A primeira vez que fui ás Festas dos Tabuleiros, em Tomar,
foi ás de 1995.
Fiquei na Barragem de Castelo de Bode.
Nessa altura a Rua Direita e o largo da Igreja Matriz ainda
eram abertos ao trânsito automóvel.
O primeiro dia foi para visitar a cidade ainda calma, a
Igreja Matriz com portal manuelino mandado fazer pelo próprio rei D. Manuel I,
a Sinagoga e o Jardim Municipal.
Antes da festa um salto á cidade de Ourém.
A cidade é nova, mas o burgo velho, 3 km a sudoeste, no alto, é
local de muito interesse e história. Aqui nasceu Ourém e o seu castelo que tem
dois imponentes torrões que se vêem ao longe, com matacães, fonte gótica,
pelourinho, casas medievais, igreja da colegiada e um belo café onde se bebe
uma ginjinha.
No sábado começaram as festas com a mostra dos Tabuleiros
nos jardins da mata. As varandas e janelas das casas são enfeitadas de flores de
papel, bem como as ruas do centro da cidade de Tomar, cobrindo por vezes
totalmente o cimo, em efeito de túnel, e as ruas são atapetadas no centro com
decorações em papel e giz. Em pequenos cantos vários apontamentos, tronos e
bonecos animados á força de engenhos de água. Desfile etnográfico pela cidade e
depois jogos tradicionais no estádio municipal.
Largada de pára-quedistas, jogo do pau ensebado, corridas de
cestos, corridas de burros com e sem carroça, e no final um concerto coral na
Igreja Matriz.
Domingo é o dia do cortejo.
Milhares de pessoas nas ruas, muito calor, não há sombra nem
local onde nos sentarmos, uma loucura. As pessoas dormem na relva do jardim, as
filas para as casas de banho são enormes.
Primeiro as bandas a chamarem para a festa. Nas varandas as
melhores toalhas ou panos, que os santos merecem, trabalhadas com desenhos
floridos e/ou religiosos.
Tanta a gente que não cabe nos passeios.
Chegam os estandartes com os mordomos que trazem as coroas
em almofadas, da cor do vinho e do sangue de Cristo.
Finalmente o que todos esperam, o longo cortejo das mulheres
a carregar os tabuleiros que parecem torres, cheios de flores e pão, com o
homem ao lado, para o que der e vier. São um festival de cor e arte, os
tabuleiros e a gente, é difícil dizer qual o mais bonito. Ficamos encadeados
com tanta beleza e tanto trabalho, que ricas mãos.
O povo aplaude, e é de aplaudir. Que gente saudável esta.
As torres são rematadas com a coroa do Espírito Santo. E é
comovente ver tanta gente nova a não deixar morrer a tradição. Que belo é o meu
povo.
No fim juntas de bois a puxar carroças enfeitadas com
flores, e “anjinhos” a comandá-las, e por fim o povo junta-se á romaria.
O cortejo dá a volta á cidade, e duas horas depois
voltamo-nos a cruzar na Ponte Velha do Rio Nabão.
A emoção de o ver novamente é igual á da primeira.
Algumas mulheres já são ajudadas pelos homens, alguns são
mesmo eles a carregar os tabuleiros, o cansaço, o calor e o peso já fazem
mossa, mas muitos sorrisos e muito orgulho, elas de branco e fitas coloridas,
eles de camisa branca, calça preta e gravatas de cores fortes. Até os bois vêem
engalanados.
Depois a bênção dos tabuleiros na praça da Matriz.
Jantar tomado e rumo á feira de artesanato e ao festival de
folclore nos jardins da cidade.
Nada como uma barriga e olhos cheios.
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