Porque não sou como os meus familiares? Porque não segui o
caminho para mim escolhido? Porque razão sou tão diferente do meu irmão?
Tive a mesma (des) educação que ele, sofremos ambos as
mesmas agruras da infância provocadas pela minha mãe. Mas um tornou-se igual a
eles, e eu segui o caminho oposto. Para mim o que segui fazia-me mais sentido.
Nunca me revi na falta de valores da minha família, na sua falta
de escrúpulos, na total ausência de amor, que as cargas de porrada e torturas
da minha mãe, infligidas aos filhos, lembraram a toda a hora.
De minha mãe, de meu pai, dos meus avós, nunca recebi
carinho, amor ou qualquer estima. A revelação da minha homossexualidade agravou
a situação.
Toda a educação, todo o meu carácter, toda a minha moral,
bondade e generosidade, recebi-a e foi-me ensinada por estranhos. A eles devo a
minha formação moral, e os valores por onde guio a minha vida.
Sou a prova viva de que ser filho de alguém não é necessariamente
um salvo-conduto para se ter um carácter igual.
Aquilo que recebi da minha família não me tornou igual a
eles, não me interessava a sua visão do mundo. No fim fui e sou dono da minha
cabeça, do caminho que quero seguir, mesmo que enorme obstáculos se atravessem á
minha frente, hei-de afastá-los do meu caminho ou contorná-los.
Se sou lutador, se tenho coragem, não sei. Já disse que não
posso passar ao lado da coragem, viver livre no pensamento é sinal de coragem. Os
outros que avaliem o meu carácter.
Eu por mim quero ser livre, viver livre, pensar livremente,
mandar na minha cabeça.
Apesar da nódoa que é a minha família, sinto-me limpo como a
neve.
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