terça-feira, fevereiro 4

Os olhos.
Reparo muito nos olhos das pessoas.
Não sei a importância que isso tem, mas acontece assim, leio as pessoas nos olhos.
Não sou tímido mas reservado, sou sociável mas guardo coisas só para mim. Aprendi a distanciar-me e a ver os outros de “panorâmica”, e acho que isso é o meu instinto a funcionar, para me proteger da maldade alheia, e evitar que o meu coração sofra mais desilusões do que me é humanamente suportável.

Posso ser banal mas não sou indiferente. Mais do que o meu próprio sofrimento, a que já me habituei a suportar sem que os outros se apercebam, é o sofrimento alheio que me aflige e apoquenta os dias, entristece-me.
Não poder resolver os problemas do mundo magoa-me, mas eu sei que é uma estupidez pensar que o posso fazer, não me é possível, é irrealista, e pensar nas minhas necessidades em ultimo não é saudável, nem sequer é racional.
Agora a bomba!

Quanto mais me pedem para deixar fazerem-me aquilo que faço aos outros, mais eu resisto a deixar-me confiar nas pessoas. E quanto mais tento explicar a razão de não confiar muito nos outros, e de ser como sou, mais vejo que sou um pária. Confio em poucas pessoas porque aprendi a não confiar, porque sofri a desilusão.
Quando em miúdo tentei pedir ajuda para me defenderem da violência a que minha mãe me sujeitava, ninguém acreditou, todos se viraram contra mim porque não era encaixável nas suas cabeças uma mãe abusadora, eu era o miúdo com problemas na cabeça, e tive de viver com isso e arranjar defesas.
A tragédia disto tudo foi a de passar a acreditar na minha mãe, e até aos 16 anos pensar que eu era o responsável pela violência que minha mãe me sujeitava, diariamente. E que merecia o tratamento.
O milagre foi a de não me ter tornado num abusador, num rancoroso, num delinquente, de não ter recorrido a aditivos para atenuar a dor.


A ironia disto tudo é a de pensarem que escolhi ser como sou, e de que tenho de ser sempre forte…

Sem comentários: