quarta-feira, agosto 10


Na vida de cada um de nós há sempre uma casa.
A casa da minha vida foi a de meus avós paternos, na aldeia de Ponte de Fajão.

É uma casa de 3 andares, o de baixo loja (que quer dizer arrecadação, primeiro andar com uma sala, segundo andar com uma sala grande, 2 quartos, cozinha e casa de banho (feita já em morte dos meus avós), e um sótão.

A casa fica no centro da aldeia, a seguir ao Terreiro, o largo comunitário, onde se realizavam todos os grandes acontecimentos, desde festas a reuniões.
Na aldeia as ruas são estreitas, e é por uma rua estreita que se chega á casa, que tem uns degraus para se chegar á porta e por onde passa por baixo uma levada, que leva água aos quintais dentro da aldeia.
As paredes são brancas, caídas, irregulares no primeiro piso, pois tem grandes pedras na base, tem um candeeiro na parede para iluminar a rua e faz uma esquina côncava, e tem um passadiço que passa ao lado do primeiro andar e por baixo da cozinha, que fica no segundo andar .
No Verão, nos dias muito quentes as paredes brancas ficam cheias de insectos por causa da lâmpada.

Entra-se para a casa por uma porta castanha que dá acesso ao primeiro andar, misto de sala e quarto, para quando há muitas visitas.  Tem uma cristaleira antiga com loiça que vem dos meus bisavós das fábricas de Sacavém e Coimbra, e gavetas cheias de fotos antigas e roupas de cama, algumas com anos.
Sobe-se ao primeiro andar por um escada íngreme de madeira que na sua terça parte, faz uma viragem  á esquerda. Todas as paredes interiores são de madeira de castanho escuro.
Em cima a escada vai dar a uma grande sala, comum de onde partem as outras divisões, actualmente só com uma janela, pois foi aberta uma casa de banho por cima da rua traseira.
Daqui vai-se para os quartos, um virado para a rua do Terreiro, que era o meu quarto e do meu irmão, e onde em miúdos colávamos os posters da Bravo, a revista dos teanagers, dos grupos dos anos 80, e que tinha uma arca onde guardávamos a roupa, e com janela para o largo.
O outro com um grande guarda vestidos era dos meus pais, antes dos meus avós, como o nosso era o dos meus pais, pois nós dormíamos no primeiro andar. Esse tem janela para o quintal nas traseiras da casa que é separado por uma pequena rua e onde por cima foi construída a casa de banho.
A sala de jantar tem um enorme salgadeira antiga, hoje arca de arrumação. A janela que ficou dá para o vale onde fica o rio e vê-se toda a paisagem, um verdadeiro miradouro com altas fragas com pano de fundo.
Daqui parte as escadas em madeira, que são retrateis, para o sótão, e havia antes um alçapão para uma arrecadação, que desapareceu para dar lugar ao wc, que devia partir do primeiro andar, mas cuja ideia, infelizmente, foi abandonada. Hoje abre-se o alçapão e vê-se as pessoas a passar por debaixo da casa.

No fim a cozinha, de chão misto de madeira e tijolo na parte do fogão, que é a lenha (ou era), com uma chaminé grande e com janela para a rua. Tinham um banco corrido com uma mesa que subia e ficava encostada é parede, e onde os miúdos comiam.
Era ai que se faziam os grandes cozinhados para a família numerosa dos meus avós, foi por isso que fiquei a detestar o arroz doce, aquela panela enorme de arroz a cozer que a minha tia Irene fazia, empestava a casa toda, e deixava um cheiro enjoativo.

Foi ali que eu vivia as minhas férias de Verão, era a minha casa que eu adorava.
Nunca mais lá voltei…

Sem comentários: