sexta-feira, setembro 2


Faz hoje uma semana que me disseram o seguinte: “Afinal enganei-me a teu respeito, tu és um tipo decente”.

Nunca ninguém me definiu tão bem. Realmente revejo-me como um tipo decente.
Mas estará o mundo preparado para tipos decentes?

Sempre na minha vida tentei ser o mais correcto possível, o mais honesto possível, ter a moral e os princípios certos, que para mim são aqueles que tem a ver com a bondade, a liberdade, a igualdade, enfim os valores que devem ser os humanos.
Até agora não me convenceram de que existem outros melhores, (continuo á espera que me provem que existem outros melhores do que estes), e por isso tento reger a minha vida por estes.
Mas parece que assusto as pessoas, que lhes peço algo de impossível. Ou me julgam arrogante e presunçoso, ou então fogem de mim, como se eu viesse de outro planeta e tivesse uma doença mortal e contagiosa.

Pedem-me que seja mais moderado na minha maneira de mostrar os meus sentimentos, como se isso fosse uma atitude negativa e prejudicial, como se fosse uma afronta. Afastam-se de mim ou melhor, ignoram-me. Acham que eu estou a colocar-lhes uma fasquia alta, mas não é a eles que eu coloco a fasquia alta, é a mim.
Se há uma coisa na vida que aprendi foi a dar muito de mim, e a esperar pouco dos outros. Evita-me muito sofrimento e muitas dores de cabeça.
Não pretendo ser a vida dos outros, só quero ser a melhor parte, a boa parte.
Se não entendem isso, perdoem-me. Ou eu não me sei explicar (e por isso digo que não sou muito inteligente), ou então ando errado, mas não vejo dos outros qualquer explicação que me convença disso, bons argumentos que me levem a mudar de ideias.
Deve haver outra maneira de me salvar, senão estou perdido…

Mas não pensem que sou um gajo triste e derrotado, bem pelo contrário. O facto de eu expressar as minhas dores de alma, não significa que me deixe levar por elas.
Já passei por muita merda, e sempre consegui brilhar. Ao contrário do meu irmão, que teve a mesma infância infeliz de falta de amor e carinho, e com porrada e torturas, eu não me tornei, como ele, uma pessoa dissimulada, rancorosa, má, egoísta. Tornei-me um bom ser humano, bondoso, corajoso, afável.
Mas não me faltem ao respeito, que isso eu não admito, a ninguém…

Se não me compreendem, ou se vos assusto, tenho pena. Não quero por nada fazê-lo. Mas também não quero deixar de ser quem sou, de acreditar nos meus valores, que continuo á espera que me dêem outros melhores, a agir conforme o meu coração.
Sei que sou boa pessoa, sei que sou um tipo decente. Quero sê-lo. Não quero ser algo que não sou, só para sossegar os inquietos. Eu sou assim, se me quiserem amar, eu estou aqui inteiro, integro, sou todo vosso, serei o vosso amigo, o vosso companheiro, se não, desejo-vos que encontrem o vosso caminho para a felicidade. Se não vos faço falta, se não me querem nas vossas vidas, não serei eu que me vou impingir.
Se eu vos amo por aquilo que vós sois, amem-me por aquilo que sou, com todas as qualidades que tenho (e são boas) e com todos os defeitos que tenho (que são poucos).
Quero relacionar-me com as pessoas sem muros, ser descarado, rir e chorar com elas, ser autêntico. Todas as outras formas fazem de mim prisioneiro, e eu amo demasiado a liberdade para me prender, para ficar cativo de sentimentos que me são estranhos e aberrantes.

Sei que me vou magoar, mas irei sê-lo de qualquer forma, a vida não é um piquenique.
E para tipos decentes não é de certeza.

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