quarta-feira, julho 3

Dizem que o cepticismo é uma coisa de velhos. Devo estar mesmo a ficar velho

Há vários tipos de escravidão. Eu sofro de vários: o da minha orientação sexual, a do meu aspecto físico, o de ser pobre, o de ser honesto e frontal.
Não que me envergonhe de mim. Assim como não me envergonho da maioria das minhas escolhas. Só quero viver com a minha dignidade, tão explorada e por vezes roubada.

Não sou dado á caridade. Porque ela só deve existir onde não há justiça, nem bondade.
Uma das receitas para matar um homem é tirar-lhe a dignidade, e as escravidões são uma maneira.
E na verdade, o que faz um homem?
Não é só ter uma pila pendurada entre as pernas, e comer umas conas. È preciso coragem, inteligência, sensibilidade, carácter, amor á justiça, bondade, respeito pelo próximo e pela liberdade.
E toda a gente sabe que hoje ter estes atributos, é lutar contra a corrente.

Dizem que o cepticismo é uma coisa de velhos. Devo estar mesmo a ficar velho, pois cada vez ando mais descrente no ser humano.
Não vejo nesta malta nova o sangue na guelra, que poderá fazer mudar o mundo para melhor. Mas isso não me espanta, num mundo cada vez mais insensível á miséria e á morte alheia.
E neste mundo quem diz as verdades é perseguido, e por vezes silenciado, até morto.

Poucas pessoas admirei na minha vida. Quem já privou com pessoas do calibre de uma Natália Correia, duma Beatriz Costa e de uma Amália Rodrigues, fica condenado a ser exigente nas escolhas. De ninguém nunca me aproveitei, porque não faz parte do meu carácter. Apenas aprendi o que me ensinaram.

As manifestações não são bem vistas pelo poder, e o nosso governo confia na pacificação dos portugueses.

Mas até quanto sofrimento e repressão vão os portugueses aguentar?

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