O hábito é que me faz suportar a vida.
Às vezes acordo com este choro sobre mim mesmo. Como a vida pesa, como a vida é aborrecida e inútil! Não se passa nada, não se passa nada. O tempo mói a ambição e o fel torna as coisas grotescas.
As palavras perdem a realidade. E no entanto são as únicas que consigo suportar. Estou aqui como um peixe num aquário. E sentindo que há outra vida ao meu lado, e que vou até à cova sem dar por ela. Estou aqui a matar o tempo.
Reduzi a vida a esta insignificância... Construí nos meus sonhos outra vida falsa, que acabo por fantasiar. Toda a gente fala do céu, mas quantos passaram no mundo sem ter olhado o céu embrenhados na nossa realidade? O saber que existe basta-nos para lidar com ele.
Desde que se cumpram certas cerimónias ou se respeitem certas fórmulas, consegue-se ser ladrão e escrupulosamente honesto, tudo ao mesmo tempo.
A honra assenta sobre a infâmia.
O interesse e a religião, a ganância e o escrúpulo, a honra e o interesse, podem viver na mesma casa, tipo comando de televisão. Agora é a vez da honra, agora é a vez do dinheiro, agora é a vez da religião. Tudo se acomoda com um bocado de jeito.
Estamos enterrados em convenções até ao pescoço, usamos as palavras, fazemos os gestos.
A mim isto sufoca-me.
Há dias em que não distingo esperança no outro ser humano, estes seres de minha própria alma. Há dias em que através das máscaras vejo outras fisionomias, e, sob a impassibilidade, dor, há dias em que o céu e o inferno se confundem.
A alma, ao contrário do dizem é exterior, envolve e impregna o corpo e em certos homens a alma chega a ser visível
Há seres cuja alma é uma contínua exalação, há-os cuja alma é de uma sensibilidade extrema, sentem em si todo o universo.
Daí aconteçe a simpatia ou antipatia súbita quando duas almas se tocam, mesmo antes de se conheçerem ou sequer cominucarem.
O amor não é senão a formação de uma só alma, como o ódio é a repulsão dessa formação. Assim é que o homem faz de Deus ou de Diabo.
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