quarta-feira, abril 30

Depois de mim o dilúvio, frase atribuída ao rei francês Luís XV.
Tal como a de Marie Antoinette “se não tem pão comam brioches”, é um bom exemplo de como os ricos e poderosos vêem o povo, o seu desprezo e a forma insultuosa como demonstram a sua sobranceria e o desrespeito pelo sofrimento dos pobres, além de se acharam superiores.
E é isso que se tem assistido nesta chamada “crise”, que foi criada pelos governos e pelos seus protegidos, a indústria financeira, hoje joga-se a vida de milhares na bolsa como se fosse um casino, ou um jogo de monopólio.  

Os governos acodem a ajudar os bancos, o poder do dinheiro, e a retirar mais dos mais pobres, os ricos focam mais ricos, e os pobres hoje são os que trabalham e juntam-se aos desempregados e aos indigentes.
A saúde, educação, assistência social, a justiça, estão cada vez mais longe do alcance dos pobres.
Tudo se privatiza, correios, água, luz, transportes, combustíveis a quem der mais, bem como se desregula os sectores, liberalizar e privatizar estão na ordem do dia para que os ricos fiquem com mais poder, e os pobres mais fáceis de explorar, mais vulneráveis.

A história deveria ensinar quem a conhece, repete-se, e tal como a frase de Marie Antoinette provocou a ira da população descontente e com fome, terão estes governantes que ter cuidado com o que dizem? Não vá o povo revoltar-se?
E o despesismo contínua, poucos a comer lagosta e o resto a comer côdeas de pão, se as tiver.
Se reclamamos, dizem eles do cimo das suas fortunas, que estamos nós que queremos comer, a dar cabo da economia.

A justiça não funciona, pois protege e iliba os ricos e condena os pobres, a policia e os militares defendem os poderosos.

terça-feira, abril 29

Sou apaixonado pelo distrito de Aveiro, digo distrito porque não consigo evidenciar um ou outro local, gosto pelo todo e falo do que conheço.
Lembro-me de umas ferias em 1999, uma das várias que fiz no distrito.
Aveiro é uma das minhas cidades favoritas e por isso fiquei na Gafanha da Nazaré.

Aveiro é cidade rica em pontos de interesse, imperdíveis os jardins, a sé com magníficos retábulos, talha, estatuária e azulejaria, o museu (que nunca consegui visitar por inteiro), o mercado do peixe de Gustavo Eiffel, a ria, os edifícios arte-nova, os barcos moliceiros, a Igreja da Misericórdia, hino ao azulejo, e com um rico museu onde está o Cristo crucificado com cerca de 200 rubis, e que esteve na expo 98.

Claro que dei um salto ao Luso e ao Buçaco, que queria conhecer há muito, e que foram lugares que não me desapontaram.
Os Luso parede Sintra em miniatura, as termas da água mais conhecida de Portugal são das mais visitadas. Tem capela singela e água, muita água para beber.
Depois no Bucaço pagámos 500 escudos (2,5 euros) para entrar com o carro, mas digo que vale a pena, é dos mais belos locais de Portugal, desde o Palace Hotel, ao Vale dos Fetos, á Cruz Alta.
Para rematar um dia em cheio uma visita á Cúria, outra das termas da região, descobertas aquando da construção da linha dos comboios, e com belo parque onde me refugiei do calor (o meu Farrusco aproveitou para dormir uma soneca).

No dia seguinte, Praia da Vagueira, terra de arte xávega.
No Sábado fui a Sever de Vouga porque não estava dia para praia. É terra de montanha, e só o passeio subindo o rio Vouga vale a viagem.
A vila fica em anfiteatro e é muito agradável, alguns solares bonitos, e a Igreja Matriz, bem recuperada num misto de antigo e moderno, mas que não desvirtuou a traça, nem tirou beleza ao monumento.

Verão é altura de festas, e a Gafanha da Nazaré tem um famoso festival de folclore.
Estavam presentes dos grupos de Castro Daire, Gulmirães (arredores de Viseu), Cantares do Minho (grupo de minhotos radicados em Lisboa), Lorvão (Penacova), Cáceres (Extremadura espanhola), Múrcia (Espanha) e claro os mais aplaudidos Gafanhenses da Nazaré, a dançar em casa.
Sou um apaixonado por Portugal, pelo seu povo e costumes, cultura e tradição. Por isso o folclore me comove, e respeito muito esta gente que não deixa perder esta riqueza de património cultural. Abençoada gente que não se deixa vencer e que permanece fiel ás suas raízes, nem só de Joana Vasconcelos vive a cultura em Portugal.
Emoção do princípio ao fim, cada grupo mostrou os trajes, usos e costumes das suas regiões, e as diferenças tornaram-se numa festa de cores, gente bonita e musica, e união entre os povos.
Gente nova e velha, magra e gorda, alta e baixa, sem complexos e vergonhas das suas raízes. Dá gosto ver assim gente saudável, que belo é o meu povo.
Depois foi a Agrovouga, festa agrícola de uma região rica em tudo. Gostei de ver os animais, os de quatro patas, desde os cavalos ás varias raças bovinas em que Portugal é rico.

Em Ílhavo visitei a Barra, com a capela e o farol (o maior de Portugal em altura) que guarda a entrada da barra de Aveiro e a foz do rio Vouga, o incontornável Museu da Vista Alegre, a melhor porcelana do mundo, a Igreja Matriz, as casas típicas da cidade de Ílhavo.

