terça-feira, julho 19

Há um limite nas dores e mágoas que termina a nossa vida, ou melhora a nossa sorte.

Hoje aos 43 anos vejo que não arrisquei o que devia, com medo de perder o pé, com medo de me afogar.
Não percebi que me deixando ficar estava em cima de areias movediças, e que acabei por me afogar.
Falhei sem o querer, falhei a beleza e o amor. Morria triste, sozinho, e sem beleza, e sem ter provado o doce sabor do amor.
Passei a minha infância a ser maltratado por uma mãe infeliz, o que mais infelicidade me trouxe, por me culpava da sua infelicidade.

Não gosto de humilhar ninguém, nem mesmo os meus adversários ou inimigos.

Tenho fome de afeição, não sou desprovido de virtudes e inteligência, sou muito emotivo, o que muitas vezes me tira a razão, nunca fui atraente, tento sempre ser correcto, ousadia não faz parte dos meus atributos, sou por demais inseguro.
Fui criado numa severa e rígida disciplina, á base de pancadas e torturas por parte da minha mãe.
Deus me perdoe, mas eu devia ter sido abortado.
O meu pai contribui com a sua ausência, insensível á minha dor e tristeza, e ás torturas da minha mãe. Como se eu tivesse culpa de ter nascido.
E carreguei essa culpa que não era minha, mas que sentia, nascido para ser infeliz.
Senti esse peso desde sempre, desde que me sinto com pessoa. Dizem que não devo ficar preso ao passado.
Mas o meu passado sou eu, é quem me formou como individuo, como posso fazê-lo dizem-me? Faço uma lavagem ao cérebro, esqueço-o?
E perguntam-me, porque cedi á dor?
Porque é melhor sentir alguma coisa do que não sentir nada.

Sinto o amor, mas ele não me sente, mais uma vez o meu passado se interpôs na minha vida, na minha hipótese de ser feliz no amor.
Quero continuar a sentir-me humano.
Gostava de um dia não sentir medo, medo de mim, de não ser amado, de deixar de ser amado.
Infelizmente tenho aprendido a viver com ele, mas não é sinal que o aceite.
Não julguem que isto é um baixar de braços, ou uma lamuria. Eu continuo a lutar pelo amor.

Sei que vos apoquenta e aborrece estes meus discursos. Sei que não é giro, não é cool. Mas eu não sou o “João sempre em festa”. 

Mas vou deixar o passado no passado. Já deixei a cruz no passeio e segui mais leve.
Os meus amigos são o meu espelho, eles generosos como são, vem em mim as minhas qualidades, e eu começo a vê-las através dos seus olhos.

Quero é viver, o amanhã, quer ser surpreendido, quero beijar, quero abraçar, quero amar, quero superar os meus limites, quero que alguém substitua o amor que tenho no coração por outro se não puder ser maior, pois este (embora ele pense que não sou suficientemente bom para ele) ficará marcado como ferro quente (por minha vontade), que seja tão forte e tão bom, mas que não me faça sofrer, antes me faça sorrir, rir, levantar os pés do chão, e voar, voar bem longe e bem alto. Me faça sonhar…

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