terça-feira, novembro 29


É sabido que a qualidade do pano não evita as nódoas.
“Entre pessoas de qualidade, as diferenças só servem para unir”.

Será que este meu constante pessimismo vem do facto de nunca ter sido uma criança feliz?
A vida é como o mar, uns tomam banho nele, outros nadam á superficie. Mas os mais aventureiros mergulham, e é assim com as pessoas.
Falar não compromete e satisfaz a curiosidade.

As qualidades que mais gosto de encontrar nos outros é a bondade, a sensibilidade e a inteligencia.
Quando alguém me perguntou á pouco tempo “sou assim tão transparente?”, eu sem pensar muito bem na resposta, disse”não, eu é que sou atento”.
E sou.

Quem convive comigo sabe que eu ao principio sou um pouco como um animal assustado, só vou á conversa se me chamarem a ela.
Mas depressa percebem que não é por timidez, ou desconfiança. É exactamente por ser atento, por gostar de saber o terreno que piso, e que ele seja bem firme. Gosto de ter os pés bem assentes no chão, não faço castelos no ar.
Numa pessoa não me interessa de onde veio, nem para onde vai, mas o que é.
Ser superior ao ter. Mas hoje só se vive para ter, e não para ser.

E quem sou eu para os outros?

segunda-feira, novembro 28


Não me confundam com qualquer gajo que tem aspirações a ser qualquer coisa de escritor.
Na verdade as coisas que digo, e escrevo, não tem nada de extraordinário.

Existem pessoas que tem acções para comigo, que me levam a colocá-las no lugar dos animais irracionais.
Depois digam que sou um exagerado, quando digo que o mundo é governado por uma cambada de filhos da puta. É que anda para ai uma cambada de gente que se portam como umas crianças mimadas, a que, lhes tiraram o brinquedo...
Como me é dificil falar com pessoas detentoras de uma unica razão, e que fazem questão de falar com os outros com uma certa insolência.
Como me irrita falar com pessoas que não ouvem ou não querem ouvir aquilo que lhes digo, e ainda por cima fazem questão que se note.

sexta-feira, novembro 25


Os anos de vida vivida que perdi devido ao comodismo.

De há um ano para cá muita coisa mudou na minha vida, e tudo começou com o meu blog mais antigo.
Um leitor e comentador assíduo, pediu-me para me conhecer e levou-me ao voluntariado na ILGA. Ai conheci pessoas extraordinárias.
Já tinha tentado fazer voluntariado lá, mas não obtive resposta, e das 3 vezes que lá tinha ido, não gostei do ambiente (mais tarde percebi porquê), e afastei-me.
Mas o meu amigo Zé insistiu para que fosse lá com ele, e eu confiei nele e fui.

Quando entrei vi atrás do bar um homem moreno, alto, bonito, charmoso, com um sorriso lindo. O Manel. Hoje é um dos meus melhores amigos, foi graças a ele que tive vontade de voltar, e foi graças ás qualidades que ele viu em mim, que hoje sou voluntário activo e presente na associação.
Depois vieram os amigos, foram nascendo cumplicidades, amizades, carinho.
Ricardo, Atila, Jorge, Paulo, Zahara, Nuno, Fátima, Manel João, Ana e tantos outros, tornaram-se pessoas assíduas na minha vida.

O Arraial Pride deste ano foi a cereja no topo do bolo, deu-me uma “volta ao miolo”, e foi uma das mais extraordinárias experiências da minha vida, e das mais recompensadoras. Senti-me “em familia”, focado num objectivo, fui acarinhado, e dei o “litro”. Perdi nessa noite 3 quilos, e isso deu-me o “pontapé de saída” para melhor o meu aspecto e a minha saúde física e mental.

Com o Manel veio de “presente” o Matt, que me desafiou para o rugby, ao que resisti ao principio, mas devido á sua perseverança (ele, além de tenaz , e muito mais inteligente do que eu), acabei por ir, e estou feliz por não ter deixado escapar este novo desafio na minha vida.
Passei a cuidar de mim, perdi 15 quilos, passei a cuidar da minha aparência (embora nunca serei um gajo bom, que um utilitário nunca será um topo de gama), mas sinto-me mais eu, mais confiante, e quando olho para o espelho e me vejo, já não me sinto triste.
Sou melhor pessoa, mais confiante. Ganhei uma nova auto-estima, um novo look e o melhor de tudo, amigos lindos e de qualidade.

quarta-feira, novembro 23


De vez em quando sou abordado por criatura que se propõem a salvar-me a “alma”.

Mas eu nem sei se a vida merece que a amem profundamente.

Ás vezes penso que ninguém entende o meu pensamento. Será que sou assim tão complicado, ou sou tão simples que não me levam a sério?



É curiosa e apaixonante a maneira como cada um vê Deus, ou têm o seu Deus pessoal. E como em nome dele, ostraciza os outros, ou castiga e até os mata.