Lembro-me de no último dia de férias ter ido jantar a Aveiro e ter assistido a umas cheias no centro provocadas pelas marés vivas, em pleno Verão.

terça-feira, abril 22

Só sei que nada sei, terá dito Sócrates o filósofo, não o politico.
Para Sócrates o fundamental é conhecermo-nos a nós mesmos, sabermos os nossos medos, contradições, duvidas, falhas, faz de nós mais fortes e mais preparados para compreendermos os outros.
Que acha que só existe uma verdade, e que é a sua, é tolo. E um tolo é imprudente!

O homem é por natureza um animal. Por isso é necessário que aprenda a andar, a raciocinar, a Mara, a viver em sociedade, a seguir regras e valores de conduta.
As crianças são más, egoístas, mimadas, birrentas, caprichosas por natureza. Por isso tem de ser ensinadas a ter maneiras e a comportarem-se, e elas são manipuladoras.
Um adulto educa-se desde a mais tenra idade. A maioria dos pais que se queixam dos filhos adolescentes rebeldes são responsáveis pelos seus comportamentos.
Esta coisa de sermos amigos dos filhos é muito lindo e idílico, mas o papel dos pais é serem pais, é educar os filhos, prepará-los para enfrentarem a vida, a maldade e a bondade alheia. E a fazer as escolhas mais acertadas para serem felizes, e serem pessoas honradas.

E um homem honrado não se vende, não deixa de ser honesto, não compromete a sua integridade moral, nem a sua honra. E assume as suas responsabilidades. Protege os fracos e combate os tiranos e a injustiças, e isso inclui todos os seres vivos, animais e plantas incluídos.
Por vezes somos vítimas dos nossos actos irreflectidos, e por isso inúteis.
Acho engraçado as pessoas que choram os mortos, mas que nunca dão valor aos vivos.

Erro meu lutar por uma sociedade mais justa, leal e solidária. 

segunda-feira, abril 21

Muito mais importante que praticar um acto de caridade, é dar oportunidade e ferramentas a cada um poder ganhar o seu sustento, para criar a sua independência financeira, essencial para a liberdade de cada ser humano.

Durante séculos as mulheres foram mantidas submissas através da passagem das heranças, para os filhos varões, da proibição de ter um emprego, de ter acesso a formas de poder, inclusive o eclesiástico.
O mesmo se passou com o racismo, impedia-se as pessoas de outras etnias ou tribos, de terem acesso sequer á sua liberdade, escravizando-os.
As ditaduras utilizam a mesma estratégia para subjugar e enfraquecer o povo, impedindo-lhes o acesso aos lugares de poder através de vários expedientes, que incluem analfabetismo, pobreza e mesmo prisão e tortura.

O homem é a medida de todas as coisas, disse o filósofo Protágoras. Protágoras sempre defendeu que devemos ter a coragem de procurar e defender a verdade, custe o que custar, e de nos julgarmos constantemente em todos os actos da nossa vida.
Hoje em dia temos sempre de andar com uma vela acesa, para ver se encontramos uma pessoa honesta. Aliás as pessoas honestas são vistas como uns extra-terrestres ou uns tolos, porque o esperto é o que sacaneia, mente, aldraba, usa esquemas e subterfúgios para ganhar benesses e privilégios.
Uma pessoa honesta assusta porque não tem medo da verdade, não aceita a mentira, não tem pontos fracos, nem tem nada a esconder.

A vaidade e a sua consequente ostentação são das maiores nódoas da humanidade. A única vaidade que tenho são os meus amigos, sou vaidoso com eles, ostento-os com orgulho.

Ás vezes perguntam-me o que querem que me façam. Respondo como Diágenes, podem deixar de estar entre mim e o Sol.

domingo, abril 20

Saber pensar.
Gosto de pessoas que saibam pensar.
E porque gosto delas? Porque pensar é uma escolha.
Também o que dizemos, ou escrevemos, é uma escolha, mas as palavras podem sempre ser confundidas pelos outros.

Se o homem é a medida de tudo o que faz, deve ser responsável pelos seus actos, inclusive por aquilo que diz. Ninguém pode achar tão superior ao ponto de poder fazer e dizer o que quer, por se achar no seu direito, e não esperar que os outros reajam, ou que se sintam no mesmo direito de o fazer.
Acto, consequência, responsabilidade, não existe outra equação.
Querem ser verdadeiros e honestos. Sejam, mas assumam as vossas atitudes.
Mas esta noção parece ser estranha a muita gente, na sua ilusão de se acharem superiores, e mais espertos que os demais.

Diz a canção “everybody wants to rule the world”, pois em vez de quererem servir, querem se servir, e acham que os que não pensam como eles são tolos e/ou parvos.
A verdadeira sabedoria não está em pareceremos sábios…

sexta-feira, abril 18

É impressão minha ou Paulo Portas deixou de exigir mais polícias na rua?
Assustou-se por eles estarem na rua e subirem as escadarias da assembleia da república?
A mentira pode ser ética, ou mesmo servir para uma boa piada, mas há políticos que abusam.
Não deixa de ser irónico um governo criar uma lei que permite despedir trabalhadores por incompetência, e nós não podermos fazer o mesmo com os empresários e com os políticos.

E depois desataram todos a falar de cortes, como se fossem costureirinhas, sacrifícios, resistência, paciência, passaram a ser doutorados em pobreza, como se soubessem o que isso é, eles que até enriquecem em tempos de “crise”.
Todos falam em estabilidade, pois foi durante o Estado Novo em que houve mais estabilidade, se calhar o melhor é mesmo voltarmos ao tempo da ditadura, em que havia eleições estáveis.
E quanto ás operações financeiras tudo o que seja menos do que uma lobotomia, não serve.

