terça-feira, junho 11

Fisicamente somos um espaço, mas mentalmente somos memórias e ideias.
Memórias do que vivemos, do que aprendemos com essas vivências.

De criança abusada, passei a adolescente tímido e inseguro, a homem orgulhoso por ter vencido muitas batalhas.
Vim de uma família abastada, mas sempre vivi pobre de recursos, principalmente afectivos, mas aprendi a ser rico de sentimentos e afectos, de honra e coragem. Aprendi com os grandes.

E Lisboa foi minha mãe, aprendi muito a percorrer suas ruas.
Tal como a maioria dos portugueses, árabe e judeu, cristão e negro, e de tantas raças e credos que passaram por este território, sou mestiço, todos somos.
Não temos raça, por isso somos capazes de navegar e colonizar o mundo, e não conquistar. Porque sabíamos, sabemos, misturar. E sendo conservadores, gostamos de descobrir algo novo, somos curiosos, e adaptamo-nos, sempre com saudade do que é verdadeiramente nosso, português.
Por isso estranho que grande parte dos turistas que nos visitam, insistam em comer o que comem nos seus países.

Um dos prazeres em viajar é descobrir e vivenciar nova experiências, incluindo a gastronomia. Que piada tem ir a um lugar e comer o que se come lá em casa? Gastronomia também é a cultura de um povo.
E as minhas memórias estão povoadas de cheiros e sabores diferentes, e quanto mais, mais a minha memória fica rica deles.


Esta capacidade dos portugueses enriquecerem as coisas, fruto da nossa maneira de ser, é que faz a nossa riqueza, que faz de nós um povo especial único no mundo, dócil e lutador mas que nos faz sobreviver neste rectângulo á beira-mar plantado, há mais de 800 anos, e pelo mundo fora desde o século XV.

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