O provincianismo.
Nada pior do que o provincianismo.
Um labrego a armar-se em citadino é um triste espectáculo.
Mas qual é o complexo de inferioridade em se ter nascido
fora da capital?
É algum estigma?
E os provincianos de Lisboa? Acham que Portugal é Lisboa e o
resto paisagem? Que só são cultos os que vivem na capital?
Lisboa é apenas a capital deste belo país, o que já de si é
muito, mas o que seria Lisboa sem o resto do país!
E depois que raio de mania esta de fazerem comparações? As
entre Lisboa e o Porto são clássicas e disparatadas, e sempre infelizes. Como
se pode comparar As Valquírias do Wagner com o Mosteiro de Alcobaça? Não se
pode, são coisas diferentes e igualmente belas.
Depois as comparações com o “lá de fora”… Lá de fora de
onde? Do Cérbero atrofiado deles? E nisto de provincianismo há para todos os
gostos. È como ir á secção de iogurtes de um hipermercado.
Cada um é do lugar onde nasceu, e onde cresceu, os lugares
influenciam as pessoas, como a sua cultura.
Eu adoro chanfana, queijo de cabra, enchidos e castanhas
porque passei os meus verões de infância na serra do Açor e da Lousã, adoro
montanhas e rios pela mesma razão. Sou cosmopolita, gosto de sardinhas assadas,
do santo António, de fado, de ginjinha, de pastéis de Belém, de eléctricos porque
nasci e fui criado em Lisboa.
Mas também gosto de francesinhas e rojões com tripa
enfarinhada, e da torre dos Clérigos, dumas boas migas alentejanas, dum queijo
da serra e do rabaçal, duma posta á mirandesa, da sé de Coimbra, do porco perto
alentejano, e muito mais…
Renegar a nossa cultura, tanto a portuguesa como a da nossa
localidade, é renegar-nos a nós mesmos. Se se têm sotaque que se o fale, e se
assuma com orgulho.
Eu amo a minha cidade, mas também o meu pais, o meu povo, a
minha cultura, a minha língua.
Isto não é o Vaticano.
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