Não admira que neste país haja uma grande percentagem de alcoólicos, todos sabemos como os problemas desaparecem com dois ou três copitos a mais. Não podemos é depois conduzir, ou pegar em armas.
Mas para evitar isso também podemos ouvir um disco do José Cid ou do Anselmo Ralph aos berros, que ficamos imunes á dor, ou ler um livro da Margarida Rebelo Pinto ou do José Rodrigues dos Santos, que matam qualquer neurónio existente nas cabecitas fracas.

Pelos conhecimentos dos nossos universitários e pelos seus comportamentos, incluindo as praxes, se são aquelas criaturas que vão ser os quadros qualificados, estamos mais do que tramados, estamos fodidos e mal pagos…

quinta-feira, abril 17

É só impressão minha ou estes tipos que estão no Governo, parecem um bando de patetas sem noção nenhuma do que estão a fazer?
Como é que o povo vai nesta conversa e não reage é o que mais me espanta.
Até oiço frequentemente pessoas a dizerem-se contra as manifestações, incluindo as das galerias da assembleia.
Esta gente esquece que se não fosse a desobediência civil, muitas das conquistas de liberdade, igualdade e dignidade não teriam sido possíveis?

Não entendo como se pode ter respeito por gente que atropela os valores fundamentais da humanidade.
E o principal é a dignidade. Os pobres quando têm fome não têm dignidade. Tirar a dignidade a um ser humano, é tirar-lhe o seu bem maior, o seu orgulho, é tirar a humanidade, torná-lo objecto, sem emoções.
Esta gente “contentinha” e muito “respeitadora” fica comodamente sentada a criticar os que lutam por uma sociedade melhor, até quando lhes chega a casa, e ai berram e culpam os outros por deixarem “chegar as coisas a este ponto”.

Votar devia ser um dos actos que mais nos devia realizar como cidadãos. Primeiro porque é um dever cívico, segundo porque muita gente lutou e morreu para que hoje o possamos fazer em liberdade.
Mas lutar, reivindicar os nossos direitos, mesmo que isso leve a uma desobediência civil, também. Não é um direito do ser humano lutar contra as tiranias? De lutar pela igualdade, pela liberdade, pela dignidade humana?
O aumento da pobreza, e mesmo daqueles que ainda têm trabalho, e o aumento da riqueza dos poderosos e milionários, parece-vos natural e normal?

Quantos pobres são precisos para criar um rico?

quarta-feira, abril 16

A comunhão com Deus é muito gira, mas não é para todos. Que o digam as vitimas das religiões.
Não se converte ou salva ninguém queimando-os vivos, ou explodindo bombas que matam inocentes. Nem me cabe na cabeça que alguém veja Deus como aceitante de tais atrocidades.
Se Deus fez o homem e á sua imagem, temos aqui um dilema. Se somos á sua imagem então Deus é assim tão cruel, que manda matar quem não acredita nele? Incluindo crianças? É assim Deus tão odioso e insensível?
E se fomos filhos de Deus, andar a matar os seus filhos é aceite por ele? Mas que raio de pai é este? Como é que estes fanáticos pensam, que Deus os vai acolher no seu seio, quando andam a matar-lhes os filhos?

A minha experiencia na igreja católica não me deixou muitas boas recordações, embora tenha aceite os seus valores, não aceitei o facto de me condenar a minha orientação sexual.
Para as religiões quem não seguir as suas orientações, é alvo a abater, deve ser silenciado e proscrito. Tudo muito católico.
Parece-me desigual esta luta entre as religiões, e os que não a praticam ou nem sequer acreditam. Acho que precisamos de ajuda divina.

Depois passo-me com estes padres comentadores da TV, dão vontade de ir buscar uma pilha de lenha e uns fósforos. Será que fazem parte de alguma campanha para limpar as florestas?
Então os padres cantores, dão vontade de fazer uma Intifada. Amigos não usem guitarras, usem crucifixos, que é onde nos dá vontade de vos pôr. Agora até há um que é ventríloquo e usa um boneco de trapos para dar missa.
Quer dizer que não deixam as mulheres serem padres mas deixam um boneco de pano!

Algo está mal na Capela Sistina, nem a maior imaginação de Dan Brown ou Saramago chegaram a tanto. Imaginem que em vez de andar á procura do Santo Graal, Indiana Jones andava á procura da Miss Piggy! 

terça-feira, abril 15

Umas das técnicas mais usadas na sedução são a aldrabice e o logro. Talvez por isso não seja um sedutor. Não consigo mentir descaradamente.
Claro que já menti, todos já o fizemos, até para não magoar aquela amiga que fez um penteado que parece um ninho de cucos, e a quem dizemos que “tás gira” (elas comem as palavras, por isso algumas são tão gordas, e temos que falar a sua língua para sermos entendidos).

Nunca tentei passar por aquilo que não sou, aliás fui habituado desde miúdo a ser tratado como um ser inferior pela minha mãe, e indiferente por meu pai e o resto da família. Por isso sempre ficou esta ideia de humildade que parece ofender alguns, mas realmente sinto-me mais confortável nos bastidores.
Sou o que se “esconde” para não incomodar, para não importunar, era isso que fazia em miúdo quando tentava esconder-me dos abusos físicos e psicológicos que sofria de minha mãe.
Quando tentei pedir ajuda, enfiaram-me numa clínica a levar choques na cabeça, pois eu era o maluco, nunca uma mãe podia molestar um filho, era impossível. E passei a vida a esconder-me, se ninguém acreditava em mim, não valia a pena pedir ajuda, teria de ajudar-me a mim mesmo e suportar o que eu cheguei a achar que merecia, e que o que me faziam era culpa minha.
Ainda hoje sou assim.

