A vida é ingrata, dá-nos uma capacidade quase ilimitada de
sonhar, e a incapacidade de realizar a maioria dos nossos sonhos.
Cada vez mais tenho a certeza de que a vida não nos serve,
mas serve-se de nós.
Os meus pais nunca brincaram comigo, nem os meus avós ou
tios. Pensei demasiado tempo nisso, aliás o meu mal é pensar demasiado nas
coisas.
Tenho pena das pessoas que nunca choram, eu choro, e muito,
de alegria junto dos que amo e de tristeza sozinho.
Hoje já dentro dos meus 40 continuo a chorar, não pelas
mesmas razões de outrora.
Não posso voltar atrás e mudar o destino, nessa altura o meu
sonho era de que me salvassem da violência a que minha mãe me sujeitava.
Sei que isso me continua a atormentar, e que se calhar o vai
para o resto da minha vida, mas o meu maior medo é falhar miseravelmente como
ser humano.
A minha preocupação actual é a de ver os meus amigos bem, em
segurança, com saúde, e nunca ser tarde demais para abraçá-los e lhes dizer o
quanto os amo.
Tenho consciência que alguns não vão ficar comigo a vida
inteira.
Todos viemos do mesmo sítio, mas uns olham mais alto, mais
longe, tentam ser melhores, mais cultos, mais humanos, mais corajosos, e
respiramos fundo quando nos afrontam. Temos sonhos, e continuamos a sonhar
mesmo com os reveses da vida, e mesmo sabendo que nem 20% dos sonhos se irão
realizar, tentamos ser as pessoas que sonhámos ser.
Acredito mais nos homens do que em Deus, e resigno-me ao
facto de muitos me decepcionarem, embora tenhamos partilhado o melhor de nós
com eles, não tendo actos condenáveis, que nos envergonhem, e envelhecemos graciosamente.
E amamos, porque não sabemos fazer mais nada, porque
nascemos para amar, e porque sabemos que é isso que nos salva de sermos umas
bestas.
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