segunda-feira, dezembro 2

Eu sou do tempo dos eléctricos em Lisboa.
Claro que já não eram tantos como nos anos 50 e 60, mais ainda se podia ir quase de uma ponta á outra da cidade em eléctrico.
E também sou do tempo dos autocarros de dois pisos.

Claro que muito melhorou a nível de transportes, e depois tiveram de acompanhar a evolução da cidade, e da área metropolitana, agora são mais rápidos e mais cómodos, mas não necessariamente eficazes, e que sirvam as necessidades das populações. Por vezes a falta de articulação entre os vários operadores, tanto a nível de paragens e horários, já para não falar de percursos e terminais, prejudica quem os usa.

Quando eu comecei a usar os transportes de Lisboa, em 1976, o metro acabava em Alvalade numa ponta, e em Sete Rios e Entrecampos noutra. Na estação da Rotunda (hoje Marquês de Pombal), fazia um Y e bifurcava, alternadamente, para os dois destinos, havendo entre Alvalade e a Rotunda painéis que indicavam o destino do próximo comboio, bem longe dos electrónicos de hoje.
Das 2 carruagens passou para 4 (em 1975), embora nem todas as estações tivessem cais para os acolher.
Nos terminais haviam interfaces de autocarros, de várias empresas, que levavam os passageiros para outros locais em Lisboa e arredores. Lembro-me das carreiras da Carris que tinham letras a seguir aos números (A, B e C), que na sua maioria só funcionavam ás horas de ponta dos dias úteis, sendo desdobramentos de carreiras já existentes.

Em Alvalade havia o 7A para a Calçada da Carriche servindo de reforço ao 7 que ligava o Cais do Sodre a Odivelas por Alvalade, o 7B para Sete Rios e que fazia toda a estrada do Paço do Lumiar e estrada da Luz, e o 17A para a Torrinha reforçando a carreira 17 que não ligava ao metro e que servia os bairros da Musgueira, Charneca, Galinheiras e acabava nos Fetais já no concelho de Loures.
Em Entrecampos havia o 17B, que partia do Campo Pequeno e ia para as Galinheiras pelo Lumiar e pela antiga estrada da Torre á Musgueira, ligando-se depois aos 17 e 17A, o 26A que pela segunda circular ia para a estação da Carris da Pontinha (não havia metro para a zona na altura), sendo a alternativa ao 26 que passa por Sete Rios, o 36A que ligava ao Bairro da Musgueira Norte, que não era servido por outros transportes, e o 46A que também pela segunda circular ligava á antiga estrada A-da-Damaia, e que separava o Bairro da Santa Cruz da Damaia, sendo reforço ao 46 que passa por Sete Rios.
Em Sete Rios havia o já citado 7B, o 16A que fazia reforço ao 16 que vinha da Praça do Chile e fazendo os dois o mesmo percurso acabavam na avenida Grão Vasco em Benfica, o 16B que na avenida do Uruguai bifurcava para o cemitério de Benfica, o 16C que servia a escola Delfim Santos e depois no Calhariz bifurcava para a Estação de Benfica dos comboios e acabava no Bairro de Santa Cruz que não era servido por mais nenhum transporte, e por fim o 41A que era um desdobramento da 41 e que ambas faziam o mesmo percurso pela estrada da Luz para a Pontinha e depois acabavam no Bairro Padre Cruz.

Os comboios eram maus e não circulavam na ponte 25 de Abril, pelo que para sul tinha-se de apanhar o barco para o Barreiro, e não havia Alfas nem Intercidades. A linha de cintura era velha e obsoleta, havia apenas apeadeiros sem ligações aos autocarros ou ao metro, excepto o do Areeiro onde tinha terminal o 27 da Carris, e o de Campolide Sul (sim que havia duas estações em Campolide), onde passavam os que iam para o Bairro da Serafina, o 13 e o 20. Havia estações no Rêgo (não façam piadas sobre isto LOL), na Cruz da Pedra, nos Olivais, em Cabo Ruivo, em Pedrouços, hoje extintas.

Os barcos eram antigos e lentos, para o Montijo demorava-se uma hora na melhor das hipóteses, e havia barcos directos para o Porto Brandão aos dias de semana.

Os eléctricos eram bastantes. Lembro-me do 3 que ligava a estação de eléctricos do Arco do Cego ao Poço do Bispo, o 10/11 que fazia a circulação entre a Graça e a Baixa, o 12 que ligava o Martin Moniz a São Tomé onde havia uma entrada para o castelo de São Jorge, numa altura em que a entrada era livre, o 15 que partia do Terreiro do Paço para o Estádio Nacional onde fazia um curioso terminal no meio do mato, literalmente, o 16 que ia do Poço do Bispo até Algés, o 17 que ligava o cemitério do Alto de São João ao Mosteiro dos Jerónimos, o 18 da Praça do Comércio até ao Cemitério da Ajuda, o 19 do Arco do Cego á estação dos comboios de Alcântara-Terra, o 20 do largo do Gomes Freire ao Cais do Sodre pelo Bairro Alto, o 22/23 que fazia a circulação entre São Bento, Gomes Freire e a Baixa, o 24 que ligava o Campo das Cebolas (embora indica-se Rua da Alfândega o que nunca entendi), ao largo do Carmo (que pena estar dependente do elevador hoje em dia), circulando pela toda a antiga primeira circular de Lisboa, o 25/26 que fazia a circulação entre o Largo da Estrela, Campo de Ourique, Amoreiras, Gomes Freire e Baixa, o 27 que ia do Poço do Bispo ao Alto de Campolide, o 28 que partia do Largo da Graça para o Cemitério dos Prazeres, e finalmente o 29/30 que ligava a Estrela ao Cais do Sodré por Campo de Ourique, Amoreiras e Bairro Alto.
Hoje só o 12, 15, 18, 25 e 28 circulam com pequenas alterações de percurso e encurtamentos.


Posso compreender que as cidades e as necessidades das suas populações se alterem, mas não posso desculpar que os autocarros de dois pisos e os eléctricos tenham desaparecido, ou sejam só para turistas.

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