
Caros gregos,
Desde 1981 pertencemos à mesma família. Nós, os alemães, contribuímos como
ninguém mais para um Fundo comum, com mais de 200 mil milhões de euros,
enquanto a Grécia recebeu cerca de 100 mil milhões dessa verba, ou seja a maior
parcela per capita de qualquer outro povo da U.E.
Nunca nenhum povo até agora ajudou tanto outro povo e durante tanto tempo.
Vocês são, sinceramente, os amigos mais caros que nós temos. O caso é que não
só se enganam a vocês mesmos, como nos enganam a nós.
No essencial, vocês nunca mostraram ser merecedores do nosso Euro.
Desde a sua incorporação como moeda da Grécia, nunca conseguiram, até agora,
cumprir os critérios de estabilidade. Dentro da U.E., são o povo que mais gasta
em bens de consumo.
Vocês descobriram a democracia, por isso devem saber que se governa através da
vontade do povo, que é, no fundo, quem tem a responsabilidade. Não digam, por
isso, que só os políticos têm a responsabilidade do desastre. Ninguém vos
obrigou a durante anos fugir aos impostos, a opor-se a qualquer política
coerente para reduzir os gastos públicos e ninguém vos obrigou a eleger os
governantes que têm tido e têm.
Os gregos são quem nos mostrou o caminho da Democracia, da Filosofia e dos
primeiros conhecimentos da Economia Nacional. Mas, agora, mostram-nos um
caminho errado. E chegaram onde chegaram, não vão mais adiante!!!
Na semana seguinte, o Stern publicou uma carta aberta de um
grego, dirigida a Wuelleenweber:
Caro Walter, Chamo-me Georgios Psomás. Sou funcionário público e não "empregado
público" como, depreciativamente, como insulto, se referem a nós os meus
compatriotas e os teus compatriotas.
O meu salário é de 1.000 euros. Por mês, hem!... não vás pensar que por dia,
como te querem fazer crer no teu País. Repara que ganho um número que nem
sequer é inferior em 1.000 euros ao teu, que é de vários milhares.
Desde 1981, tens razão, estamos na mesma família. Só que nós vos concedemos, em
exclusividade, um montão de privilégios, como serem os principais fornecedores
do povo grego de tecnologia, armas, infraestruturas (duas autoestradas e dois
aeroportos internacionais),
telecomunicações, produtos de consumo, automóveis, etc.. Se me esqueço de
alguma coisa, desculpa. Chamo-te a atenção para o facto de sermos, dentro da
U.E., os maiores importadores de produtos de consumo que são fabricados nas
fábricas alemãs.
A verdade é que não responsabilizamos apenas os nossos políticos pelo desastre
da Grécia. Para ele contribuíram muito algumas grandes empresas alemãs, as que
pagaram enormes "comissões" aos nossos políticos para terem
contratos, para nos venderem de tudo, e uns
quantos submarinos fora de uso, que postos no mar, continuam tombados de costas
para o ar.
Sei que ainda não dás crédito ao que te escrevo. Tem paciência, espera, lê toda
a carta, e se não conseguir convencer-te, autorizo-te a que me expulses da
Eurozona, esse lugar de VERDADE, de PROSPERIDADE, da JUSTIÇA e do CORRECTO.
Estimado Walter,
Passou mais de meio século desde que a 2ª Guerra Mundial terminou.
QUER DIZER MAIS DE 50 ANOS desde a época em que a Alemanha deveria ter saldado
as suas obrigações para com a Grécia.
Estas dívidas, QUE SÓ A ALEMANHA até agora resiste a saldar com a Grécia
(Bulgária e Roménia cumpriram, ao pagar as indemnizações estipuladas), e que
consistem em:
1. Uma dívida de 80 milhões de marcos alemães por indemnizações, que ficou por
pagar da 1ª Guerra Mundial;
2. Dívidas por diferenças de clearing, no período entre-guerras, que ascendem
hoje a 593.873.000 dólares EUA.
3. Os empréstimos em obrigações que contraíu o III Reich em nome da Grécia, na
ocupação alemã, que ascendem a 3,5 mil milhões de dólares durante todo o
período de ocupação.
4. As reparações que deve a Alemanha à Grécia, pelas confiscações, perseguições,
execuções e destruições de povoados inteiros, estradas, pontes, linhas férreas,
portos, produto do III Reich, e que, segundo o determinado pelos tribunais
aliados, ascende a 7,1 mil milhões de
dólares, dos quais a Grécia não viu sequer uma nota.
5. As imensuráveis reparações da Alemanha pela morte de 1.125.960 gregos
(38,960 executados, 12 mil mortos como dano colateral, 70 mil mortos em
combate, 105 mil mortos em campos de concentração na Alemanha, 600 mil mortos
de fome, etc., et.).
6. A tremenda e imensurável ofensa moral provocada ao povo grego e aos ideais
humanísticos da cultura grega.
Amigo Walter, sei que não te deve agradar nada o que escrevo. Lamento-o.
Mas mais me magoa o que a Alemanha quer fazer comigo e com os meus
compatriotas.
Amigo Walter: na Grécia laboram 130 empresas alemãs, entre as quais se incluem
todos os colossos da indústria do teu País, as que têm lucros anuais de 6,5 mil
milhões de euros. Muito em breve, se as coisas continuarem assim, não poderei
comprar mais produtos alemães porque cada vez tenho menos dinheiro. Eu e os
meus compatriotas crescemos sempre com privações, vamos aguentar, não tenhas
problema. Podemos viver sem BMW, sem Mercedes, sem Opel, sem Skoda. Deixaremos
de comprar produtos do Lidl, do Praktiker, da IKEA.
Mas vocês, Walter, como se vão arranjar com os desempregados que esta situação
criará, que por ai os vai obrigar a baixar o seu nível de vida, Perder os seus
carros de luxo, as suas férias no estrangeiro, as suas excursões sexuais à
Tailândia? Vocês (alemães, suecos, holandeses, e restantes
"compatriotas" da Eurozona) pretendem que saíamos da Europa, da
Eurozona e não sei mais de onde.
Creio firmemente que devemos fazê-lo, para nos salvarmos de uma União que é um
bando de especuladores financeiros, uma equipa em que jogamos se consumirmos os
produtos que vocês oferecem: empréstimos, bens industriais, bens de consumo,
obras faraónicas, etc.
E, finalmente, Walter, devemos "acertar" um outro ponto importante,
já que vocês também disso são devedores da Grécia:
EXIGIMOS QUE NOS DEVOLVAM A CIVILIZAÇÃO QUE NOS ROUBARAM!!!
Queremos de volta à Grécia as imortais obras dos nosos antepassados, que estão
guardadas nos museus de Berlim, de Munique, de Paris, de Roma e de Londres.
E EXIJO QUE SEJA AGORA!! Já que posso morrer de fome, quero morrer ao lado das
obras dos meus antepassados.
Cordialmente,
Georgios Psomás