Adoro viajar de comboio.
Já fiz viagens de comboio muito agradáveis, e que para mim são uma alternativa cómoda e confortável de viajar.
Hoje utilizo todos os dias o comboio para vir trabalhar para Lisboa, o da Fertagus, desde o Pragal.
Mas sempre gostei de utilizar o comboio. Tenho viagens que me ficaram na memória.
Ir ao Porto de comboio é atravessar meio país. Já o fiz para o Porto, Aveiro e Coimbra. Ir e vir no mesmo dia. Confortável. São 3 cidades que adoro.
O Porto por ser o Porto, desde a Ribeira até á Boavista, todo o centro da cidade é um festim para os meus olhos, bem como o falar das gentes, o bom comer, o saber receber de braços abertos, o palavrão na ponta da língua, a frontalidade.
E como não gostar da Torre dos Clérigos, do Palácio da Bolsa com o seu belo salão árabe, da Sé imponente como uma fortaleza, do Magestic, do mercado do Bolhão, da Ribeira com vista para o Douro, da Igreja de Santo Ildefonso com os seus belos azulejos, da de São Francisco com altar de ouro e os túmulos na cave, das ruas de pedra escura e gente de coração quente.
O Porto para mim é lindo e amei-o logo no primeiro instante que o vi, através da Ponte da Arrábida, e volto sempre como quem volta para os braços de um amante com quem se tem uma relação intensa e apaixonante.
Aveiro é mais ria, passei lá várias vezes férias, mas de vez em quando vou lá de comboio para matar saudades, não dos ovos moles, que não gosto, mas da cidade, linda e cheia de água, do seu belo museu, da sua sé catedral, das belas igrejas, da boa comida, do parque frondoso, e do cheiro a sal. E das suas gentes.
Coimbra é cidade que descobri pelo comboio. Passava lá todos os anos em miúdo, para ir para a aldeia de meus pais, mas nunca a tinha visitado.
Um dia peguei em mim e fui de comboio. Já lá voltei mais vezes, de comboio. Uma vez pelo ramal da Lousã, infelizmente fechado. Estava em Serpins de férias e meti-me no comboio para ir dar um beijo á tricana Coimbra. E comer uns pasteis de Tentugal na Praça da Portagem.
Adoro a cidade, que melhorou a olhos vistos nos últimos anos. A Sé Velha deslumbra-me, bem como a Igreja de Santa Cruz, os Mosteiros de Santa Clara (a Velha e a Nova), o rio, a baixa com as suas ruas estreitas e cheias de comércio, e a comida, a comida meu Deus, aquela Chafana que delicia.
Voltei lá este fim-de-semana, e o prazer renovou-se, e a vontade de lá voltar também, se Coimbra tem mais encanto na hora da despedida, para mim tem na chegada, como se os meus olhos se encantassem com a beleza dessa bela cidade.
Também já fiz a Linha do Oeste, quando tinha Intercidades, Figueira da Foz, Leiria e Caldas da Rainha, já foram visitadas por comboio.
Adoro a Figueira pelo seu ar cosmopolita, o sol, e o belo peixe. O museu é dos melhores da Europa e já galardoado com prémios internacionais.
Leiria é cidade por quem se apaixona com doçura, o castelo está imponente numa das colinas, misto de fortaleza e moradia principesca. Percorrer as ruas da parte velha é encontrar pequenos tesouros em cantos imprevistos. E visitar o outro lado do morro, no santuário é ter a visão contrária á da do castelo.
Caldas da Rainha é cidade agradável, com o seu parque com museus, a Igreja do Pópulo, única em Portugal , a loiça e a gastronomia, desde os doces á fruta. E o mercado, e os belos prédios do Korrodi.
Outra bela viagem é pelas Linhas da Beira Alta (que só fiz uma vez) e pela da Beira Baixa.
A da Beira Alta liga á cidade da Guarda (infelizmente Viseu perdeu o comboio, há muito tempo), cidade mais alta de Portugal, que dizem der feia, mas que eu acho das mais autênticas de Portugal, não fosse eu gostar de serras.
