Gosto de sexo.
Como toda a gente tenho as minhas fantasias, umas
concretizadas, outra não, e algumas que não quero que passem de fantasias.
Mas sempre encarei o sexo como uma satisfação saudável, nem
podia ser de outra forma.
Não sou pudico, nem moralista, embora, como todos, tenho os
meus tabus e os meus limites.
Encarar o sexo como uma actividade normal e saudável é sinal
de maturidade e inteligência. Uma das vantagens de não se ser novo é que já se
viveu e viu muito para ter aprendido e aperfeiçoado muitas coisas.
O que já vi e ouvi, e o que já fiz dava para corar um século
de freiras num convento.
Embora tenha nascido com “um comportamento sexual desviante”
(como se dizia na altura em que descobri a minha sexualidade, estávamos no ano
de 1982), sempre a vivi o melhor que soube e pude.
O meu “descaramento” ao falar sobre sexo tem a ver com a
naturalidade como o encaro, e a separação que faço entre sexo, amor e afectos.
E dou mais valor ao amor e aos afectos.
Mas eles não estão dissociados do sexo. E convenhamos que só
o sexo não satisfaz, pelo menos a médio e a longo prazo.
A sexualidade de cada um deve ser respeitada. Tudo na vida
se resume a confiança, respeito e amor, por esta ordem, até no sexo.
Por isso os meus amigos falam comigo sobre sexo com
naturalidade, pois sabem que eu não sou moralista, e que tenho poucos tabus. Também
tem a ver com a minha idade, mas muito com aquilo que já vivi, sexo, sim muito,
com prazer e com saúde.
Por isso foi natural que aceitasse o desafio de um amigo,
que na altura era voluntário da ILGA, para fazer parte da “Brigada do Preservativo”.
Comecei com os transsexuais e trangeneros, na altura com
algum receio, pois era uma parte da população LGBT com quem não tinha
contactos, e por isso pouco familiar.
Foi uma experiência que me fez alargar os meus horizontes,
quebrou preconceitos, e fez-me evoluir como ser humano. Tornou-me melhor.
Depois passei para o Bairro Alto, misto de população LGBT e
hetero, onde estranhamente é mais difícil trabalhar. As vezes que nos dizem que
não precisam de meios de protecção sexual é chocante.
Uma coisa é não usar, outra é não precisar. Não usar é uma
escolha, não precisar é um erro. São opções… As razões que evocam é que me
chocam, pela ignorância, principalmente nas camadas mais jovens da população,
as que tem mais acesso á informação.
Com o boom do aparecimento dos bares bears (ursos) na zona
entre o Princepe Real e São Bento, e as portas abertas, por isso o pessoal na
rua, foi natural que a ILGA apostasse mais nessa zona do que tinha feito até
ai, em que o facto de os bares serem á porta fechada, e havendo a entrega
directa de material aos bares, não houvesse necessidade de uma equipa direccionada
para a zona.
Calhou-me a sorte de fazer parte dessa equipa, porque sendo também
identificado como um urso, foi mais fácil e natural o contacto com a zona e os
seus frequentadores.
Com o Conde Redondo, esta é a zona em que somos mais bem
recebidos, salvo tristes excepções.
E este trabalho não se esgota nas brigadas mensais. Existe
outro trabalho de sapa, que envolve uma equipa empenhada, e contribuo noutras
actividades na ILGA, umas mais visíveis do que outras.
Tirando as já citadas rara excepções, repito somos muito bem
tratados, e ao longo destes anos de trabalho com a comunidade LGBT e os seus
locais de diversão, fui ganhando o respeito e o carinho, e algumas amizades,
que me fazem feliz, e com mais vontade de continuar a fazer o trabalho com
empenho.
Nunca usei nada nem ninguém para conseguir benesses ou
vantagens, nem para ser tratado de maneira especial. Quem me conhece sabe que não
sou dado a essas atitudes. Por isso a estima que recebo é-me duplamente recompensadora.
A todos os que me estimam e me tratam com o carinho que me dão, o meu muito
obrigado. São vocês que me dão o animo, e a força, para, mesmo quando o tempo não
ajuda, ou a carga é demasiado, em que o esforço e o cansaço fazem mossas, em
que por vezes obriga a noites em dormir, que valha a pena.
E obrigado companheiros da ILGA por me permitirem fazer
isto, pelo vosso apoio, pelo vosso carinho, pela confiança depositada, e pela amigos
que me deram.
Vocês fazem de mim um melhor homem.
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