quinta-feira, abril 14

Engraçado, eu nem sequer gosto de escrever, acontece-me às vezes estar tão desesperado que me refugio no papel como quem se esconde para chorar. E o mais estranho é arrancar da minha angústia palavras de profunda reconciliação com a vida.

O silêncio é a minha maior tentação. As palavras, esse vício estão gastas, envelhecidas, desgastadas. Fatigam, exasperam. E mentem, separam, ferem. Também apaziguam, é certo, mas é tão raro!
Alguns procuram-me para que lhes dê certezas, e eu não tenho nenhumas, nem sequer para uso pessoal. Por isso não deixo de lhes dizer que a única coisa em que estou interessado é em perturbá-los. Só lhes posso ensinar que a independência tem um preço, sempre o soube, e nunca me recusei a pagá-lo, é qualquer coisa que nos transforma.

Talvez a minha solidão seja excessiva, mas eu detestei sempre as coisas mundanas. Estar com as pessoas apenas para gastar as horas é-me insuportável.
Nenhuma relação profunda é fácil.
O mundo é conduzido por loucos e ambiciosos, que só têm em mira o êxito e o lucro, estão-se nas tintas para as preocupações do povo, que são, como toda a gente sabe, seres da utopia, essa utopia sem a qual não há progresso.
Não há caminhos fáceis para quem é responsável.

Como a gente se perde! A linguagem que o meu sangue entende é esta. O chão que os meus pés sabem pisar  é este. E, contudo, eu não sou já daqui. Pareço uma destas árvores que se transplantam.
Ou a nossa amizade é realmente muito forte, ou isto é um deserto tão deserto que um homem quando agarra uma palmeira não a larga mais.
O meu pecado é a sede de amor absoluto que me devora.

Porque um homem não se escreve. Vive-se…
Tenho a impressão de que certas pessoas, se soubessem exactamente o que são e o que valem na verdade, endoideciam. De que, se no alto da sua importância pudessem descer ao fundo do poço e ver a pobreza franciscana que vai no cérebro, pediam a Deus que as metesse pela terra dentro.
O homem é o que vale para os seus semelhantes. Nada mais.
E os homens são como as obras de arte. É preciso que se não entenda tudo de uma só vez. Tem de se ter tempo para os apreciar.
Em Portugal, as pessoas são imbecis ou por vocação, ou por coacção, ou por devoção.
Não me sinto um derrotado ou um desiludido, o que quero é que tudo nasça com a força que as coisas verdadeiras e naturais merecem, e que o mau não estrague o bom.

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