Estou com um problema.
Ando numa luta para me manter inteligente.
Lutar contra a estupidez é difícil, requer força física e
mental. Requer esforço.
E como vivo no país do desenrasca torna tido mais difícil.
O Tuga gosta de passar pela chuva sem se molhar.
Ser flexível é bom, mas esta mania do improviso, do fazer á
ultima hora, não!
Gostamos do desenrascando e da borla.
Já dizia o Alexandre O’Neil que “viver é vender a lama ao
diabo”. Eu não sei viver…
E como sou estúpido perco-me em coisas inteligentes. A vida
está feita para os idiotas, que desaconselho a pensar. E acho bem que eles nem
pensem.
Já perdi a inocência há muito tempo, e só me arrependo de não
ter vivido mais, de ter acreditado em muito aldrabão, de não ter pecado mais,
mas é escusado, não consigo voltar atrás.
Vou a caminho dos 50, mas isso não me assusta, para quem
esteve para morrer aos 37 tudo o resto é bónus.
Não tenho medo de envelhecer, tenho mais medo do ridículo.
Sabendo que o mundo gay não trata bem os “velhos”, não vivo
com o intuito de ser eternamente jovem.
Não sou eu que vou negar as vantagens da juventude, e as desvantagens
da velhice. A idade é madrasta.
Conheço bem Lisboa gay e as suas malícias, as suas
mediocridades, as lutas pelas mínimas benesses, os mediáticos, brigando como
crianças por uma boneca (mais pelos bonecos), as falsas idolatrias, as vedetas,
os beicinhos, os auto-convencidos e a
sua dita superioridade.
Podem chamar cínico, mas sou lúcido. Esta gente irrita-me,
pela falta de modéstia. È irónico como me vêem agora depois de saberem que
estou nos Dark Horses.
Não preciso de certificados exteriores para saber quem sou. Continuo
a ser o que sempre fui, um gajo porreiro.
Qualquer gajo de meia-tijela pode botar discursos lindos.
Mas a grandeza está nas atitudes, isso foi o que aprendi com
a Natália Correia, com a Beatriz Costa e com a Amália Rodrigues.
A maior homenagem que posso dar a essas grandes criaturas
que fizeram o favor de me darem atenção, que marcaram a minha vida para sempre.
É seguir-lhes os ensinamentos que me deram. Essas mulheres acolheram-me na vida
delas de braços abertos, sem me perguntarem donde vinha e ao que vinha, só
tendo para lhes dar o que dou sempre aos que amo, o que de melhor eu sou e
tenho, os meus afectos e a minha inteligência.
Este mundo LGBT é um pequeno inferno e um pequeno paraíso.
Tenho encontrado gente maravilhosa ano mundo da noite gay, e
neste assunto de pessoas o melhor é amá-las. Mas há gente tão execrável.
Sei que estou a caminho para o Outono da minha vida, Mas o
Outono tem cores tão bonitas, e é o tempo do vinho novo, e dos frutos secos
(que adoro). Do laranja, vermelho e multipos tons de castanho.
Os anos são insensíveis e passam a correr. E a gratidão é um
dos sentimentos que passaram de moda.
Eu quero as minhas rugas, tenho direito a elas, as que
merecem o meu rosto, quero o meu cabelo manchado de branco como a neve.
Se penso na morte? Claro que sim, é uma inevitabilidade, mas
penso mais em viver, no prazer de viver.
Nunca fui um homem bonito, mas sempre fui um de coração
grande!
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