domingo, janeiro 19

A vida é ingrata, dá-nos uma capacidade quase ilimitada de sonhar, e a incapacidade de realizar a maioria dos nossos sonhos.
Cada vez mais tenho a certeza de que a vida não nos serve, mas serve-se de nós.

Os meus pais nunca brincaram comigo, nem os meus avós ou tios. Pensei demasiado tempo nisso, aliás o meu mal é pensar demasiado nas coisas.
Tenho pena das pessoas que nunca choram, eu choro, e muito, de alegria junto dos que amo e de tristeza sozinho.
Hoje já dentro dos meus 40 continuo a chorar, não pelas mesmas razões de outrora.
Não posso voltar atrás e mudar o destino, nessa altura o meu sonho era de que me salvassem da violência a que minha mãe me sujeitava.
Sei que isso me continua a atormentar, e que se calhar o vai para o resto da minha vida, mas o meu maior medo é falhar miseravelmente como ser humano.

A minha preocupação actual é a de ver os meus amigos bem, em segurança, com saúde, e nunca ser tarde demais para abraçá-los e lhes dizer o quanto os amo.
Tenho consciência que alguns não vão ficar comigo a vida inteira.
Todos viemos do mesmo sítio, mas uns olham mais alto, mais longe, tentam ser melhores, mais cultos, mais humanos, mais corajosos, e respiramos fundo quando nos afrontam. Temos sonhos, e continuamos a sonhar mesmo com os reveses da vida, e mesmo sabendo que nem 20% dos sonhos se irão realizar, tentamos ser as pessoas que sonhámos ser.

Acredito mais nos homens do que em Deus, e resigno-me ao facto de muitos me decepcionarem, embora tenhamos partilhado o melhor de nós com eles, não tendo actos condenáveis, que nos envergonhem, e envelhecemos graciosamente.

E amamos, porque não sabemos fazer mais nada, porque nascemos para amar, e porque sabemos que é isso que nos salva de sermos umas bestas.

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