios, nem cedo ás desgraças, não acredito no destino mas na vontade.
Por isso sou atento aos outros, tento atrair para mim aqueles que me parecem de qualidade, tento mantê-los perto, porque sei que são uma mais valia na minha vida, um tesouro que quero possuir, de que não posso, nem quero, prescindir.
No homem interessa-me o coração e a cabeça, os sentimentos e a inteligência.
Já disse mais de mil vezes que para me conquistar baste serem bondosos e generosos (e um sorriso conquista-me).
Mantenho-me firme nesta convicção.

quarta-feira, agosto 29


Sempre fugi do ódio. Do meu e o dos outros.
O mundo é feito de tanta beleza que não tenho tempo para o ódio.
Nunca entendi porque me invejam ou odeiam. Nunca fui, e espero nunca vir a se, um ser maldoso, revoltado sim com a maldade alheia, nunca vingativo.
Sempre me aproximei dos outros de mão estendida porque foi assim que me ensinaram a ser. Se não entendem a minha bondade, só posso ter pena de vós.
Mas ser bondoso não é ser parvo (acho que não sou, embora não seja consensual).

Só sei que tenho de ser e agir. E tenho esperança de ser cada vez mais. Tive tudo para ser uma vítima de um melodrama piegas, mas resisti e segui outro caminho. De que adianta estar sempre a falar do mal que nos acontece, será ele que te define como pessoa?
Não quero ser confrontado, nem visto como uma vítima, mas como alguém que venceu o mal que lhe fizeram.
Quero que a ultima página da minha história seja a riqueza que são os meus amigos, a da coragem e do respeito de que seja merecedor.
Aprendi a ser corajoso, honrado e digno. Se puder ensinar aos outros esses valores, a minha vida terá valido a pena, e serei honrado na minha morte.

A vida está ai á nossa espera, do que faremos dela, a nós nos compete ajuizar. Ela vai tirar-nos a prova-dos-nove do que realmente valemos.
Saberemos nós estar á altura desse desafio?

domingo, agosto 26


Quem escreve acho que o faz por várias razões, mas a minha é para exorcizar as ideias que me passam pela cabeça, uma espécie de catarse, para que não me consuma.
Eu escrevo para comunicar, mas também para influenciar. Sim porque a palavra influencia. E a escrita também, e muito.

Quem escreve emite uma opinião, um ponto de vista, uma maneira de ver o mundo, e quer ser ouvido, lido, validado.
Quando escrevo tenho a cabeça cheia de ideias, palavras, e um papel em branco que é um deserto. A transferência dá-se pela minha mão, rápida e precisa.
Por vezes são histórias que tenho para contar, outras vezes mágoas, muitas vezes alegrias. Mas tudo honesto, tudo meu.
Quem as vai ler, não sei, Quando escrevo é o silêncio.
Não sou original, não invento nada, falo de coisas vividas, pensadas na minha cabeça, só sei que penso, muito. E se penso logo existo.

A minha história é de coragem e sacrifício, de coisas que me confundem, de descobertas, mas também de coisas que me maravilham.
Mas não escrevo de memórias alheias, tenho resistência suficiente e boas intenções. Já falhei muitas vezes e isso aborrece-me, mas nunca desisti, nem pretendo fazê-lo.
Mas não me vejo a seguir outro caminho, senão o que trilho, vou lendo, lendo e escrevendo, e vou-me admirando tanto com a maldade como com a bondade dos outros.

