quinta-feira, maio 8

Um dos filmes mais belos que vi na vida foi Baleias de Agosto (The Walles of August), Todo o filme é de uma ternura comovente.
Primeiro pelos encantadores desempenhos das lendas vivas que são Bette Davis, Lilian Gish, Vicent Price e Ann Sothern, depois porque é raro ver um filme só com papeis para actores de terceira idade, numa homenagem á velhice e ás longas amizades.
Sempre que o vejo comovo-me, todos os actores representam duma forma tão simples, que nos esquecemos que o são, e os diálogos são de uma acutilância e beleza, que nos dão varias lições de vida.

Bette Davis faz de Libby, uma mulher cega, pouco maternal, um bocado amarga, astuta, com uma enorme e bela cabeleira branca e um pouco caprichosa.
Lilian Gish faz de Sarah, a irmã protectora de bom coração, típica avozinha de chapéu, sempre a cuidar da casa e do jardim, sensível, sempre a desculpar os caprichos e o mau feitio da irmã.
Ann Sothern é Tishae a mais nova e espirituosa do grupo, amiga das duas há mais de 50 anos, tem uma afeição especial por Sarah, que defende e faz rir.
Joshua (Harry Carrey JR.) e o sr. Maranov (Vicent Price) são o resto do elenco. O primeiro é o handyman do local, e o segundo um turista habitual da ilha Maine (onde se passa o filme).

A velhice, a demência, a morte, a solidão, a viuvez, as lembranças, as doenças, o sentido de humor, os afectos, e até o galanteio, são os temas deste filme, que é difícil não sentir ternura pelas personagens. O filme faz-nos pensar na velhice, no que irá ser de nós, nas memórias, nas recordações, na perda dos que amamos.
No fim o mau feitio de Libby revela-se medo, medo da morte, medo de perder a irmã que cuida dela. As visitas do sr. Maranov a casa das duas, revela a crueza e má educação de Libby.
A cena em que Sarah se arranja para jantar e comemorar o aniversario do casamento com o falecido marido, é comovente. Sarah prepara-se para o evento, arranja-se, senta-se numa mesa com toalha branca, vela acesa, duas rosas, uma branca e uma vermelha, uma foto do ex-marido, e um copo de vinho. Na grafonola toca uma canção, uma velha canção de amor. É interrompida por uma Libby histérica e fantasmagórica, que conta que teve um pesadelo com a irmã morta. Sarah zanga-se e diz-lhe que se ela quer morrer que o faça, mas que ela pretende continuar a viver.

Tisha traz um homem de uma imobiliária para comprar a casa, mas Sarah não gosta e mostra o seu desagrado á amiga. As memórias são um dos alimentos do ser humano.
O filme acaba com as duas irmãs no promontório abraçadas, á espera de ver as baleias que visitam a ilha em Agosto.
Aí já eu estou de lágrimas nos olhos, porque acabei de ver um grande filme, com grandes actores, numa história simples e comovente.

É um dos filmes da minha vida. 

Sem comentários: