Há vários tipos de escravidão. Eu sofro de vários: o da
minha orientação sexual, a do meu aspecto físico, o de ser pobre, o de ser
honesto e frontal.
Não que me envergonhe de mim. Assim como não me envergonho
da maioria das minhas escolhas. Só quero viver com a minha dignidade, tão
explorada e por vezes roubada.
Não sou dado á caridade. Porque ela só deve existir onde não
há justiça, nem bondade.
Uma das receitas para matar um homem é tirar-lhe a
dignidade, e as escravidões são uma maneira.
E na verdade, o que faz um homem?
Não é só ter uma pila pendurada entre as pernas, e comer
umas conas. È preciso coragem, inteligência, sensibilidade, carácter, amor á
justiça, bondade, respeito pelo próximo e pela liberdade.
E toda a gente sabe que hoje ter estes atributos, é lutar
contra a corrente.
Dizem que o cepticismo é uma coisa de velhos. Devo estar
mesmo a ficar velho, pois cada vez ando mais descrente no ser humano.
Não vejo nesta malta nova o sangue na guelra, que poderá
fazer mudar o mundo para melhor. Mas isso não me espanta, num mundo cada vez
mais insensível á miséria e á morte alheia.
E neste mundo quem diz as verdades é perseguido, e por vezes
silenciado, até morto.
Poucas pessoas admirei na minha vida. Quem já privou com
pessoas do calibre de uma Natália Correia, duma Beatriz Costa e de uma Amália
Rodrigues, fica condenado a ser exigente nas escolhas. De ninguém nunca me
aproveitei, porque não faz parte do meu carácter. Apenas aprendi o que me
ensinaram.
As manifestações não são bem vistas pelo poder, e o nosso
governo confia na pacificação dos portugueses.
Mas até quanto sofrimento e repressão vão os portugueses
aguentar?
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