quarta-feira, agosto 15


O que é que eu quero da minha vida? Fazer a diferença.

Como todo aquele que sabe ser diferente da maioria, passei parte da minha vida a tentar encaixar-me neste mundo, que em parte me renega, outra parte me odeia, outra me tolera.

Mas eu não quero ser tolerado, quero que me respeitem, e me amem por aquilo que sou.
O facto de ser voluntário da ILGA, e activista LGBT não é por acaso, é uma consequência, um fim, para onde caminhei sem dar por isso, por ter sido tão natural e tão inevitável.
Todo o carinho que tenho recebido por parte da comunidade LGBT tem-me recompensado, incentivado e confirmado que vou no caminho certo. Não sou nem quero ser uma “estrela cadente”, não faz parte do meu carácter. Quero sim ser e estar, no lugar certo para fazer a coisa certa.
Quando me perguntam o que queres fazer, respondo sempre, o que for preciso.

Sempre quis, e continuo a querer, ser a razão para os outros serem melhores. Por isso incentivo as suas qualidades, digo-lhes na cara, mimo-os, tento que não se percam neste mundo egocêntrico, insensível aos outros.
Ainda á pouco tempo vi um miúdo cair de uma mota em pleno dia de chuva, e ninguém lhe acudiu. Para mim foi uma coisa natural fazê-lo, nem podia olhar para o lado sem saber se ele estava e ficava bem, era imperativo que o fizesse, não o fazer ia tirar a humanidade que está em mim, e da qual não quero prescindir.
Não posso passar ao lado do sofrimento alheio, do que precisa de mim, é como desumanizarem-me.

Sei que para muitos sou um ser estranho, misto de estúpido e tonto, mas sei que estou cá para os outros. Porque é deles que recebo o que me alimenta a alma e o cérebro. Os afectos.
Se não entendem isso, se não me entendem, lamento dizer-vos que estão errados. Sempre soube que a razão está do lado do bem. E eu quero sempre ter razão.
E não bastam as palavras bonitas, tem de se traduzir em actos.
Se pensam que não é necessário darem de vós aos outros, lembrem-se que para receber é preciso dar. Não se vitimem depois quando precisarem dos outros e só virem deserto á vossa volta.

segunda-feira, agosto 13


Há momentos na vida que tornam insignificantes e fúteis as nossas penas, são aqueles que vivemos com os amigos.
Esses momentos de alegria e partilha são paliativos para as agruras, para as feridas que os outros nos causam. Diante deles afasto os meus pesares e a minha raiva contra as bestas deste mundo. Aqueles que tiram prazer em tirar a dignidade aos outros, que é uma forma de matar sem matá-los.

Aos que tem bens avultados, poder, tudo lhes é perdoado, todos os vícios são permitidos. Ao pobre, ao fraco, dizem-lhe como há-de viver, como se há-de comportar.
O desprezo pelo outro, que chega mesmo ao ódio, não dão mostras de abrandarem, muitas vezes tendo mesmo os sintomas de uma epidemia.
O facto de não me correr bem o dia, não me dá o direito de ser indelicado com os outros. Os amargos de boca são meus, e lá se devem curar. Nestas alturas são os amigos que me adoçam a boca.
Não consigo odiar ninguém, mas não me peçam para gostar de quem só me dá amargos de boca.

Porque teimam em querer humilhar e maltratar as pessoas? Porque teimam eles?
IDIOTAS!

domingo, agosto 12


Muitas vezes me lembro da janela de casa de meus pais, onde via os outros meninos a brincar na rua, e para onde eu era proibido de ir.
Não era com medo que eu me magoasse, era para não verem as marcas da violência de que era sujeito pela minha mãe.
Não admira que eu urinasse na cama até aos 11 anos de idade, e que era mais um motivo de porrada e humilhação., a “menina Joaninha” como me chamavam…
De tanta violência e falta de amor e carinho, até admira que seja um ser tão afectuoso (ou se calhar não!), mas ai de quem abuse. Ou me negue uma resposta aos meus afectos. Fica automaticamente arredado da minha vida.

Não tive uma infância, tive um purgatório.
Enquanto pensei que o que me faziam era usual, normal, fui aguentando.
Quando percebi que o não era, uma dor e uma revolta apoderou-se de mim.
Hoje rio de quem me fez sofrer, não porque lhes tenha perdoado, mas porque não me venceram, não me tornei igual a eles, ou pior. Escolhi o caminho que achei mais certo.