Por isso decidi que passaria a vida atento aos outros, a ajudá-los se fosse possível. Não iria fazer o que me fizeram.
Vale o que vale, valho o que valho. Mas não serei indiferente!

Está dito, está feito.

segunda-feira, abril 14

Se alguém se estatelar no chão isso é comédia, se eu partir uma unha isso é uma tragédia.
Vemos a vida de maneira diferente consoante o papel que desempenhamos. Se somos espectadores variamos entre uma simpatia empática, mas se somos vitimas o caso muda de figura.

Sentir empatia pelo sofrimento alheio é uma coisa, mas ao ponto de sentirmos mesmo a dor, como se estivéssemos na pele deles, é muito complicado de lidar.
Pode ser muito útil intuitivamente mas muito penoso a nível emocional., por vezes destrói-te por dentro, e não podes contar a ninguém pois não te vão compreender, ou na melhor das hipóteses vão te julgar um gajo super carente de atenção.
Então guardas isso só para ti e processas á tua maneira o teu “dom”, que não pedistes nem queres, mas que não podes ignorar e tentas usá-lo para ajudares os outros, embora não te consigas ajudar a ti próprio.
Uma compensação estranha, consegues tirar a dor dos outros e acumula-as ás tuas.

Como não sou burro utilizo o sentido de humor como arma, contra o coração que carrego.
Como sou resistente e não pretendo tornar-me numa pessoa amarga, vou lidando com a minha cabeça da melhor maneira que posso e sei.
Os amigos que conquistei não foram por ser lindo, nem por ser esperto. Não sou um tipo normal, por isso não é fácil as pessoas aceitarem-me, ou confundem os sinais ou assusto pela franqueza e despudor dos meus afectos. Por isso não me é fácil confiar.
E quando me sinto traído reajo abruptamente, não sendo violento, mas intempestivo.
Não peço desculpa põe esse comportamento porque não o vejo como errado. Bolas, sou humano e tenho de me defender, a minha integridade mental que é preciosa para mim, mais do que a física, e esta tento preservá-la ao máximo.

Porque no fim é a única que me pode salvar!

domingo, abril 13

Lembrei-me hoje de uma estadia em casa que foi dos meus avós paternos em Setembro de 1996. Foi numa altura em que o dinheiro era escasso, e nestas alturas ter uma “casa na terra” dá muito jeito para passar uns dias de descanso.
Recordo que o mês já ia a meio, altura já calma sem aquele buliço dos retornados á terrinha em doses maciças de primos e primas.

Lembro-me de ir a Góis que não conhecia, a vila é muito bonita, e considerada a princesa do Ceira, rio que a atravessa.
A terra é mesmo cheia de encanto com as suas igrejas, Matriz e Misericórdia, a fonte, o casario, a capela octogonal da ponte, a praia fluvial, a ponte romana, o santuário, tudo cuidado, como a praia fluvial.
Infelizmente só a Matriz se encontrava aberta.
Dei depois um salto a Serpins, que ainda tinha o seu ramal de comboios que a ligava a Coimbra pela Lousã.
A Igreja Matriz é grande mas fechada ao público.

Dias depois foi a vez de ir ao Fundão, cidade que já tinha passado, mas nunca visitado.
Atravessada a Serra da Gardunha, chega-se á cidade que é rica em património e muito dinâmica.
Visitei a Igreja Matriz com o arco de azulejos sobre a entrada do altar. As capelas da Misericórdia são de estilo românico, com púlpitos exteriores, mas fechadas aos turistas.
O pelourinho é grande e destaca-se no largo fronteiro á sede do município. Ao lado a Casa dos Maias, solar típico beirão. Depois as várias capelas com adros com alpendres, a da Senhora da Conceição fica junto ás Oito Bicas. A rua do Cale é das mais típicas.
A Capela de Santo António tem alpendre com dois túmulos. Na rua do Eiró existe um belo chafariz.
À saída da cidade para Castelo Branco, as Capelas do Espírito Santo, com folhas de palmeira feitas em pedra no chão. Em frente o Jardim das Tílias, com um fontanário do principio do século XIX.
O almoço foi divinal, rematado com um queijo amanteigado e com cheiro a chulé mas delicioso.
O regresso foi com chuva, e devido a um erro de percurso, fui parar á Barragem de Santa Luzia, a primeira do Rio Zêzere.

No dia seguinte ida ao Piódão, aldeia histórica e considerado o presépio de Portugal. A caminho passámos por uma área ardida, vítima de um fogo recente que aflige estas zonas no Verão, o cheiro a queimado pairava no ar embora estivesse a chover.
O Piódão é sempre um encanto, o casario de pedra castanha com janelas de madeira coloridas, telhados de ardósia, a descer pela Serra do Açor, com a sua bela igreja branca e azul em estilo neo-árabe no largo da aldeia.
O melhor é perdemo-nos nas ruas, e o difícil é não trazer uma recordação. Hoje em dia está virada para o turismo, perdeu o sossego, mas ganhou a economia local.
Reza a lenda que foi aqui que os assassinos de Inês de Castro se vieram esconder da ira de D. Pedro I.
Fui depois jantar a Côja, vila cheia de encanto e casas brasonadas e atravessada pelo rio Alva. À saída para Arganil uma capela, o parque de campismo e uma antiga azenha de rio que hoje é um belo bar e restaurante, onde se comia um belo bacalhau com molho branco.

