Lisboa é uma cidade encantadora.
E eu tive a sorte de ter nascido nela.
Nasci na Maternidade Alfredo da Costa, no dia 7 de Março de 1968, dia em que começou a emitir a RTP 2, fazia a televisão portuguesa 11 anos de emissões regulares.
Foi a minha primeira “casa”.
Depois sei que estive uns dias no bairro da Graça, e com 20 dias mudei-me para a Travessa do Forno Aos Anjos, 38 2º E, ali bem no Intendente, bairro dos Anjos. Nessa altura não era um centro de prostituição, pelo menos assim descarado como é hoje.
Assim o Bairro dos Anjos foi o meu primeiro bairro.
Embora a minha mãe não me deixasse brincar na rua com os outros miúdos, fui começando com a ida para a escola primária, a conhecer o meu bairro.
A minha escola primária foi a Escola nº 26, na antiga Praça do Ultramar, hoje Praça das Novas Nações. A minha escola era daquelas antigas, meninos para um lado, meninas para o outro.
Onde fui baptizado foi na Igreja dos Anjos, uma bela igreja situada no principio da Avenida Almirante de Reis, e onde fiz a minha catequese, como bom filho de uma família ultra católica, e a primeira comunhão. É um belo templo barroco que aconselho a visitar, e também pela sua história, pois este não é o seu lugar original. Foi para o local actual vinda do meio da avenida, aquando da sua construção, e foi transladada peça por peça.
Os meus jardins-de-infância foram o da Igreja dos Anjos, com as suas duas árvores enormes, onde trepei feito macaco (que por acaso é o meu signo chinês), e o Campo Santana, ou Campo Mártires da Pátria.
Este é um grande jardim, já um bocado diferente, mas que ainda mantém a sua traça, cortada pela ligação entre a Rua Luciano Cordeiro e o Paço da Rainha, e com a sua estátua do médico Sousa Martins na ponta.
Sempre adorei este jardim pela quantidade de animais que nele reside, desde patos, pombos a galinhas e perdizes. Como adoro animais, era sempre uma alegria, das poucas a que tinha acesso, pois tinha sempre que ser um menino bem comportado.
Mais á frente o Torel, miradouro sobre o Bairro Alto, do outro lado da avenida, ainda hoje um dos meus lugares de eleição para repousar. Tal e qual cascata a escorrer pela encosta.
Quando foi para a Escola Nuno Gonçalves, na Avenida General Roçadas, alarguei os horizontes, e passei a ir para a escola sozinho.
Descobri então o Miradouro do Monte Agudo, bem na Penha de França, local de muitos namorados, pelo seu recato e por ainda ser muito desconhecido mesmo dos Alfacinhas, o bairro da Graça com os seu miradouros da Graça (com igreja imponente e a precisar de restauro), e o da Senhora do Monte, com a sua pequena capela de devoção das grávidas, e segundo reza a lenda local de acampamento das tropas de D. Afonso Henriques, antes da tomada do castelo de Lisboa aos mouros, e local de massacre do primeiro bispo de Lisboa, Hastings com mais outros padres, e onde está o seu cadeiral, na capela, onde se diz uma rainha se foi sentar por causa de uma gravidez complicada, visto, dizem, ter poderes milagreiros.
A Capela deve ser visitada, pelo menos pelo lindo presépio em cortiça, segundo dizem de Machado de Castro (?).
Depois com a idade, foi descobrindo o resto da cidade.
O Castelo e Alfama continuam a ser locais de eleição. O Castelo só visito o seu bairro (a entrada no reduto é proibitiva), onde adoro ir a um café local, antiga mercearia com as antigas arcas de vender as leguminosas, beber um cacau quente no Inverno. E Alfama para me perder nas ruas e viver a vida do bairro, tão castiço e ao mesmo tempo intimidador.
A Baixa é outro mundo, local onde íamos sempre ao dia 8 de Dezembro ver a inauguração das montras e iluminações de Natal, dos Armazéns do Chiado e do Grandella, ver os bonecos que se mexiam sozinhos, as pistas dos comboios, as montras cheias de brinquedos, que nós só tínhamos no Natal por serem caros. Tudo ardeu no incêndio de dia 25 de Agosto de 1988…
E parte da minha infância desapareceu.
Mas o Chiado continua com a garra que sempre lhe conheci. É um dos meus sítios preferidos, local de boémia, de ver passar os outros, de ver e ser visto.
Estar sentado numa esplanada e ver passar o mundo, um dos prazeres que tenho. Já disse que sou um espectador atento.
O Bairro Alto foi dos locais que mais se transformou.
Mas sempre foi local boémio. Passou de local de prostituição, casas de fados e tabernas, frequentado por prostitutas e seus clientes, para local da noite lisboeta, pouso de jovens, estrangeiros, gays, lojas de marcas, bares, restaurantes e casas de fado (elas resistem).
O Miradouro de São Pedro de Alcântara, continua a ser a sua varanda para Oriente, e a Bica, com o seu miradouro de Santa Catarina, a varanda para o Tejo.
Esse Tejo, rio que faz parte do ADN da cidade, belo e refrescante, local onde vivem os Tágides, os habitantes do Tejo, segundo Camões, que lá está na sua estátua, na sua praça, virado para o Chiado.
Outros locais fui descobrindo na minha cidade, que não falo detalhadamente para não ser exaustivo.
Mas não posso deixar de mencionar, a Estrela, com a sua Basílica e jardim, Campo de Ourique, Campolide com o seu aqueduto e onde vivi, o Jardim Zoológico (que saudades tenho de lá ir), a Igreja da Madre de Deus, Belém com os seus belos monumentos e os deliciosos pasteis (deu-me agora uma fome), São Bento com as suas lojas de antiguidades, as Avenidas Novas com a sua Arte Nova e o seu Português Suave, o Parque Eduardo VII e a sua Avenida da Liberdade, O Paço da Rainha, a Lapa e a sua “parente pobre” a Madragoa, São Vicente e a sua Feira da Ladra, Lumiar e os seus palacetes.
Mas o sítio onde gostava de morar, esse é a Praça das Amoreiras.
Esse é o meu lugar de sonho em Lisboa.
E o meu local preferido é o Príncipe Real, belo jardim e porta de entrada para os meus locais de diversão, onde encontro a “minha família”, e onde sou feliz, nem que seja por umas noites.