Quantos anos me faltam? Vinte? Trinta? Cinquenta? Mas vou ler e pensar, vou ir ao encontro dos outros, sempre de mãos abertas, vou reflectir, olhar, escrever.
No fim sou um anónimo, um anónimo português.
Não serei é indiferente. E tudo será como deve ser. 

quarta-feira, agosto 22


Ás vezes fico mesmo frustrado.
Ouvi durante o Euro o seleccionador português num discurso em que dividiu os portugueses entre os que apoiam a selecção e os que não, os que apoiavam era patriotas, os outros iam a correr comprar as bandeiras dos adversários de Portugal e torcer por eles, contra o nosso país.
Ou seja, eu que não ando com a febre do futebol sou antipatriota.
Mas que gente é esta que vê a vida a preto e branco? Entre amigos e inimigos? Entre o bem e o mal? Não vê as nuances, são limitados, e mal formados.
Rui Silva venceu a Volta à Suiça em Bicicleta, sendo o primeiro ciclista português a vencer uma volta no estrangeiro, e levou 10 segundos (DEZ) na TV.

Esta gente parola acha que todos devem ser como eles.
É verdade que a importância do futebol é o reflexo do povo que temos, e que a televisão dá aquilo que o povo quer ver, que a guerra das audiências pede, e o pilim a entrar dá jeito. Mas vale tudo?
Esta gente tem ódio, rancor e desprezo a quem não partilha a visão deles.
O povo gosta da ilusão de que se formos bons no futebol, e até somos, somos uma nação respeitada, e melhor do que as outras. Vê-se o respeitinho com que a Troika nos trata, mais a Merkel. E nós somos os pessimistas, os intelectuais, como se tivéssemos uma doença grave e contagiosa.
Mas o que mais me faz rir, é a velocidade em que sobem e caem, conforme os resultados.

O desporto deve ser um factor de união entre os povos, honesto e justo, disputa entre equipas, atletas. No futebol só vejo violência, corrupção, ofensas gratuitas e cânticos racistas.
Para quem faz desporto, como eu fiz durante grande parte da minha vida (remo e agora rugby), faz-me confusão a violência, a desonestidade no desporto, não exclusiva do futebol.
Agora chamam-me traidor á pátria, por não achar que os piquenos do futebol são deuses a quem devo adorar.

Os meus heróis são aqueles que são honestos, no desporto, como na vida, os que arriscam a vida pelos outros e pela liberdade e dignidade do ser humano.
Não vejo nada disso em Ronaldos e companhia…

segunda-feira, agosto 20


Há criaturas que são como as gaivotas, avaliam tudo em duas categorias: o que se pode comer, e o que não se pode.
Vejo-as muito na noite:
E depois tem pouca memória…

Algumas que me colocavam na categoria dos “não comestíveis”, andam agora num frenesim para “papar-me”. Mas eu sou como cabra velha, para me amaciarem a carne tem de ter trabalho, e bom tempero para ficar suculento e comestível.
Eu até gosto de festas, pelo corpo todo, mas não daqueles que me olhavam com ar de nojo e pensar “que faz este tipo aqui”.
Pensam eles por ter mudado fisicamente, sou uma pessoa diferente. Apenas um pouco, o essencial continua cá, apenas com um melhor pacote.

Já disse que não avalio as pessoas pelo seu aspecto físico, e até evito muitas vezes os “corpinhos danone”, raros são os que me trouxeram algo de bom. Nem nunca passei fominha, mesmo com 123 quilos.
Se cuidei de mim fisicamente foi para não ficar triste a olhar para o meu espelho, para não ver os meus olhos tristes, que de tristeza já tenho os olhos mais do que cheios.
Claro que nem tudo me serve, também sou selectivo, para mim não há belo sem sabão, mas não ando atrás da beleza física ou da juventude, interessa-me mais o que está na cabeça do que os centímetros do dito cujo.
Há mesmo pessoas que dão mesmo péssimas digestões. Mas afinal nada é simples…

quinta-feira, agosto 16


Irritam-me as pessoas autoritárias.
A mim á força não me ensinam nada, recuso. O meu cérebro bloqueia, nada fica lá.
Quem o faz despreza o outro, os seus sentimentos, a sua integridade, a sua dignidade.
Por isso o serviço militar me foi penoso, qual tortura que aguentei estoicamente, e á qual sobrevivi. Não me ensinou nada de bom, pois os valores que, supostamente, deveriam dar já os tinha.
Confesso que sou admirador das pessoas bondosas, dou mais valor ás suas conquistas do que ás dos arrogantes. Não saboreio as minhas ultrajando os outros.