Sempre foram muito caladas as alegrias da minha infância. O choro, esse dava para encher um lago. Ainda hoje só choro de alegria e emoção á frente dos outros, o choro de tristeza e dor é só para mim, quando estou sozinho, pois foi assim que aprendi.
Lembra-me de sonhar muitas vezes, demasiadas vezes, que eu não era eu, era outro corpo, que me libertava de todo aquele sofrimento. E sonhava…
Ainda hoje passados tantos anos, me pergunto porque passei eu por tudo aquilo, que fiz eu para merecer tal.
E sei que não há respostas…

sábado, agosto 11


Há pessoas que são tão estéreis que metem dó.
Estéreis de afectos e inteligência.

Já disse, e acredito com convicção, que para ser meu amigo, não é necessário ser-se belo(a), rico ou poderoso/influente., basta ser bondoso e generoso, que não é bem a mesma coisa.
Através da bondade e da generosidade recebi tudo o que me tem feito uma pessoa feliz, retribuo e dou em doses generosas o mesmo, pois quem tudo recebe e nada dá é um deserto. E eu não sou um ser estéril.

E não teremos todos nós um papel na transformação do mundo? Eu acredito que tenho um papel neste mundo, o de valorizar os bondosos e justos. Não acredito no politicamente correcto, acredito na justeza, na bondade humana, e acredito de tal forma que aposto a minha vida se for preciso.

quinta-feira, agosto 9


Não sei o que os outros vêem em mim.
Sei que não sou uma pessoa atraente fisicamente, especialmente dotado em nada de especial, mas sei o que quero.
E o que quero é amar e ser amado, ter as pessoas de qualidade comigo. Aprender com elas e partilhar momentos na sua companhia.
E que melhores arvores me poderia eu encostar? À dos meus amigos, naqueles em que vejo os valores humanos que defendo, e luto, com unhas e dentes. Aqueles que me ensinaram.

Graças a mim não fui aquilo que a minha família queria, fui, sou, aquilo que quero na medida das minhas possibilidades, com quem quero e quando quero.
Não troco os meus amigos, que amo de paixão, pela minha família, nem por nada deste mundo.
Se Deus existe que me julgue pelos meus actos. Tenho a consciência tranquila de que tenho feito o bem, pois é ele que me salva de ser uma besta.

quarta-feira, agosto 8


Porque não sou como os meus familiares? Porque não segui o caminho para mim escolhido? Porque razão sou tão diferente do meu irmão?
Tive a mesma (des) educação que ele, sofremos ambos as mesmas agruras da infância provocadas pela minha mãe. Mas um tornou-se igual a eles, e eu segui o caminho oposto. Para mim o que segui fazia-me mais sentido.
Nunca me revi na falta de valores da minha família, na sua falta de escrúpulos, na total ausência de amor, que as cargas de porrada e torturas da minha mãe, infligidas aos filhos, lembraram a toda a hora.

De minha mãe, de meu pai, dos meus avós, nunca recebi carinho, amor ou qualquer estima. A revelação da minha homossexualidade agravou a situação.
Toda a educação, todo o meu carácter, toda a minha moral, bondade e generosidade, recebi-a e foi-me ensinada por estranhos. A eles devo a minha formação moral, e os valores por onde guio a minha vida.
Sou a prova viva de que ser filho de alguém não é necessariamente um salvo-conduto para se ter um carácter igual.
Aquilo que recebi da minha família não me tornou igual a eles, não me interessava a sua visão do mundo. No fim fui e sou dono da minha cabeça, do caminho que quero seguir, mesmo que enorme obstáculos se atravessem á minha frente, hei-de afastá-los do meu caminho ou contorná-los.

Se sou lutador, se tenho coragem, não sei. Já disse que não posso passar ao lado da coragem, viver livre no pensamento é sinal de coragem. Os outros que avaliem o meu carácter.
Eu por mim quero ser livre, viver livre, pensar livremente, mandar na minha cabeça.
Apesar da nódoa que é a minha família, sinto-me limpo como a neve.

segunda-feira, agosto 6

Ser homem
O que é ser homem?
Serão os cromossomas? O facto de se ter um pénis? O ser macho e gostar de vaginas?