Domingo é dia de ir á missa, e por isso a oportunidade de rever a Igreja Matriz de Fajão. O altar é antigo e muito bonito.
Os dias cinzentos não nos abandonaram na visita a Vila Nova de Poiares, que também nunca tinha visitado. Havia feira e uma exposição cinegética com javalis, perdizes, gamos, rolas, raposas, lebres e veados. A Igreja Matriz fica no centro da vila e é grande mas singela e agradável.
Almoçamos uma Vitela na Caçarola de barro preto que estava deliciosa.
A estrada que liga Góis a Fajão é um encanto, pode-se ver a antiga aldeia de Cabreira, hoje desabitada com velha ponte sobre o rio Ceira, que estreitinho vai acompanhando o percurso.

Quinta-Feira é dia de feira semanal na sede do concelho e uma razão para ir á Pampilhosa da Serra. Compras feitas e ala para Oleiros que também não conhecia, com passagem por Álvaro autêntico miradouro para o rio Zêzere.
Oleiros é terra sem grande interesse e os monumentos fechados não ajudam a ficar. Igreja Matriz e Misericórdia sem possibilidade de visita.
De volta á Pampilhosa, visita á Igreja Matriz com interessantes altares. Almoço típico de feira frango assado no churrasco com batata frita que nestes locais parece saber melhor, não sei se da fome ou dos ares.


Final de férias com sol e banhos no rio e jantar no “Juiz de Fajão”, onde se come uma bela Chanfana em barro preto, ou um Bacalhau á Juiz com muita cebola, sobremesa filhós caseiras, e arrematado com uma aguardente caseira de medronho ou mel.

quinta-feira, abril 10

Para além dos eléctricos que passavam perto de casa de meus pais, havia ainda mais 11 carreiras a circular por Lisboa na minha infância, o que dava 15 no total (19 se dividirmos as de circulação como carreiras separadas, visto terem números diferentes, mas que faziam o mesmo percurso em sentidos diferentes).
Além das carreiras 3, 10/11, 17 e 19 que passavam nos Anjos, existiam os 12, 15, 16, 18, 20, 22/23, 24, 25/26, 27, 28 e 29/30.

O 12, que ainda hoje existe, ficava-se entre o Martim Moniz e São Tomé, subindo a Rua dos Cavaleiros e a Calçada de Santo André, terminando junto a uma antiga entrada para o Castelo de São Jorge, antes de nos obrigarem a pagar a entrada, e a Igreja do Menino Deus, uma das mais belas de Lisboa mas fechada aos turistas.
Hoje a carreira 12 circula em regime de circulação entre a Praça da Figueira e as Portas do Sol.

O 15 circulava entre o Terreiro do Paço e o Estádio Nacional, havendo desdobramentos para Belém, Algés e Cruz Quebrada, partindo do lado poente da praça.
Percorria toda a Avenida 24 de Julho, Rua da Junqueira e passava em frente ao Mosteiro dos Jerónimos (património mundial da UNESCO) e tão venerado como os famosos Pasteis de Belém que vieram do convento. Naquela altura não havia o mamarracho do Centro Cultural de Belém que amputou parte do jardim.
Passava Pedrouços, Algés (onde hoje faz terminal), o Aquário Vasco da Gama, Dafundo e chegava á Cruz Quebrada com o seu cruzeiro e ponte antiga.
Fazia terminal num descampado no Vale do Jamor e que dava acesso ao Estádio Nacional (que também era servido por uma estação de comboios, mas que só funcionava em dias de jogo).
Hoje liga a Praça da Figueira a Algés.

O 16 ligava o Poço do Bispo a Algés vindo pelas ruas paralelas interiores ao Porto de Lisboa pelo Beato, Xabregas, Convento Madre Deus, Cruz da Pedra, Santa Apolónia, Campo das Cebolas, Terreiro do Paço, Corpo Santo, São Paulo, Conde Barão, Santos e ai tomando a Avenida 24 Julho, Santos, Alcântara até ao Calvário, seguindo depois para Santo Amaro, Junqueira, Belém, Pedrouços e finalmente Algés onde fazia terminal onde hoje termina o 15. Era a maior carreira a circular usando eléctricos de 2 carruagens.
Foi uma das suprimidas em 18 de Novembro de 1991.

O 18, que ainda circula, foi dos que menos alteração a par do 15 sofreu. Ligava o Terreiro do Paço ao Cemitério da Ajuda.
Partia do lado nascente da praça e seguia o mesmo percurso da carreira 16 até ao largo do Calvário. Depois subia á Tapada da Ajuda com o seu belo pavilhão e o Instituto Superior de Agronomia, seguia-se o Alto de Santo Amaro e depois a descida vertiginosa para o Rio Seco (provavelmente uma ribeira antiga), e novamente a subida para o Largo da Boa Hora, com a sua igreja dum lado, e o mercado do outro, que tem um excelente restaurante açoriano.
Subia depois ao Palácio da Ajuda pela Calçada da Ajuda, terminando no largo fronteiro ao Cemitério da Ajuda. Hoje circula entre o Cais do Sodré e a Ajuda.

O 20 ligava o Largo Gomes Freire ao Cais do Sodré pela Rua Conde Redondo, Alexandre Herculano, São Mamede, Príncipe Real, Bairro Alto e Camões.
Era um dos eléctricos da sétima colina, e o único que passava em São Mamede passando pela igreja do santo.
O terminal no Cais do Sodré fazia-se na Praça Dque de Terceira.