Não sou saudosista, nem vivo preso ao meu passado. Agora abro as minhas mãos para o futuro, é para ele que olho e caminho. Se vai ser longo ou curto, bom ou mau, não sei, mas tem de ser vivido, aproveitado ao máximo, e tenho confiança de que vai valer a pena viver, mesmo com os momentos maus que virão.
Não encaro o futuro sem uma ponta de medo, de ansiedade, de responsabilidade minha, e com um grande sentimento de humildade, pois sou tão pequenino neste mundo tão grande, e tão insignificante!

quarta-feira, agosto 15


O que é que eu quero da minha vida? Fazer a diferença.

Como todo aquele que sabe ser diferente da maioria, passei parte da minha vida a tentar encaixar-me neste mundo, que em parte me renega, outra parte me odeia, outra me tolera.

Mas eu não quero ser tolerado, quero que me respeitem, e me amem por aquilo que sou.
O facto de ser voluntário da ILGA, e activista LGBT não é por acaso, é uma consequência, um fim, para onde caminhei sem dar por isso, por ter sido tão natural e tão inevitável.
Todo o carinho que tenho recebido por parte da comunidade LGBT tem-me recompensado, incentivado e confirmado que vou no caminho certo. Não sou nem quero ser uma “estrela cadente”, não faz parte do meu carácter. Quero sim ser e estar, no lugar certo para fazer a coisa certa.
Quando me perguntam o que queres fazer, respondo sempre, o que for preciso.

Sempre quis, e continuo a querer, ser a razão para os outros serem melhores. Por isso incentivo as suas qualidades, digo-lhes na cara, mimo-os, tento que não se percam neste mundo egocêntrico, insensível aos outros.
Ainda á pouco tempo vi um miúdo cair de uma mota em pleno dia de chuva, e ninguém lhe acudiu. Para mim foi uma coisa natural fazê-lo, nem podia olhar para o lado sem saber se ele estava e ficava bem, era imperativo que o fizesse, não o fazer ia tirar a humanidade que está em mim, e da qual não quero prescindir.
Não posso passar ao lado do sofrimento alheio, do que precisa de mim, é como desumanizarem-me.

Sei que para muitos sou um ser estranho, misto de estúpido e tonto, mas sei que estou cá para os outros. Porque é deles que recebo o que me alimenta a alma e o cérebro. Os afectos.
Se não entendem isso, se não me entendem, lamento dizer-vos que estão errados. Sempre soube que a razão está do lado do bem. E eu quero sempre ter razão.
E não bastam as palavras bonitas, tem de se traduzir em actos.
Se pensam que não é necessário darem de vós aos outros, lembrem-se que para receber é preciso dar. Não se vitimem depois quando precisarem dos outros e só virem deserto á vossa volta.

segunda-feira, agosto 13


Há momentos na vida que tornam insignificantes e fúteis as nossas penas, são aqueles que vivemos com os amigos.
Esses momentos de alegria e partilha são paliativos para as agruras, para as feridas que os outros nos causam. Diante deles afasto os meus pesares e a minha raiva contra as bestas deste mundo. Aqueles que tiram prazer em tirar a dignidade aos outros, que é uma forma de matar sem matá-los.

Aos que tem bens avultados, poder, tudo lhes é perdoado, todos os vícios são permitidos. Ao pobre, ao fraco, dizem-lhe como há-de viver, como se há-de comportar.
O desprezo pelo outro, que chega mesmo ao ódio, não dão mostras de abrandarem, muitas vezes tendo mesmo os sintomas de uma epidemia.
O facto de não me correr bem o dia, não me dá o direito de ser indelicado com os outros. Os amargos de boca são meus, e lá se devem curar. Nestas alturas são os amigos que me adoçam a boca.
Não consigo odiar ninguém, mas não me peçam para gostar de quem só me dá amargos de boca.

