quinta-feira, junho 7

Como pode ser-se idiota e, ao mesmo tempo, feliz?

A idiotice e a felicidade estão ligadas, muito ligadas.
O idiota tem segurança em si próprio que o leva, a considerar-se uma pessoa sempre certa, com razão e de beatitude muito próxima do ele considera ser superior.
Assim sendo, não vejo incompatibilidade entre o ser-se idiota e o ser-se feliz. Bem sei que há várias maneiras de se chegar a idiota. Já foram experimentadas comigo.

João, não penses. Se começas a pensar estragas tudo.
Não quero dizer, com isto, que não acredite na felicidade. Mas não consigo afirmar-me como um grande idiota.

Agora que muitos, de certeza, querem fazer de mim outro idiota. Não por desejarem reconverter-me, mas para aconselharem-me, a eu não pensar, principalmente não pensar.
Se tivesse seguido o caminho para mim traçado, talvez tivesse sido feliz - não se sabe - idiota e feliz. Assim, fiquei longos anos idiota e infeliz, infeliz por ser idiota e saber que o era e que não podia deixar de o ser. Ora, um idiota que é infeliz por saber que é idiota já pode estar a caminho de deixar de o ser. É uma possibilidade. É a tal luz no fundo do túnel, como se disse tantas vezes a propósito da situação económica deste idiota de país.

Há idiotas que se consideram inteligentíssimos, o que é uma forma muito comum de idiotia, e extraem dessa certeza uma felicidade, que consiste em uma pessoa se julgar muito superior às que a rodeiam.
Os idiotas, de modo geral, não fazem um mal por aí além, mas, se detêm poder e chegam a ser felizes em demasia podem tornar-se perigosos. É que um idiota, ainda por cima feliz, ainda por cima como poder, é, quase sempre, um perigo.
Oremos.
Oremos para que o idiota só muito raramente se sinta feliz. Também, coitado, há-de ter, volta e meia, que sentir-se qualquer coisa.

Sem comentários: