quinta-feira, abril 10

Para além dos eléctricos que passavam perto de casa de meus pais, havia ainda mais 11 carreiras a circular por Lisboa na minha infância, o que dava 15 no total (19 se dividirmos as de circulação como carreiras separadas, visto terem números diferentes, mas que faziam o mesmo percurso em sentidos diferentes).
Além das carreiras 3, 10/11, 17 e 19 que passavam nos Anjos, existiam os 12, 15, 16, 18, 20, 22/23, 24, 25/26, 27, 28 e 29/30.

O 12, que ainda hoje existe, ficava-se entre o Martim Moniz e São Tomé, subindo a Rua dos Cavaleiros e a Calçada de Santo André, terminando junto a uma antiga entrada para o Castelo de São Jorge, antes de nos obrigarem a pagar a entrada, e a Igreja do Menino Deus, uma das mais belas de Lisboa mas fechada aos turistas.
Hoje a carreira 12 circula em regime de circulação entre a Praça da Figueira e as Portas do Sol.

O 15 circulava entre o Terreiro do Paço e o Estádio Nacional, havendo desdobramentos para Belém, Algés e Cruz Quebrada, partindo do lado poente da praça.
Percorria toda a Avenida 24 de Julho, Rua da Junqueira e passava em frente ao Mosteiro dos Jerónimos (património mundial da UNESCO) e tão venerado como os famosos Pasteis de Belém que vieram do convento. Naquela altura não havia o mamarracho do Centro Cultural de Belém que amputou parte do jardim.
Passava Pedrouços, Algés (onde hoje faz terminal), o Aquário Vasco da Gama, Dafundo e chegava á Cruz Quebrada com o seu cruzeiro e ponte antiga.
Fazia terminal num descampado no Vale do Jamor e que dava acesso ao Estádio Nacional (que também era servido por uma estação de comboios, mas que só funcionava em dias de jogo).
Hoje liga a Praça da Figueira a Algés.

O 16 ligava o Poço do Bispo a Algés vindo pelas ruas paralelas interiores ao Porto de Lisboa pelo Beato, Xabregas, Convento Madre Deus, Cruz da Pedra, Santa Apolónia, Campo das Cebolas, Terreiro do Paço, Corpo Santo, São Paulo, Conde Barão, Santos e ai tomando a Avenida 24 Julho, Santos, Alcântara até ao Calvário, seguindo depois para Santo Amaro, Junqueira, Belém, Pedrouços e finalmente Algés onde fazia terminal onde hoje termina o 15. Era a maior carreira a circular usando eléctricos de 2 carruagens.
Foi uma das suprimidas em 18 de Novembro de 1991.

O 18, que ainda circula, foi dos que menos alteração a par do 15 sofreu. Ligava o Terreiro do Paço ao Cemitério da Ajuda.
Partia do lado nascente da praça e seguia o mesmo percurso da carreira 16 até ao largo do Calvário. Depois subia á Tapada da Ajuda com o seu belo pavilhão e o Instituto Superior de Agronomia, seguia-se o Alto de Santo Amaro e depois a descida vertiginosa para o Rio Seco (provavelmente uma ribeira antiga), e novamente a subida para o Largo da Boa Hora, com a sua igreja dum lado, e o mercado do outro, que tem um excelente restaurante açoriano.
Subia depois ao Palácio da Ajuda pela Calçada da Ajuda, terminando no largo fronteiro ao Cemitério da Ajuda. Hoje circula entre o Cais do Sodré e a Ajuda.

O 20 ligava o Largo Gomes Freire ao Cais do Sodré pela Rua Conde Redondo, Alexandre Herculano, São Mamede, Príncipe Real, Bairro Alto e Camões.
Era um dos eléctricos da sétima colina, e o único que passava em São Mamede passando pela igreja do santo.
O terminal no Cais do Sodré fazia-se na Praça Dque de Terceira.

O 22/23 era o eléctrico da circulação de São Bento. Subia toda a Rua de São Bento, a dos antiquários e da casa de Amália até ao Largo do Rato, entrando depois na Rua Alexandre Herculano com a sua sinagoga escondida, subia a Conde Redondo, chegando a Gomes Freire, descia pelo Campo Santana (ou Mártires da Pátria), Rua de São Lazaro passando junto aos hospitais de São José, São Lázaro e Desterro, e entrava no Martim Moniz.
Seguia-se a Baixa, Terreiro do Paço, Corpo Santo, Conde Barão e subia a Avenida Dom Carlos para a Assembleia da Republica, e voltava á Rua de São Bento.
Foi extinta em 23 de Maio de 1982.

