Fisicamente somos um espaço, mas mentalmente somos memórias
e ideias.
Memórias do que vivemos, do que aprendemos com essas
vivências.
De criança abusada, passei a adolescente tímido e inseguro,
a homem orgulhoso por ter vencido muitas batalhas.
Vim de uma família abastada, mas sempre vivi pobre de
recursos, principalmente afectivos, mas aprendi a ser rico de sentimentos e
afectos, de honra e coragem. Aprendi com os grandes.
E Lisboa foi minha mãe, aprendi muito a percorrer suas ruas.
Tal como a maioria dos portugueses, árabe e judeu, cristão e
negro, e de tantas raças e credos que passaram por este território, sou
mestiço, todos somos.
Não temos raça, por isso somos capazes de navegar e
colonizar o mundo, e não conquistar. Porque sabíamos, sabemos, misturar. E
sendo conservadores, gostamos de descobrir algo novo, somos curiosos, e
adaptamo-nos, sempre com saudade do que é verdadeiramente nosso, português.
Por isso estranho que grande parte dos turistas que nos
visitam, insistam em comer o que comem nos seus países.
Um dos prazeres em viajar é descobrir e vivenciar nova
experiências, incluindo a gastronomia. Que piada tem ir a um lugar e comer o
que se come lá em casa? Gastronomia também é a cultura de um povo.
E as minhas memórias estão povoadas de cheiros e sabores
diferentes, e quanto mais, mais a minha memória fica rica deles.
Esta capacidade dos portugueses enriquecerem as coisas,
fruto da nossa maneira de ser, é que faz a nossa riqueza, que faz de nós um
povo especial único no mundo, dócil e lutador mas que nos faz sobreviver neste
rectângulo á beira-mar plantado, há mais de 800 anos, e pelo mundo fora desde o
século XV.
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