Um dos filmes mais belos que vi na vida foi Baleias de
Agosto (The Walles of August), Todo o filme é de uma ternura comovente.
Primeiro pelos encantadores desempenhos das lendas vivas que
são Bette Davis, Lilian Gish, Vicent Price e Ann Sothern, depois porque é raro
ver um filme só com papeis para actores de terceira idade, numa homenagem á velhice
e ás longas amizades.
Sempre que o vejo comovo-me, todos os actores representam
duma forma tão simples, que nos esquecemos que o são, e os diálogos são de uma acutilância
e beleza, que nos dão varias lições de vida.
Bette Davis faz de Libby, uma mulher cega, pouco maternal,
um bocado amarga, astuta, com uma enorme e bela cabeleira branca e um pouco
caprichosa.
Lilian Gish faz de Sarah, a irmã protectora de bom coração, típica
avozinha de chapéu, sempre a cuidar da casa e do jardim, sensível, sempre a
desculpar os caprichos e o mau feitio da irmã.
Ann Sothern é Tishae a mais nova e espirituosa do grupo,
amiga das duas há mais de 50 anos, tem uma afeição especial por Sarah, que defende
e faz rir.
Joshua (Harry Carrey JR.) e o sr. Maranov (Vicent Price) são
o resto do elenco. O primeiro é o handyman do local, e o segundo um turista
habitual da ilha Maine (onde se passa o filme).
A velhice, a demência, a morte, a solidão, a viuvez, as
lembranças, as doenças, o sentido de humor, os afectos, e até o galanteio, são
os temas deste filme, que é difícil não sentir ternura pelas personagens. O
filme faz-nos pensar na velhice, no que irá ser de nós, nas memórias, nas
recordações, na perda dos que amamos.
No fim o mau feitio de Libby revela-se medo, medo da morte,
medo de perder a irmã que cuida dela. As visitas do sr. Maranov a casa das
duas, revela a crueza e má educação de Libby.
A cena em
que Sarah se arranja para jantar e comemorar o aniversario do
casamento com o falecido marido, é comovente. Sarah prepara-se para o evento,
arranja-se, senta-se numa mesa com toalha branca, vela acesa, duas rosas, uma
branca e uma vermelha, uma foto do ex-marido, e um copo de vinho. Na grafonola
toca uma canção, uma velha canção de amor. É interrompida por uma Libby histérica
e fantasmagórica, que conta que teve um pesadelo com a irmã morta. Sarah
zanga-se e diz-lhe que se ela quer morrer que o faça, mas que ela pretende
continuar a viver.
Tisha traz um homem de uma imobiliária para comprar a casa,
mas Sarah não gosta e mostra o seu desagrado á amiga. As memórias são um dos
alimentos do ser humano.
O filme acaba com as duas irmãs no promontório abraçadas, á
espera de ver as baleias que visitam a ilha em Agosto.
Aí já eu estou de lágrimas nos olhos, porque acabei de ver
um grande filme, com grandes actores, numa história simples e comovente.
É um dos filmes da minha vida.
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