Para mim ser homem é ser honrado, ter carácter, simplicidade natural, tratar todos por igual, sejam feios ou bonitos, pobres ou ricos, famosos ou anónimos.
Ajudar os fracos, defendê-los dos opressores, torná-los fortes.
O verdadeiro homem não ajuda os fracos, protege-os. Mantêm-se fiel aos seus princípios, á sua moral, faz do seu discurso acção, não trai os amigos, é verdadeiro e frontal. Aceita os seu defeitos e os dos outros. e tenta suprimi-los.
Ser homem não é fácil, mas é preciso.

Ser homem é ser bondoso, mostrar afectos, apostar neles. Isso só o fortalece, não o enfraquece, nem o diminui.
Ser homem é ter carácter, não ser escravo da riqueza material, apenas procurar a riqueza mental, a da sabedoria, e essencialmente a dos afectos.
Ser homem é seguir o seu caminho, sem atropelar ninguém, ter carácter justo e sincero.
Ser homem é ser livre, defender a liberdade alheia, ser digno  e defender a dignidade humana, acusar e agir contra as arbitrariedades, lutar e resistir contra os tiranos.
Ser homem é por vezes estar só... 

Mas também é conquistar os outros homens (e mulheres), como amigos, ter o seu respeito e afecto.
Os  meus amigos são bons, irradiam bondade e simpatia e carácter. São de confiança, são dignos.
São eles que me fazem ser homem, que me comovem com os seus afectos, me protegem com os seus abraços, me fazem rir com o seu humor. Com eles vivo o mundo da bondade, alegria e de paz, um mundo perfeito, em que sou feliz. São eles que me dão força para vencer o mal.
São eles que me ajudam a ser um HOMEM.

domingo, agosto 5

Nada nos faz acreditar mais do que o medo, a certeza.
Quando nos sentimos vítimas, todas as nossas acções e crenças são legitimadas, por mais questionáveis que sejam. A inveja, a cobiça ou o ressentimento que nos movem ficam santificados, porque pensamos que agimos em defesa própria.
O mal, a ameaça, está sempre no outro.
O primeiro passo para acreditar apaixonadamente é o medo. O medo de perdermos a nossa identidade, a nossa vida, a nossa condição ou as nossas crenças. O medo é a pólvora e o ódio o rastilho.
Flutuamos ao mínimo sopro. De circunstâncias duvidosas, fazemos certezas que nos aterrorizam. Como a justa medida não é do nosso feitio, instantaneamente uma inquietude se converte em medo
O pior medo é o medo de nós próprios e a pior opressão é a auto-opressão. Antes de se tentar lutar contra qualquer outra coisa, penso que é importante conquistarmos a liberdade de não termos medo de nós próprios
Não tenhas medo do passado. Se as pessoas te disserem que ele é irrevogável, não acredites nelas. O passado, o presente e o futuro não são mais do que um momento. O tempo e o espaço, são meras condições acidentais A imaginação pode transcendê-las, e mais. Também as coisas são na sua essência aquilo em que decidimos torná-las. Uma coisa é segundo o modo como olhamos para ela

segunda-feira, julho 30



Sou abençoado porque possuo amigos, tenho-os sem os pedir. Porque um amigo não se pede, não se compra, nem se vende. Amigo ganha-se, conquista-se.
Benditos os momentos que sofro pelos amigos, porque os tenho. Porque um amigo não se cala, não questiona, nem se rende, apenas entrega o ombro para o amigo chorar.
Porque um amigo sofre e chora com o amigo. Para o amigo não há horas.

Benditos sejam os meus amigos que acreditam na minha verdade e que me apontam a realidade. Porque os meus amigos apontam-me a direcção. Os meus amigos são o meu chão!
Ter amigos é a melhor cumplicidade!
Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho, outras sorriem por saberem que os espinhos têm rosas!



Para que serve um amigo? Para tudo e para nada. Para te fazer feliz e te curar da infelicidade, para te reparar e para tu cuidares dele.
Um amigo partilha lembranças, crises de choro, experiências, culpas e segredos.
Um amigo empresta o ombro, empresta o tempo, empresta o calor e a ternura, dá a palavra sábia. A um amigo recomenda-se.
Um amigo leva-te para o mundo dele, e entra no teu.
Um amigo segura na tua mão, leva o teu coração nas mãos dele, e coloca-o numa redoma para ele não se magoar



Os meus amigos são assim, amém.

domingo, julho 29


Das muitas coisas que a vida me ensinou foi a que por vezes temos que desistir de certas coisas, ou pessoas, para seguirmos em frente.
Não digo que seja fácil, por vezes dói como um raio. Mas é como um remédio que se tem de tomar para nos curarmos, sabe mal mas tem de se engolir.
É isto que me permite sobreviver a esta selva que é o mundo.

Este ano foi o ano mais feliz da minha vida.
Mudei fisicamente, tornando mais eu, passei a olhar para mim ao espelho e não ficar triste.
Também foi o ano em que me tornei um DARK HORSE. Uma experiência na minha vida que nunca sonhei sequer poder vir a acontecer.
Aos poucos e poucos fui ganhando batalhas e os corações dos meus companheiros, que me foram vendo como um igual entre iguais.
Do torneio dos emergentes ao PITCH BEACH foram emoções atrás de emoções, batalhas atrás de batalhas que fomos vencendo, que eu fui vencendo. Foi um descobrir coisas em mim e nos outros, que me fez ganhar companheiros, mas mais importante, amigos, amigos para a vida, pois só assim encaro a amizade.
Os Dark Horses tornaram-me um homem melhor, mais feliz, mais confiante. Estou com eles para ficar até que não me restem forças no meu corpo para os acompanhar, e ajudar a serem os fantásticos seres que são.
Vou sentir a sua falta neste mês de paragem para descanso, mas sinto que consegui atingir os objectivos a que me propus, mas vou desafiar-me e conseguir mais e melhor, pois os meus companheiros merecem.
Só quero que eles saibam que me fazem feliz, e que eu os amo como irmãos.
Aquilo que me deram foi algo de grandioso que só posso retribuir estando sempre disponível para os ajudar a serem melhores.
Obrigado companheiros, amigos.

DARK HORSES!

domingo, junho 24



Os ideais que me iluminam e me enchem incessantemente de alegre coragem de viver foram sempre a bondade, a beleza e a verdade. Sem o sentimento de harmonia com aqueles que têm as mesmas convicções, a vida ter-me-ia parecido vazia. Os banais esforços humanos de propriedade, êxito exterior e luxo pareceram-me desprezíveis.
Quando reflectimos sobre a brevidade e a incerteza da vida, parecem-me desprezíveis todos os nossos anseios de felicidade.
 Juntar todas as pessoas num molho é trabalho menos complicado do que o de personalizar cada uma delas.
E evita que pensemos, o que para muitos é complicado. 

Parece-me quase natural o facto de vermos defeitos nos outros e fazermos juízos pouco agradáveis. Porque temos, o direito de as avaliar segundo os nossos padrões e, em tais situações, mesmo as pessoas compreensivas e moderadas dificilmente se abstêm de fazer uma crítica.
Mas muitas vezes quando se tentar entender a outra pessoa no seu ambiente, no que realmente é através do seu percurso, e na maneira como ela se adaptou e sobreviveu, só por má vontade ou por manifesta incompreensão se pode criticar aquilo que, não pôde deixar de nos parecer, por mais que uma razão, digno de ser criticado. O indivíduo mais limitado pode ser completo, se se move dentro das fronteiras das suas capacidades e das suas disposições pessoais.



É verdade que não são as circunstâncias que definem a nossa vida, mas fazem-nos seguir caminhos.
Eu sempre escolhi o do diálogo e da compreensão, o do conflito nunca me trouxe nada de bom. E mesmo os que ganhei, acabei por perder, pois ficou um vazio de razão que não me preencheu.
A vida, que é, antes de tudo, o que podemos ser, vida possível, é também, e por isso mesmo, decidir entre as possibilidades o que em efeito vamos ser.
Não somos arremessados para a existência como uma bala, cuja trajectória está absolutamente predeterminada.
Surpreendente a vida! Viver é sentir-se forçado a exercitar a liberdade, a decidir o que vamos ser neste mundo. Nem um só instante se pode deixar descansar a nossa obrigação de tomar decisões, mesmo quando desesperados decidimos não decidir.