O 24 era a carreira da antiga primeira circular, que percorria quase toda.
Embora na “bandeira” disse-se Rua da Alfândega, partia do Campo das Cebolas (em frente á Casa dos Bicos na altura de um só piso).
Seguia depois até Santa Apolónia pelo Chafariz de Dentro, e tomava a primeira circular mesmo antes do Convento da Madre Deus, pela Avenida Afonso III até ao Alto de São João. Depois de percorrer toda a Rua Morais Soares, atravessava a Praça do Chile e subia ao Arco do Cego pela Avenida Rovisco Pais, uma das que ladeia o Instituto Superior Técnico.
Ia depois até São Sebastião pela Avenida Duque D’Avila, passando junto á Pastelaria Versailles e dos jardins da Fundação Gilbenkian, subindo depois para Campolide e Amoreiras (ainda não havia o El Corte Inglês, nem o Amoreiras Shopping). Passava ao lado da estação de recolha da Carris (onde hoje é o Centro Comercial das Amoreiras), e descia pela Rua das Amoreiras (junto á Mãe de Água), Largo do Rato, Príncipe Real, Bairro Alto (e o seu belo miradouro de São Pedro de Alcântara) e chegando ao Largo Trindade Coelho, virava para a Rua Nova da Trindade, passando em frente ao Teatro Trindade e á cervejaria do mesmo nome, e acabava no Largo do Carmo junto ao topo norte do elevador de Santa Justa, e do Convento do Carmo, onde o Santo Condestável, D. Nuno Alvares Pereira acabou os seus dias.

O 25/26 eram os eléctricos da circulação da Estrela, de onde saiam em frente á Basílica e do jardim, subia a Campo de Ourique, que atravessava até ás Amoreiras, descendo depois ao Largo do Rato, seguiam o mesmo percurso do 22/23: Alexandre Herculano, Conde Redondo, Gomes Freire, Martim Moniz, Baixa, Terreiro do Paço, Corpo Santo, São Paulo, Conde Barão.
Seguia depois por Santos para a Lapa que subia (o chamado bairro das embaixadas e da famosa casa da loiça de Sacavém), até regressar á Basílica da Estrela.
Hoje circula entre o Campo das Cebolas e o Cemitério dos Prazeres.

O 27 ligava o Poço do Bispo a Campolide, utilizando o percurso do 3 e do 16 até á Igreja Madre Deus, que também é Museu do Azulejo e depois o do 24 até Campolide.
Foi extinta a 20 de Maio de 1990.

O 28 tinha quase o mesmo percurso que hoje, pois saia do Largo da Graça para o Cemitério dos Prazeres. Foi prolongado ao Martim Moniz devido ao cancelamento da 10/11.
Descia a Alfama pela Voz do Operário, Portas do Sol, Sé e Baixa, atravessando toda a Rua da Conceição. Na rua de São Julião (paralela para sul), a jóia da Igreja de Nossa Senhora da Oliveira com belos azulejos.
Segue-se a vertiginosa subida da Calçada de São Francisco, Largo da Academia das Belas Artes e os teatros São Luiz e São Carlos até ao Chiado.
Passando o Largo de Camões, local de desdobramento da carreira, a passagem pelo elevador da Bica, e a descida a pique pela Calçada do Combro até São Bento. Bairro Alto a norte Bica a sul, qual dos dois o mais típico. Oportunidade para espreitar o miradouro do Adamastor e a Igreja de Santa Catarina.
Sobe depois a íngreme Calçada da Estrela passando pelo Mosteiro de São Bento (parlamento) e pela Basílica da Estrela, onde se encontra o famoso presépio do século XVIII de Machado de Castro. A subida continua para Campo de Ourique com a sua Igreja do Santo Condestável e belos vitrais de Almada Negreiros, e finalmente o Cemitério dos Prazeres.

Finalmente o 29/30 eram os eléctricos do Bairro Alto, e ligavam o Príncipe Real á Estrela pelo Cais do Sodré, Santos e Lapa, depois da Estrela seguia o percurso do 25/26 até ao Largo do Rato por Campo de Ourique e Amoreiras, e bifurcava para o Príncipe Real.

Foi suprimida em 18 de Janeiro de 1991.

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