quinta-feira, outubro 9

Não me lembro do dia em que nasci, nem na altura existiam tecnologias para registar o acontecimento, mas também não foi um dia de festejo para meus pais.
Segundo os astros sou Peixes, com ascendente em Peixes, e lua em Gémeos, seja lá o que isso queira dizer…
Nunca fui um filho desejado ou amado, bem pelo contrário, a minha mãe era uma mulher abusadora com os filhos, e revoltada com o marido, com ela própria e com o mundo.

Desde cedo me lembro dos abusos de minha mãe, e de chorar muito, de me sentir merecedor da violência a que era sujeito, pois era isso que a minha mãe me dizia, a mim e a meu irmão. O meu pai assistia a tudo, e saia de casa para fugir e não ter de tomar a defesa dos filhos.
Quando tentei pedir ajuda, enfiaram-me num psiquiatra e fizeram-me tratamentos a levar choques eléctricos na cabeça, pois o maluco e desequilibrado era eu. Aprendi a defender-me sozinho, e a não confiar muito nos outros, e a aceitar com dificuldade a ajuda alheia.
No entanto fez-me estar sempre atento ás necessidades dos outros, fiz da ajuda ao próximo uma missão de vida, pois não iria desviar a cara como me tinham feito a mim. E também não me iria tornar numa pessoa igual a eles, não sei explicar mas nunca me revi na maldade, na humilhação aos outros, na violência, na raiva, na inveja, e em todas as falhas de carácter que infelizmente alguns seres são munidos em abundância.

Também nunca tive sentimentos de vingança, nem com a minha mãe, nem com o resto da família, não era esse o meu caminho, não o quis, recusei percorrê-lo, mas não sou obrigado a conviver com que me faz sofrer.
Carrego comigo uma dor que não sei tirar do meu peito, e lembranças que não consigo apagar do meu disco rígido.
Eu sei que temos de ser fortes, que somos futuro, que o passado é passado, e essas teorias todas, e também sei que são em parte verdade. Mas não consigo esquecer, e muito menos perdoar as afrontas e falhas de carácter, por mais esforço que faça.

Sinto-me como de fosse uma peça danificada, defeituosa, riscada, partida, errada. E que a culpa é sempre minha…

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