E quem decide é o nosso carácter.
Um homem louco é aquele cuja maneira de pensar e agir não se coaduna.
Há pequenas impressões, finas como um cabelo e que, uma vez compreendidas, evitam muito sofrimento e quezílias inúteis.

quarta-feira, junho 13


A Europa a afundar-se arrastando a economia, e o país preocupado com o futebol. "Somos os maiores", no desemprego? na injustiça? na desigualdade social? na falta de transparência? na corrupção? na abstenção? no abandono escolar? na iliteracia? na desresponsabilização? no desenrasca?

AH LÀ ISSO SOMOS. E depois quando nos dizem as verdades ficamos irritados e "lá vêem os profetas da desgraça". Já diz o ditado "o pior cego é aquele que não quer ver". Ganhamos um jogo e somos os maiores, e vamos resolver a "crise" do país.
Deve ser a dos ricos (jogadores da selecção incluídos). Porque amanhã a taxa de desemprego vai continuar a subir, a desigualdade também, e os meninos da selecção vão poder continuar a viver a sua vida de lordes, como os tugas vão continuar a bajulá-los, ou a crucificá-los, dependendo se ganham ou perdem.


Ontem vi escrito na casa de banho de um bar, “Não entendo o que é isso do Orgulho Gay? Orgulho em ser gay? Em acho uma coisa normal”.
Entendo que ache ser gay uma coisa normal, porque o é; agora o não entender o que é ter orgulho em ser gay… ou é um privilegiado ou é estúpido.

Eu tenho orgulho em ser gay porque não tenho vergonha de o ser, porque tenho orgulho em mim, por ter sempre lutado para me respeitarem, contra o preconceito, a maldade, o desrespeito que muitos me quiseram tratar.
Só quem não viveu, e lutou, para que o respeito pela orientação sexual fosse igual, é que não compreende o Orgulho Gay. Muitos falam como se fosse igual a vida para um gay ou para um hetero. NÂO, NÂO é. Infelizmente ainda não é…
Quando eu tinha 18 anos éramos presos por sermos gays, e levados para as esquadras, e humilhados e ouvíamos se queríamos levar com o cassetete pelo cu acima , (embora acredito que muitos quisessem).
Só quem não passou pela expulsão da família, por agressões brutais, pela humilhação, pela perda do emprego, pela negação simples a mostrar os afectos por uma pessoa que se ama livremente na rua, pode perguntar ou criticar quem se ache no direito de ter orgulho em ser gay.

Eu tenho orgulho em ser gay, porque apesar de tudo aquilo que me fizeram sofrer, sou um ser equilibrado, um bom ser humano, soube lutar e venci, fui melhor que eles.
Tenho sim orgulho, e vou continuar a lutar para que outros o tenham.

António Variações - Perdi a memória

domingo, junho 10




Alguns ouvem com as orelhas, outros com o estômago, outros com o bolso e alguns, simplesmente, não ouvem.

O silêncio do invejoso está cheio de ruídos.



Protegei-me da sabedoria que não chora, da inteligencia que não ri e da grandeza que não se inclina perante os mais fracos.



Algumas vezes do mal nasce algum bem, e do bem, algum mal. O presente é nosso, por isso não nos serve de alívio o bem futuro, nem nos deve inquietar o mal futuro



Uma pessoa realista não se ilude mas também não pode deixar de ter esperança. Se fizermos uma reflexão, sabemos o pouco que basta para fazer o nosso bem, ou o nosso mal: de um instante a outro mudamos da alegria para a tristeza, e muitas vezes sem motivo digno disso, que o de uma vaidade mais, ou menos satisfeita.



Os homens não são todos igualmente sensíveis ao bem, e ao mal, a uns penetra mais vivamente a dor, a outros só faz uma impressão ligeira. O bem não acha em todos o mesmo grau de contentamento.

No carácter há a mesma diferença, uns mais débeis, e outros mais robustos, por isso uns são mais sentimento, e outros mais resistência, nuns domina a vaidade e em outros a vaidade é uma coisa natural

A vaidade é um ímpeto, um vício sossegado, e sem desordem.
  

quinta-feira, junho 7

Como pode ser-se idiota e, ao mesmo tempo, feliz?

A idiotice e a felicidade estão ligadas, muito ligadas.
O idiota tem segurança em si próprio que o leva, a considerar-se uma pessoa sempre certa, com razão e de beatitude muito próxima do ele considera ser superior.
Assim sendo, não vejo incompatibilidade entre o ser-se idiota e o ser-se feliz. Bem sei que há várias maneiras de se chegar a idiota. Já foram experimentadas comigo.

João, não penses. Se começas a pensar estragas tudo.
Não quero dizer, com isto, que não acredite na felicidade. Mas não consigo afirmar-me como um grande idiota.

Agora que muitos, de certeza, querem fazer de mim outro idiota. Não por desejarem reconverter-me, mas para aconselharem-me, a eu não pensar, principalmente não pensar.
Se tivesse seguido o caminho para mim traçado, talvez tivesse sido feliz - não se sabe - idiota e feliz. Assim, fiquei longos anos idiota e infeliz, infeliz por ser idiota e saber que o era e que não podia deixar de o ser. Ora, um idiota que é infeliz por saber que é idiota já pode estar a caminho de deixar de o ser. É uma possibilidade. É a tal luz no fundo do túnel, como se disse tantas vezes a propósito da situação económica deste idiota de país.

Há idiotas que se consideram inteligentíssimos, o que é uma forma muito comum de idiotia, e extraem dessa certeza uma felicidade, que consiste em uma pessoa se julgar muito superior às que a rodeiam.
Os idiotas, de modo geral, não fazem um mal por aí além, mas, se detêm poder e chegam a ser felizes em demasia podem tornar-se perigosos. É que um idiota, ainda por cima feliz, ainda por cima como poder, é, quase sempre, um perigo.
Oremos.
Oremos para que o idiota só muito raramente se sinta feliz. Também, coitado, há-de ter, volta e meia, que sentir-se qualquer coisa.

domingo, junho 3



Os donos da razão, todos os dias os encontro.

Evito-os, embora ás vezes sou obrigado a escutá-los, a dialogar com eles. Já não me enganam. Contam-me vitórias. Querem vencer, querem, convencidos, convencer. Vençam lá, à vontade. Sobretudo, vençam sem me chatear.


Convencidos da vida há-os, em toda a parte, eles estão convictos da sua excelência, da sua razão magnânima dos seus actos de que são, os melhores.
Praticam, uns com os outros esse convencimento, e precisam de espectadores, necessitam de “dar nas vistas”, ser o foco das atenções. E não admite que está errado, e não ouve os outros, os outros para ele são simples ouvintes.

Faz “amizades” conforme lhe for mais útil, conforme a disponibilidade e a pachorra de lhe seguirem o raciocínio.

Dizem as piores asneiras com o ar mais convencido do mundo, e pensam que todos nós, seres inferiores a eles, acreditamos. Cultivam a sua vaidade baseada na ignorância de certos sinais ou etiquetas de casta, de classe, e julga-se mais hábil do que qualquer outro.
Daí que não seja tão raro um convencido da vida fazer piruetas, e contradizer-se, para de novo ser, com toda a plenitude, o convencido da vida que, afinal... sempre foi.

sábado, junho 2



O que é mais proveitoso, representar o mundo como pequeno ou como grande?



Para mim sempre foi claro ver na humanidade qualquer coisa de grande, de magnífico e de importante, digna de todos os zelos e de todos os esforços, que vejo com consideração e estima.

Sempre foi essa sensação, essa ideia, essa certeza, que me fez avançar, que me fez tornar melhor ser humano, na tentativa (sei que vã) de me tornar um ser perfeito. Acreditar que posso ser melhor, e tornar nesse processo, os outros melhores, tem sido o meu catalizador para tornar a minha infância e juventude de dor e sofrimento, numa vida dedicada aos outros. Porque se há uma coisa que sei nesta vida, é que a minha salvação está nos outros, e só neles, nos afectos e em tudo o que de bom vou conseguir dos outros seres humanos. E eu sei que vou.



Isto não me isenta de certa depreciação de mim mesmo e do mundo, uma espécie de mal-estar, em que o mundo, sorrindo, me vê como um rapaz ingénuo e tolo.

Mas a minha confiança e fervor em que acredito que o ser humano tem salvação, que é bom estar vivo e acreditar na bondade dos outros, oferecem-me vantagens consideráveis. Não concedo grande importância às coisas mas aos actos, aos sentimentos. Além disso, os meus pensamentos e o meu comportamento são causa de uma (aparente) seriedade, duma paixão e de um tal sentimento de responsabilidade que, tornando-me ao mesmo tempo um homem amável, não me fazem esquecer, nem descurar, do que podem fazer as pessoa mais vis.