domingo, outubro 21


A minha geração está a desaparecer, uns fisicamente, outros intelectualmente.
Enquanto estive na cama de um hospital, sem saber se sairia de lá vivo, pensei na minha vida, e no que iria fazer dela se saísse de lá. Hoje sou o que sou.

Faço parte de uma geração que ainda viveu sobre o domínio da ditadura, Salazar “caiu da cadeira” no ano em que nasci, e que viveu as primeiras horas de liberdade.
A minha geração era uma geração livre.
Hoje são escravos, do dinheiro, do poder, das drogas, do futebol, dos empregos, do sexo, das vidas sem chama.
O mundo habituou-se a desvalorizar pessoas como eu, e eu aprendi a lidar com isso. Não que me resigne, ou que não me irrite. Cada vez há menos gente merecedora de respeito, o que me faz recear por estas novas gerações que sem heróis dignos desse estatuto, só gente menor, não vai ter bom futuro.
Este jejum de inteligência aflige-me.
E nesta equação ninguém ganha, nem os que tem razão. Com este andar da carruagem, a direita populista e a extremas esquerda e direita.
Ganham vantagem e votos.

Vivemos num tempo de frouxos que colocam os negócios e interesses acima da educação e da protecção dos necessitados.
A liberalização dos costumes e do sexo abriu portas as feminismo e ao homossexualismo, a sociedade pagou um preço por isso. Parte deste mundo não se ajustou, percebeu ou acompanhou esta grande mudança, ainda andam na guerra dos sexos, em vez da guerra pelo sexo.
Claro que tenho os meus momentos de desamparo e irracionalidade. Mas não perco os cinco sentidos. E reparo nos orgulhos e preconceitos, mas já estou vacinado para a maioria deles. Ao vê-los dou-me conta de que certas pessoas são mesmo estranhas.
E eu parvo ainda acho que posso domar as bestas e tornar este mundo melhor.

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