Porque teimam em querer humilhar e maltratar as pessoas? Porque teimam eles?
IDIOTAS!

domingo, agosto 12


Muitas vezes me lembro da janela de casa de meus pais, onde via os outros meninos a brincar na rua, e para onde eu era proibido de ir.
Não era com medo que eu me magoasse, era para não verem as marcas da violência de que era sujeito pela minha mãe.
Não admira que eu urinasse na cama até aos 11 anos de idade, e que era mais um motivo de porrada e humilhação., a “menina Joaninha” como me chamavam…
De tanta violência e falta de amor e carinho, até admira que seja um ser tão afectuoso (ou se calhar não!), mas ai de quem abuse. Ou me negue uma resposta aos meus afectos. Fica automaticamente arredado da minha vida.

Não tive uma infância, tive um purgatório.
Enquanto pensei que o que me faziam era usual, normal, fui aguentando.
Quando percebi que o não era, uma dor e uma revolta apoderou-se de mim.
Hoje rio de quem me fez sofrer, não porque lhes tenha perdoado, mas porque não me venceram, não me tornei igual a eles, ou pior. Escolhi o caminho que achei mais certo.

Sempre foram muito caladas as alegrias da minha infância. O choro, esse dava para encher um lago. Ainda hoje só choro de alegria e emoção á frente dos outros, o choro de tristeza e dor é só para mim, quando estou sozinho, pois foi assim que aprendi.
Lembra-me de sonhar muitas vezes, demasiadas vezes, que eu não era eu, era outro corpo, que me libertava de todo aquele sofrimento. E sonhava…
Ainda hoje passados tantos anos, me pergunto porque passei eu por tudo aquilo, que fiz eu para merecer tal.
E sei que não há respostas…

sábado, agosto 11


Há pessoas que são tão estéreis que metem dó.
Estéreis de afectos e inteligência.

Já disse, e acredito com convicção, que para ser meu amigo, não é necessário ser-se belo(a), rico ou poderoso/influente., basta ser bondoso e generoso, que não é bem a mesma coisa.
Através da bondade e da generosidade recebi tudo o que me tem feito uma pessoa feliz, retribuo e dou em doses generosas o mesmo, pois quem tudo recebe e nada dá é um deserto. E eu não sou um ser estéril.

E não teremos todos nós um papel na transformação do mundo? Eu acredito que tenho um papel neste mundo, o de valorizar os bondosos e justos. Não acredito no politicamente correcto, acredito na justeza, na bondade humana, e acredito de tal forma que aposto a minha vida se for preciso.

quinta-feira, agosto 9


Não sei o que os outros vêem em mim.
Sei que não sou uma pessoa atraente fisicamente, especialmente dotado em nada de especial, mas sei o que quero.
E o que quero é amar e ser amado, ter as pessoas de qualidade comigo. Aprender com elas e partilhar momentos na sua companhia.
E que melhores arvores me poderia eu encostar? À dos meus amigos, naqueles em que vejo os valores humanos que defendo, e luto, com unhas e dentes. Aqueles que me ensinaram.

Graças a mim não fui aquilo que a minha família queria, fui, sou, aquilo que quero na medida das minhas possibilidades, com quem quero e quando quero.
Não troco os meus amigos, que amo de paixão, pela minha família, nem por nada deste mundo.
Se Deus existe que me julgue pelos meus actos. Tenho a consciência tranquila de que tenho feito o bem, pois é ele que me salva de ser uma besta.

quarta-feira, agosto 8


Porque não sou como os meus familiares? Porque não segui o caminho para mim escolhido? Porque razão sou tão diferente do meu irmão?
Tive a mesma (des) educação que ele, sofremos ambos as mesmas agruras da infância provocadas pela minha mãe. Mas um tornou-se igual a eles, e eu segui o caminho oposto. Para mim o que segui fazia-me mais sentido.
Nunca me revi na falta de valores da minha família, na sua falta de escrúpulos, na total ausência de amor, que as cargas de porrada e torturas da minha mãe, infligidas aos filhos, lembraram a toda a hora.

