De vez em quando sou abordado por criatura que se propõem a
salvar-me a “alma”.
Mas eu nem sei se a vida merece que a amem profundamente.
Ás vezes penso que ninguém entende o meu pensamento. Será
que sou assim tão complicado, ou sou tão simples que não me levam a sério?
É curiosa e apaixonante a maneira como cada um vê Deus, ou
têm o seu Deus pessoal. E como em nome dele, ostraciza os outros, ou castiga e
até os mata.
Como me espanta sempre, e já devia estar vacinado, as coisas
mais estúpidas que as pessoas dizem, como se fossem as mais verdadeiras pérolas
de sabedoria.
Ás vezes dá-me vontade de içar a bandeira (não, não é essa
entre os membros inferiores) branca, e dizer “rendo-me”.
Não me considero uma fortaleza, nem um gajo com carácter
forte, mas tenho uma couraça que me protege, a maior parte das vezes do ódio,
da mesquinhez e da estupidez alheia.
Esse muro que ergui, foi á custa dos afectos que recebo dos
outros.
No fim amo os meus amigos porque sei que eles me querem bem,
e mimo-os e estou sempre a acarinhá-los para que saibam que também eu lhes
quero bem, e que os amo, e que estou aqui para eles, sempre, com as minhas
qualidades e defeitos, com as minhas ferramentas.
Tudo o que tenho, e nada tenho, é deles.
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