Muitas vezes me lembro da janela de casa de meus pais, onde
via os outros meninos a brincar na rua, e para onde eu era proibido de ir.
Não era com medo que eu me magoasse, era para não verem as
marcas da violência de que era sujeito pela minha mãe.
Não admira que eu urinasse na cama até aos 11 anos de idade,
e que era mais um motivo de porrada e humilhação., a “menina Joaninha” como me
chamavam…
De tanta violência e falta de amor e carinho, até admira que
seja um ser tão afectuoso (ou se calhar não!), mas ai de quem abuse. Ou me
negue uma resposta aos meus afectos. Fica automaticamente arredado da minha
vida.
Não tive uma infância, tive um purgatório.
Enquanto pensei que o que me faziam era usual, normal, fui
aguentando.
Quando percebi que o não era, uma dor e uma revolta
apoderou-se de mim.
Hoje rio de quem me fez sofrer, não porque lhes tenha
perdoado, mas porque não me venceram, não me tornei igual a eles, ou pior. Escolhi
o caminho que achei mais certo.
Sempre foram muito caladas as alegrias da minha infância. O
choro, esse dava para encher um lago. Ainda hoje só choro de alegria e emoção á
frente dos outros, o choro de tristeza e dor é só para mim, quando estou
sozinho, pois foi assim que aprendi.
Lembra-me de sonhar muitas vezes, demasiadas vezes, que eu não
era eu, era outro corpo, que me libertava de todo aquele sofrimento. E sonhava…
Ainda hoje passados tantos anos, me pergunto porque passei
eu por tudo aquilo, que fiz eu para merecer tal.
E sei que não há respostas…
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