terça-feira, novembro 2

O meu pai se fosse vivo fazia hoje 69 anos.

A imagem que tenho dele é de um homem distante, que não sabia lidar com os filhos.
Nunca tive carinho de meu pai, nem ensinamentos, nem desabafos, nada…
Só se limitava a dar o dinheiro para o sustento e era ao que se resumia o seu papel de pai.

Era um homem alto, tinha 1,90 (alcunhavam-no de Cristo Rei). Profissional e participava em organizações associativas, tendo sido homenageado várias vezes pelo seu trabalho.

No entanto a relação com a família era um desastre.
Ausente para os filhos, infeliz no casamento. Com a agravante de minha mãe sempre ter “virado” os filhos contra o pai. Aos 14 anos percebi que afinal as coisas não eram como ela “pintava”, e ai começou os problemas…

Era um homem que fumava 3 maços de cigarros por dia, e bebia acima do limite.
Tal levou á ruína da sua saúde, aos 35 anos teve a sua primeira trombose (no total de 3), que o paralisou parcialmente do lado direito.
Faleceu com 48 anos no dia 30 de Dezembro de 1989.

Ao contrário da minha mãe e do meu irmão, nunca me maltratou pela minha orientação sexual, bem pelo contrário, acho que até lhe ganhei o seu respeito.

Mas este sentimento de que tendo um pai, não o tive, ficará para sempre em mim.
Ele esteve na Guerra Colonial em Angola, e nunca me falou sobre o assunto. Só vi umas fotografias dele, e a figura da sua madrinha de guerra que sempre assombrou a relação entre a minha mãe e o meu pai. Nem sei se tal personagem existia na vida dele, para a minha mãe era bem real.
Só sei das “fitas” da minha mãe e da ausência dele nos aniversários da família, no Natal, etc.

No fim acho que era um homem infeliz, sem coragem para ter mudado a sua vida, e que fez infelizes os filhos, que foram vitimas inocentes de “um erro de casting” que foi o casamento de meus pais.

Enfim, já lhe perdoei, mas não esqueci.

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