Adoro aquela Sé Catedral, vagarosamente construída, mas bela e robusta, misto de arte e fortaleza, que a fronteira com Castela ficava perto. As ruas do centro são um convite ao deslumbramento, o museu é singelo mas agradável, as muralhas estão espalhadas pela cidade, a Igreja da Misericórdia é linda. É mesmo uma cidade para percorrer a pé e com calma, atento, para não perder os pormenores, que estão a cada esquina, em cada casa, em cada janela. Ali está a alma de vários povos, desde romanos, a árabes e judeus. Uma lição de história.
E a comida? E a gente? Que hospitaleiros…
Com a Linha da Beira Baixa, já fui a Castelo Branco e a Abrantes.
Castelo Branco, uma das cidades com melhor qualidade de vida em Portugal, é um encher o pulmão de energia e beleza, desde aquele magnifico Jardim do Paço Episcopal, á Sè, singela e muito bela, ás ruas medievais, ao castelo, donde se vê a perder de vista.
Vê-se que aqui tinha que nascer uma cidade. E a comida, Beirã, de boa qualidade e bem servida. E os enchidos e queijos são de chorar de alegria, as papilas gustativas batem palmas a agradecer-nos de tão bons sabores.
Abrantes é cidade entre o Alentejo, a Beira Baixa e o Ribatejo, tendo um pouco de cada, o que lhe dá um ar misto que agrada. Cores garridas e igrejas imponentes, sob o castelo. E bons doces. E o rio Tejo que lhe dá uma graça especial.
O comboio também já me serviu para ir ao Alentejo. Évora e Beja muitas vezes, alias fiz nas duas localidades o meu serviço militar…
De Évora tudo o que se possa dizer não chega, toda a cidade é um festim para quem admira as belezas construídas pelo homem, para contrabalançar as desgraças que faz. Desde a Sé, Igreja da Misericórdia, Praça do Giraldo, Aqueduto, Templo Romano…, é uma cidade que não se consegue ver num dia, quantos mais numas horas. É para voltar, sempre, e sempre se descobre algo novo. E a comida é de fazer chupar os dedinhos…
Beja é mais calma, mas igualmente bela. A torre imponente marca a sua presença, como que a espiar-nos e a proteger-nos. E aquele museu é de visita obrigatória. Aliás a cidade é de fácil visita e deve ser vista á velocidade alentejana, devagar e com calma, pois vale a pena. E não se pense que a gastronomia é pobre. Pobre é de quem não a prova.
Também já vim do Algarve de comboio, de Loulé (estava na Quarteira), mas a viagem que mais me agradou foi a de entre a Fuzeta e Faro, passando por Olhão.
Olhão é cidade singela, mas bem agradável, muito cubista e árabe. Visita-se bem e com calma numa manhã. Boa para quem gosta de misturar praia e turismo cultural.
Faro descobri pelo comboio, cidade que julgava banal, transformou-se a meus olhos numa cidade agradável de visitar. A sé é linda, bem como toda a zona “intra-muros” e a Igreja do Carmo com a sua capela dos ossos é um tesouro raro e desconhecido para muitos portugueses, que só conhecem a de Évora. Não sendo a cidade mais característica do Algarve é de visitar.
O comboio também me serviu para ir de Valença a Vigo, cidade feia que só valeu pela viagem de comboio.
Das viagens mais bonitas que fiz, e se tivesse que escolher uma, e só daquelas que fiz, escolhia o percurso entre o Entroncamento e Castelo Branco, pela paisagem. Ver o rio Tejo através do comboio é de uma beleza inacreditável, e de repente o castelo de Almourol, as Portas de Ródão, Abrantes no cimo da colina, Constância entre o Tejo e o Zêzere, Belver e o seu castelo.
Um festim para os olhos.
Gostava de fazer outra vez essa viagem com os meus amigos.
Sem comentários:
Enviar um comentário