Como me espanta sempre, e já devia estar vacinado, as coisas mais estúpidas que as pessoas dizem, como se fossem as mais verdadeiras pérolas de sabedoria.

Ás vezes dá-me vontade de içar a bandeira (não, não é essa entre os membros inferiores) branca, e dizer “rendo-me”.

Não me considero uma fortaleza, nem um gajo com carácter forte, mas tenho uma couraça que me protege, a maior parte das vezes do ódio, da mesquinhez e da estupidez alheia.

Esse muro que ergui, foi á custa dos afectos que recebo dos outros.



No fim amo os meus amigos porque sei que eles me querem bem, e mimo-os e estou sempre a acarinhá-los para que saibam que também eu lhes quero bem, e que os amo, e que estou aqui para eles, sempre, com as minhas qualidades e defeitos, com as minhas ferramentas.

Tudo o que tenho, e nada tenho, é deles.

segunda-feira, novembro 21

Só quem ama com o coração aberto, sente este inefável prazer de sentir a felicidade dos amigos como sua.

Decidi tentar a minha “sorte” no rugby porque um grande homem e meu amigo, o Matt, insistiu em me desafiar, e porque não me quero arrepender de não ter feito algo por medo de fracassar.
Ter a sensação de que podia ter feito, e de ter recuado por insegurança minha, é coisa que me deixa com um sabor amargo na boca. Um fel que não quero saborear.

Há coisas na vida que nem prefiro saber, porque me enojam tanto, que me provocam náuseas, senão vómitos.
Mas o mal, é que há sempre alguém com boas ou más intenções (o mundo está cheio de “altruistas”), que me vai fazer o “favor” de me por a par.
Convém não perder a cabeça, mas convenhamos que por vezes é difícil não nos deixarmos levar pelas emoções.

É por isso que muitas vezes vivo a felicidade pela alegria nos olhos dos meus amigos.


Quem são os meus amigos?
Eles sabem quem são, são aqueles que tenho no meu coração, e existem mais que estou a integrar.
Se são muitos, sim são. Tenho-os mais do que a média. Se sou eu que os sinto por defeito de personalidade, talvez. Mas sei que o meu coração consegue ver neles as qualidades que eu acho merecedoras da minha admiração.
Se os tenho na minha vida é porque os mereço, foram batalhas, nunca ganhas porque podem partir a qualquer hora, que eu travei, e ganhei.
Sinto-me um privilegiado por fazerem parte da minha vida, essas criaturas belíssimas.

A morte pode vir quando quiser, dela não tenho medo, o meu medo é de não poder fazer aquilo que desejo, o meu medo é o sofrimento, que muito já tive, o meu e o dos que amo.

sexta-feira, novembro 18


Que gente é esta que cada vez veste mais mal?
Andam com roupa cada vez mais berrantes, e com desenhos incongruentes, e vestem-se como se acabassem de levantar da cama, e nem tivessem abrido os olhos para escolher a roupa. E depois ficam com aquele ar de que andam a arrumar carros todo o dia, e não veem sabão desde a implantação da Republica.
Já para não falar que tem de mostrar o mais possivel, desde a roupa interior, aos implantes mamários e o rego do cu.
Será que ele(a)s pensam que são tão lindos, que tudo lhes fica bem? Porque não se vestem então com sacas de batatas?

Quero ser alguém que não seja eu, num lugar que não seja este.
Deus não existe, e se existe é um completo idiota, para ter criado o homem da maneira que o fez.
Na minha cabeça tenho ideias simples, no meu comportamento sou uma pessoa simples.
Então porque razão as pessoas se dividem entre acharem que sou um convencido armado ao pingarelho, ou um gajo que diz coisas muitos interessantes e inteligentes?
“Quem se cala como eu calei, não poderá morrer sem dizer tudo”.
O que vale é que de vez em quando lá se consegue ouvir alguma coisa com um grau suficiente de inteligencia.
Quando as ideias novas me faltarem, reciclarei as velhas, para que possam parecer novas.

quinta-feira, novembro 17




Hoje desdenha-se da bondade, está fora de uso, não é prática, é um obstáculo ao triunfo pessoal e colectivo, e indigna dos tempos modernos.


Existirá a sinceridade?

Não será ela uma máscara que esconde os nossos sentimentos?

Das duas uma, ou eu tenho a mania da perseguição, ou anda ai algum poder cósmico que não me grama.

Uma pessoa disse-me recentemente de supetão, sem eu esperar por tal e sem descortinar a razão (que não me explicou, e eu também não perguntei): “Tu és diferente dos outros”.

Não disse que eu era melhor que os outros, ou que a maioria.

Mas disse como um elogio, que eu aceitei de bom grado, por ser verdadeiro. Realmente não me sinto melhor do que os outros, sejam eles quem forem, e não anseio sê-lo.

Contento-me, e luto, para ser diferente, para fazer a diferença.

Gostaria, sinceramente, de ser o pior ser humano á face da terra, pois seria feliz se todos fossem melhor do que eu, pois tinha a certeza de que este mundo seria um lugar maravilhoso para se viver.

E com tantas vezes nos perdemos uns dos outros, num mar de equivocos e desconfianças. Chego muitas vezes a casa exausto, e pergunto-me, vale a pena?

quarta-feira, novembro 16


Todos os dias penso. Se morrer hoje, o que vão pensar de mim? O que vou deixar neste mundo? Deixarei o mundo e as pessoas como dantes? Irão sentir a minha falta?

Parece ser sina, esta das pessoas lerem depressa e mal aquilo que escrevo e entenderem pior.
Não vos ensinaram a respeitar a opnião alheia?
E discutir opniões não é fazer Autos-de-Fé...
Eu por mim verifico com satisfação que as minhas faculdades mentais continuam a funcionar muito bem. Bem como o dom da imaginação.
Mas a terra é pequena, e infelizmente a maioria da gente que vive nela também não é grande.

Ás vezes gostava de ser uma torre, para não cair á primeira patada.

terça-feira, novembro 15


Há pessoas que só servem para moer o juizo dos outros.

Como conciliar os principios de uma crença, com os principios da tolerância?
Faz-me confusão aqueles discursos de que só os que se convertem a A ou B, serão escolhidos por uma divindade qualquer, e serão salvos, e recompensados. Com se nós todos não fossemos irmãos, carne da mesma carne, sangue do mesmo sangue, não tivessemos todos saido da “passarinha” da mãe, e termos a vida a prazo.
O mundo é vasto demais para andarmos cá sempre ás turras uns com os outros.
Bolas, como já não me bastasse as cruzes que tenho de levar ás costas, saem-me agora esta gentinha com inveja da minha existência.
Mas inveja de quê? Que tenho eu que lhes provoque inveja?
Serão-lhes as horas demasiado lentas e os dias demasiado rápidos?
Cada vez mais a minha maior tentação é calar-me...

quarta-feira, novembro 2


Hoje se meu pai fosse vivo faria 70 anos.

O que me lembro de meu pai.
A recordação de que tenho de meu pai embora não seja muito feliz, é menos infeliz do que da minha mãe.
Recordo-me dele como outra pessoa infeliz, preso a um casamento e uma família que não desejava, tentando estar o máximo de tempo ausente de casa, para não ter que “aturar” a mulher os filhos.
Só soube mais dele já no fim da vida, pouco falou do tempo da guerra em Angola, nunca falou do seu tempo de resistente comunista, e da sua prisão.
Nunca foi um homem carinhoso com os filhos, nem soube ser pai, nunca ensinou nada, nunca brincou comigo, nunca me deu uma palavra de incentivo. Era um estranho.

Cedo ficou doente, e 3 tromboses puseram-no paralisado do lado direito aos 35 anos.
A minha mãe sempre teve o “cuidado” de fazer com que os filhos odiassem o pai, responsabilizando-o pela sua infelicidade, que a levava a tratar-nos mal e a fazer-nos torturas e muita porrada. Mais tarde descobri que não era ele o culpado, mas sim também uma vitima, de uma mulher frustrada e desequilibrada. Quando me apercebi disso, comecei a aproximar-me dele, mas a morte interrompeu esse processo. Ficou um vazio e amargo de boca...
Entendi o facto de meu pai não ter sido um pai, mas sim o homem que dava dinheiro para o sustento, mas não posso “perdoar” tal. Não estou cá por minha vontade, e penso que nem pela dele, mas se estou cá foi por acção dele, não sou culpado de ter nascido.
Mas sei que se ele não soube dar carinho, nem interagir com os filhos, foi por causa da sua educação, dada pelos meus avós, que também não eram afectivos. Mas eu tive uma infância sem amor e carinho, cheia de porrada e torturas, e estou cá, integro, sou (ou tento ser) uma pessoa bondosa e atenta aos outros. Escolhi o meu caminho.

Vê-lo definhar foi difícil, e a morte dele, durante o meu serviço militar, foi um soco no estômago, apanhou-me de surpresa, numa altura em que estava a tentar lidar com a minha “prisão militar”.
A minha mãe não queria que eu soube-se que ele tinha morrido, mas o meu irmão não lhe fez a vontade, ela até na morte dele foi cruel. Aguentei forte até o ver descer á terra, ai não aguentei e senti que o tinha “perdido”, que não tinha tido um pai, mas um homem que me gerou, e que proporcionou alimento. E um resto cheio de nada...
Hoje estou em paz com ele, gostaria que estivesse comigo, que tivéssemos longas conversas, que me falasse dele, de saber exactamente o que ele pensava de mim, de o conhecer.
Foi o único na família que não me expulsou, nem me condenou por eu ser gay.

Feliz aniversário pai, pelos teus 70 anos de vida, pelo menos na minha memória...