O 22/23 era o eléctrico da circulação de São Bento. Subia toda a Rua de São Bento, a dos antiquários e da casa de Amália até ao Largo do Rato, entrando depois na Rua Alexandre Herculano com a sua sinagoga escondida, subia a Conde Redondo, chegando a Gomes Freire, descia pelo Campo Santana (ou Mártires da Pátria), Rua de São Lazaro passando junto aos hospitais de São José, São Lázaro e Desterro, e entrava no Martim Moniz.
Seguia-se a Baixa, Terreiro do Paço, Corpo Santo, Conde Barão e subia a Avenida Dom Carlos para a Assembleia da Republica, e voltava á Rua de São Bento.
Foi extinta em 23 de Maio de 1982.

O 24 era a carreira da antiga primeira circular, que percorria quase toda.
Embora na “bandeira” disse-se Rua da Alfândega, partia do Campo das Cebolas (em frente á Casa dos Bicos na altura de um só piso).
Seguia depois até Santa Apolónia pelo Chafariz de Dentro, e tomava a primeira circular mesmo antes do Convento da Madre Deus, pela Avenida Afonso III até ao Alto de São João. Depois de percorrer toda a Rua Morais Soares, atravessava a Praça do Chile e subia ao Arco do Cego pela Avenida Rovisco Pais, uma das que ladeia o Instituto Superior Técnico.
Ia depois até São Sebastião pela Avenida Duque D’Avila, passando junto á Pastelaria Versailles e dos jardins da Fundação Gilbenkian, subindo depois para Campolide e Amoreiras (ainda não havia o El Corte Inglês, nem o Amoreiras Shopping). Passava ao lado da estação de recolha da Carris (onde hoje é o Centro Comercial das Amoreiras), e descia pela Rua das Amoreiras (junto á Mãe de Água), Largo do Rato, Príncipe Real, Bairro Alto (e o seu belo miradouro de São Pedro de Alcântara) e chegando ao Largo Trindade Coelho, virava para a Rua Nova da Trindade, passando em frente ao Teatro Trindade e á cervejaria do mesmo nome, e acabava no Largo do Carmo junto ao topo norte do elevador de Santa Justa, e do Convento do Carmo, onde o Santo Condestável, D. Nuno Alvares Pereira acabou os seus dias.

O 25/26 eram os eléctricos da circulação da Estrela, de onde saiam em frente á Basílica e do jardim, subia a Campo de Ourique, que atravessava até ás Amoreiras, descendo depois ao Largo do Rato, seguiam o mesmo percurso do 22/23: Alexandre Herculano, Conde Redondo, Gomes Freire, Martim Moniz, Baixa, Terreiro do Paço, Corpo Santo, São Paulo, Conde Barão.
Seguia depois por Santos para a Lapa que subia (o chamado bairro das embaixadas e da famosa casa da loiça de Sacavém), até regressar á Basílica da Estrela.
Hoje circula entre o Campo das Cebolas e o Cemitério dos Prazeres.

O 27 ligava o Poço do Bispo a Campolide, utilizando o percurso do 3 e do 16 até á Igreja Madre Deus, que também é Museu do Azulejo e depois o do 24 até Campolide.
Foi extinta a 20 de Maio de 1990.

O 28 tinha quase o mesmo percurso que hoje, pois saia do Largo da Graça para o Cemitério dos Prazeres. Foi prolongado ao Martim Moniz devido ao cancelamento da 10/11.
Descia a Alfama pela Voz do Operário, Portas do Sol, Sé e Baixa, atravessando toda a Rua da Conceição. Na rua de São Julião (paralela para sul), a jóia da Igreja de Nossa Senhora da Oliveira com belos azulejos.
Segue-se a vertiginosa subida da Calçada de São Francisco, Largo da Academia das Belas Artes e os teatros São Luiz e São Carlos até ao Chiado.
Passando o Largo de Camões, local de desdobramento da carreira, a passagem pelo elevador da Bica, e a descida a pique pela Calçada do Combro até São Bento. Bairro Alto a norte Bica a sul, qual dos dois o mais típico. Oportunidade para espreitar o miradouro do Adamastor e a Igreja de Santa Catarina.
Sobe depois a íngreme Calçada da Estrela passando pelo Mosteiro de São Bento (parlamento) e pela Basílica da Estrela, onde se encontra o famoso presépio do século XVIII de Machado de Castro. A subida continua para Campo de Ourique com a sua Igreja do Santo Condestável e belos vitrais de Almada Negreiros, e finalmente o Cemitério dos Prazeres.

Finalmente o 29/30 eram os eléctricos do Bairro Alto, e ligavam o Príncipe Real á Estrela pelo Cais do Sodré, Santos e Lapa, depois da Estrela seguia o percurso do 25/26 até ao Largo do Rato por Campo de Ourique e Amoreiras, e bifurcava para o Príncipe Real.

Foi suprimida em 18 de Janeiro de 1991.

quarta-feira, abril 9

A última carreira de eléctricos que passava perto de casa de meus pais era o 19, que ligava a estação do Arco Cego á estação de comboios de Alcântara-Terra.
Tal como o 3 saia da estação de eléctricos que já foi encerrada, tendo sido depois transformada em central de expressos da Rodoviária Nacional, que sai assim da Avenida Casal Ribeiro já sem capacidade para tanto volume de tráfego. Hoje o terminal está na antiga estação de recolha do metropolitano em Sete Rios.
O percurso até ao Terreiro do Paço era idêntico ao da carreira 3: Estefânia, Jardim Constantino, Largo Santa Bárbara. Igreja dos Anjos, Martim Moniz e Baixa.