De minha mãe, de meu pai, dos meus avós, nunca recebi carinho, amor ou qualquer estima. A revelação da minha homossexualidade agravou a situação.
Toda a educação, todo o meu carácter, toda a minha moral, bondade e generosidade, recebi-a e foi-me ensinada por estranhos. A eles devo a minha formação moral, e os valores por onde guio a minha vida.
Sou a prova viva de que ser filho de alguém não é necessariamente um salvo-conduto para se ter um carácter igual.
Aquilo que recebi da minha família não me tornou igual a eles, não me interessava a sua visão do mundo. No fim fui e sou dono da minha cabeça, do caminho que quero seguir, mesmo que enorme obstáculos se atravessem á minha frente, hei-de afastá-los do meu caminho ou contorná-los.

Se sou lutador, se tenho coragem, não sei. Já disse que não posso passar ao lado da coragem, viver livre no pensamento é sinal de coragem. Os outros que avaliem o meu carácter.
Eu por mim quero ser livre, viver livre, pensar livremente, mandar na minha cabeça.
Apesar da nódoa que é a minha família, sinto-me limpo como a neve.

segunda-feira, agosto 6

Ser homem
O que é ser homem?
Serão os cromossomas? O facto de se ter um pénis? O ser macho e gostar de vaginas?

Para mim ser homem é ser honrado, ter carácter, simplicidade natural, tratar todos por igual, sejam feios ou bonitos, pobres ou ricos, famosos ou anónimos.
Ajudar os fracos, defendê-los dos opressores, torná-los fortes.
O verdadeiro homem não ajuda os fracos, protege-os. Mantêm-se fiel aos seus princípios, á sua moral, faz do seu discurso acção, não trai os amigos, é verdadeiro e frontal. Aceita os seu defeitos e os dos outros. e tenta suprimi-los.
Ser homem não é fácil, mas é preciso.

Ser homem é ser bondoso, mostrar afectos, apostar neles. Isso só o fortalece, não o enfraquece, nem o diminui.
Ser homem é ter carácter, não ser escravo da riqueza material, apenas procurar a riqueza mental, a da sabedoria, e essencialmente a dos afectos.
Ser homem é seguir o seu caminho, sem atropelar ninguém, ter carácter justo e sincero.
Ser homem é ser livre, defender a liberdade alheia, ser digno  e defender a dignidade humana, acusar e agir contra as arbitrariedades, lutar e resistir contra os tiranos.
Ser homem é por vezes estar só... 

Mas também é conquistar os outros homens (e mulheres), como amigos, ter o seu respeito e afecto.
Os  meus amigos são bons, irradiam bondade e simpatia e carácter. São de confiança, são dignos.
São eles que me fazem ser homem, que me comovem com os seus afectos, me protegem com os seus abraços, me fazem rir com o seu humor. Com eles vivo o mundo da bondade, alegria e de paz, um mundo perfeito, em que sou feliz. São eles que me dão força para vencer o mal.
São eles que me ajudam a ser um HOMEM.

domingo, agosto 5

Nada nos faz acreditar mais do que o medo, a certeza.
Quando nos sentimos vítimas, todas as nossas acções e crenças são legitimadas, por mais questionáveis que sejam. A inveja, a cobiça ou o ressentimento que nos movem ficam santificados, porque pensamos que agimos em defesa própria.
O mal, a ameaça, está sempre no outro.
O primeiro passo para acreditar apaixonadamente é o medo. O medo de perdermos a nossa identidade, a nossa vida, a nossa condição ou as nossas crenças. O medo é a pólvora e o ódio o rastilho.