É a primeira vez que cá estou, desde a última vez que cá
estive.
Esta pérola não foi dita nem por Lili Caneças, nem por um
concorrente da Casa dos Segredos. Foi um presidente da Republica de Portugal,
que esteve no cargo entre 1958 e 1974, fantoche de Salazar. Aliás a criatura
foi um manancial de disparates, como “hoje visitei todos os pavilhões, sem
contar os que não visitei”, ou “foi dado o numero 100 a este despacho, não por
acaso, mas porque vem na sequência de outros noventa e nova promulgados”.
Foi mantido por Salazar na presidência, e depois por Marcelo
Caetano porque, obviamente, não os demitiria como Humberto Delgado. O chamado
de General Coca-Cola por Salazar, e seu antigo apoiante, não morria de amores
por ele. O General Sem Medo como o povo o chamou, foi derrotado em eleições
fraudulentas, e depois assassinado pela PIDE, a mando do ditador, em Espanha em
1965.
Salazar era o mesmo que proibia as mulheres de chorarem ao verem
os filhos, maridos, irmãos, partirem para a guerra, e que mandava esconder os
caixões que os traziam mortos, os estropiados, os dementes. O mesmo que tinha a
lata de dizer ás mães que se elas choravam os filhos mortos, ele cuidava de
todos os portugueses.
E não me venham com conversas, uma grande maioria dos “retornados”
era fascista e racista, e ainda hoje choram o facto de não terem os pretos para
os servir, e até muitos deles mataram ou ajudaram a matar.
Se é verdade que fomos os mais brandos colonizadores, isso não
que dizer que não tenhamos feito muitas atrocidades, como aliás ficou provado
em muitos documentos e imagens na ONU.
O que acho engraçado é que os que culpam a revolução e os
governantes que fizeram a descolonização, por terem entregue mal as antigas colónias,
não culpam Salazar e Caetano pelas guerras em Angola, na Guiné e em Moçambique.
Todos nós sabemos que foram os nativos africanos que pediram
aos europeus para serem escravizados e para lhes roubarem as matérias-primas
dos seus territórios.
Aquelas terras eram nossas porque as comprámos? Porque as
nos deram?
Até D. Afonso Henriques foi relegado para segundo plano como
herói nacional pelo Estado Novo, pois era incómodo louvar um homem que lutou
contra o poder instituído, e que submetia a um rei que não desejava. Os heróis eram
o Santo Condestável, os navegadores e Camões.
O fado era “é tão bom e honrado ser pobrezinho e
desgraçadinho”, o futebol entretinha o povo, a revista era tolerada como panela
de pressão para esvaziar as tensões, no cinema ia tudo para a esquadra contente
e a dançar (a policia era boazinha e não havia torturas), e nossa senhora de Fátima
protegia todos.
Todos não, os comunistas e outros traidores á pátria não
gozavam da sua protecção, e a igreja católica conivente com o Cardeal Cerejeira
e depois D. António, ao comando benziam a nação a bem da ordem e dos bons
costumes católicos.
E o povo?
O povo passava fome com os cofres cheios de ouro nazi, que
serviu para comprar armamento para as guerras coloniais. O povo era para manter
inculto e pobre, para ser mais fácil de iludir e manobrar, explorar e mandar
morrer para África ou nas prisões.
Quem chora e quer isto tudo de volta é tão fascista como os
que colaboraram com a ditadura.
A liberdade é um bem muito precioso para se prescindir dele,
a liberdade não se compra nem se vende, tal como a dignidade humana.
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