Pela Rua do Arsenal passava em frente ao edifício do município alfacinha e das inúmeras casas de venda de bacalhau, na altura existentes porta sim, porta não. Hoje poucas resistem.
Chegando ao Largo do Corpo Santo entrava na Rua de São Paulo passando debaixo da Rua do Alecrim, chegando á Igreja de São Paulo e o seu mini largo pombalino, que dá para as traseiras do Mercado da Ribeira, e para um excelente restaurante de frango assado mas com empregados a precisar de reciclagem.
Parava depois junto ao Elevador da Bica que foi aberto ao público no dia 28 de Junho de 1892, e que liga ao Largo do Calhariz, a sul do Bairro Alto.
Depois entrava na Rua da Boavista até ao Largo do Conde Barão (que era o Barão do Alvito), indo depois pelo Largo Vitorino Damásio até ao Largo de Santos onde existiam duas paragens, uma no jardim e outra no princípio da Calçada Ribeiro dos Santos.

Subia depois para a Igreja de Santos-o-Velho, que merece visita e entrava na Rua das Janelas Verdes, passando pelo magnifico fontanário e pelo Museu Nacional de Arte Antiga, o mais rico em espolio de arte portuguesa, e com um jardim-miradouro em frente com vista para o cais da Rocha Conde de Óbidos, entrando depois na Presidente Arriaga passando em frente á Igreja de São Francisco de Paula e descendo depois a Calçada da Pampulha atravessando por cima da Avenida Infante Santo.
Antes de chegar ao terminal passava pela Praça da Armada, com o seu largo típico de casas baixas com flores e trepadeiras. Este largo dá acesso á Tapada das Necessidades com miradouro em frente.
Acabava no pequeno largo junto á estação de Alcântara-Terra, numa altura em que a linha de cintura de Lisboa era desaproveitada e estava obsoleta. Fazia a “raquete” onde hoje pára a carreira de autocarros 773.
Antigamente ia até á estação de Santo Amaro, mas a ligação ao Calvário foi interrompida em 1966, aquando da construção do acesso á Ponte 25 de Abril.

Dia 7 de Abril de 1991 esta carreira foi suprimida. 

terça-feira, abril 8

Outra das carreiras de eléctricos que passava á “minha porta” era a 17, que chegou a ter carros de duas carruagens, que depois da “automatização”, a carruagem traseira só era acessível a utentes com passe social.
Ligava o Cemitério do Alto de São João ao Mosteiro dos Jerónimos em Belém.
Apanhava-se na parada em frente ao cemitério numa “raquete” feita para os eléctricos darem a volta. Logo depois a paragem conjunta com o 24 e o 27.
Entrava na Rua Morais Soares que percorria na totalidade até á Praça do Chile. Antigamente era uma rotunda, mas por ter sido alterada a configuração, houve a necessidade de utilizar as ruas adjacentes para o acesso á Avenida Almirante de Reis, que percorria até á Rua da Palma, onde havia uma paragem em frente ao Teatro Laura Alves, já desaparecido. Depois de lhe destruírem o Monumental destruíram o teatro com o seu nome, bela homenagem a uma das maiores actrizes de sempre.

Seguia-se o Largo de Martim Moniz, na altura com outro teatro, o Adoque, feito em barracões de madeira e onde se estrearam grandes actores, como a Maria Vieira. Hoje tem um mamarracho cheio de lojas “étnicas” e uns prédios que mais parecem as Obras de Santa Engrácia de tanto tempo que levam de construção.
Depois da baixa a paragem em frente á Rua Augusta, que tinha tráfego automóvel e era o acesso para o Rossio, a rua da Betesga tinha sentido contrário ao actual.
Entrava na Rua do Arsenal passando ao lado da Praça do Município, onde se encontra o pelourinho e a Câmara Municipal, e que era atravessada pelos autocarros que iam para a Rua dos Fanqueiros e a Rua da Madalena. Seguia até ao Corpo Santo onde está a velha igreja (a precisar de obras) e entrava depois no Cais do Sodré onde parava na Praça Duque de Terceira e no princípio da Avenida 24 de Julho, para servir a estação de comboios (na altura nem o metro, nem os barcos partiam daqui, apenas os ferries saiam da Avenida Ribeira das Naus).

Seguia depois, tal como hoje a carreira 15, toda a Avenida 24 de Julho até ao Calvário. Passa em frente ao Convento de Nossa Senhora da Pornunclia e debaixo da ponte 25 de Abril, chegando á estação de Santo Amaro, a única que hoje recolhe os carros eléctricos (as do Arco Cego e das Amoreiras foram encerradas devido ao massacre ocorrido com este meio de transporte).
Seguia depois para Belém pela Rua da Junqueira, passando em frente ao Hospital Egas Moniz e pelas traseiras do edifício da Cordoaria (o mais comprido do país)
Em Belém tinha 3 paragens: em frente ao Museu dos Coches, na Rua de Belém, e finalmente antes do Mosteiro dos Jerónimos, onde tinha outra “raquete” onde fazia terminal.

Foi depois prolongado a Algés, encurtado ao Campo das Cebolas e finalmente ao Martim Moniz até ser extinto.

domingo, abril 6

Outra carreira de eléctricos que passava perto de minha casa em miúdo, eram os da carreira 10/11 que faziam a circulação entre a Baixa e a Graça.
Como era uma carreira de circulação (havia mais 3, os 22/23, 25/26 e 29/30), e apanhava-se o número que servia mais rápido o destino que se queria ir.
Na paragem em que eu os apanhava, no Intendente, o 10 ias para sul em direcção á Praça da Figueira, e o 11 para norte em direcção á Graça. Fazendo o percurso na totalidade e tomando por opção o 11, subia a Almirante de Reis virando logo na rua Maria Andrade que subia virando depois para a rua Maria da Fonte, o 10 descia pela Rua Forno de Tijolo e Rua Maria, subindo depois a Angelina Vidal até Sapadores.

Na rua da Graça existiam duas paragens uma para acesso ao largo de Sapadores e ao Bairro Estrela de Ouro, e outra para o miradouro da Senhora do Monte, um dos mais bonitos e desconhecidos da cidade de Lisboa, onde reza a lenda D. Afonso Henriques e as tropas portuguesas partiram para a conquista do castelo aos mouros.
Depois entrava no Largo da Graça, de onde partia o 28, que foi prolongado ao Martim Moniz aquando da extinção do 10/11. Daqui tem-se acesso a outro miradouro, mais conhecido, o da Graça.
Descia depois á Voz do Operário e parava junto á Igreja de São Vicente de Fora, onde depois entrava em via única pelo topo nordeste de Alfama até ás Escola Gerais, onde está a Casa do Concelho da Pampilhosa da Serra, onde ia com os meus pais em miúdo (a minha família é originária deste concelho).
Seguia depois para as Portas do Sol, um dos miradouros mais fotografados da cidade, local privilegiado para ver os telhados de Alfama e o rio, e ponto de saída para quem quer ir ver o castelo.

Depois iniciava a descida para a Baixa. Primeiro o Miradouro de Santa Luzia, depois o Teatro Romano que foi descoberto acidentalmente aquando de obras na rua, a Sé, a Igreja de Santo António com a sua estátua do santo aquém atiram moedas (tradição recente) e antes de cruzar a rua da Madalena a igreja com o seu belo portal manuelino, sobrevivente do grande terramoto de 1755.
Paragem na rua da Conceição para depois virar para a Rua da Prata para a Praça da Figueira (descendo o 10 a rua dos Fanqueiros). Já não sou do tempo do mercado que se pode recordar no filme O Pátio das Cantigas (Dona Rosa, a sua filha chegou…), mas da estátua do rei D. João I na altura bem no centro da praça, posteriormente recolocado em frente á rua da Prata.
Entrava então no Martim Moniz, na altura com uma feira onde se vendia desde o chouriço ao piassaba, hoje no topo noroeste da Praça de Espanha.

Depois entrava na Rua da Palma e estávamos de volta ao Intendente. Volta completa.

quarta-feira, abril 2

Ainda sou do tempo dos eléctricos em Lisboa.
Recordo especialmente dos que ainda circulavam em 1976 quando comecei a andar de transportes públicos para me deslocar para outras partes da cidade e arredores.
Um dos que passava perto da minha porta era a carreira 3 que ligava ao Arco Cego ao Poço do Bispo.
Até 1975 funcionou até ao Bairro do Arco cego pela Avenida da Republica e Campo Pequeno.
Partia da estação de recolha de eléctricos do Arco Cego, hoje jardim e silo de automóveis, apanhando os primeiros passageiros na Rua Dona Estefânia, onde existia uma cobertura grande e verde que servia de protecção á paragem de eléctricos e autocarros.
Descia depois até ao largo Dona Estefânia, com o seu lago do Neptuno (que veio do centro da Praça do Chile, entrava pela Pascoal de Melo, contornava o Jardim Constantino, entrava na Passos Manuel, Largo de Santa Bárbara e chegava á avenida Almirante Reis onde passava pela Igreja dos Anjos, onde fui baptizado e fiz a primeira comunhão. Esta igreja veio para o local actual aquando da criação da Avenida Rainha Dona Amélia, que com a implantação da republica veio a ter o nome actual, em homenagem ao almirante Cândido dos Reis, mártir da republica. Em frente a Sopa dos Pobres.

Parava depois junto ao antigo cinema Roxy e ao largo do Intendente. Esta era a paragem que servia a casa de meus pais, e também a rua Antero Quental, de onde saiam carreiras da antiga Rodoviária Nacional para Caneças e Montemor, já no concelho de Loures, e que passavam por Odivelas (na altura ainda não era concelho).
Passando o chafariz do Intendente (agora recuperado) entrava na Rua da Palma e depois no largo do Martim Moniz que era muito diferente do que é hoje. Mantêm-se inalteradas as casas do lado da Mouraria e a capela da Senhora da Saúde.
Aí as linhas de eléctricos separavam-se, para norte utilizavam o Poço do Borratém, para sul a Rua Dom Duarte. A paragem da Praça da Figueira situava-se por detrás da Igreja de São Domingos para sul e no topo sul da praça para norte. Depois para sul utilizava a Rua dos Fanqueiros e para norte a da Prata (tal como hoje). Nessa altura a baixa tinha paragens de eléctricos e autocarros.

Entrava então na Rua da Alfândega em direcção a oriente, sendo a paragem do Terreiro do Paço no fim da Rua dos Fanqueiros para Poço do Bispo, e em frente ao Martinho da Arcada para o Arco Cego. Passava em frente á igreja da Conceição Velha (antiga Misericórdia Nova) com o seu belo portal manuelino, e Campo das Cebolas.
Depois ia sempre paralelo á Avenida Infante Dom Henrique até ao Poço do Bispo, servindo o velho Chafariz de Dentro, o Museu Militar, a estação de Santa Apolónia (na altura a única de onde saiam os comboios para as linhas do Norte, Beiras, Este e Internacionais), a estação Elevatória dos Barbadinhos, o Convento da Madre de Deus, Xabregas e Convento do Beato.
Fazia terminal em frente aos velhos armazéns do Abel Pereira da Fonseca.

Seria suprimida no dia 18 de Novembro de 1991.