domingo, abril 29

Dos meus avós pouco tive, e poucas boas lembranças me deixaram.


Do meu avô paterno tenho a imagem do meu irmão chapado, homem baixo de estatura (física e mental) robusta. Carácter de homem bruto, que adorava sempre o neto mais recente, que assim que nascesse outro, era substituído na sua afeição. Como teve 17 netos, poucas lembranças terão eles do afecto do avô. Depois deviam ser tratados "com um pau nas costas"...
Teve a feliz ideia (infeliz para ele, mas merecida), de fazer a partilha da herança em vida. depois de servidos os herdeiros, com raras excepções, andaram a empurrá-lo entre eles. Típico de gente que só vive para o dinheiro e a influência. 
Acabou por morrer na Azambuja, em casa da filha mais velha, e onde está enterrado.


Da minha avó paterna a pouca recordação que tenho é uma imagem de uma mulher grande, pelo menos para mim, miúdo, era, rude e sem afectos para dar. Morreu de Diabetes.


O meu avô materno não o conheci`.
A minha mãe foi fruto de um caso fora do matrimonio de minha avó, não sei se casada na altura ou não, se o meu avô o era com outra ou não, pois tudo era tabu na família, em relação a isso. Sei que ela viveu sempre com a mágoa acerca disso, e descarregou no marido e filhos essa frustração. Embora sempre me apresentasse a minha avó como um exemplo de virtude, embora estivesse elas as duas longe disso.
Os mal tratos ficaram para nós...
Viveu para lá dos 90. Mulher magra, seca de corpo, sentimentos e inteligência. Autoritária e bisbilhoteira, queria controlar a vida de todos e fazer tudo á sua vontade, caprichosa.
Sobreviveu á morte de dois filhos, o mais velho e o mais novo.


Aquele a quem eu chamei de avô, embora sem ser do meu sangue, foi o avô Silva, ultimo marido de minha avó, e pai de 3 dos meus tios.
Sofria de Parkinson, mas era um homem calmo e agradável, foi o único avô que me deixou boas memórias.
Lembro-me sempre dele em duas ocasiões marcantes: Num grande incêndio ocorrido na Serra da Luz, há muitos anos, num bairro de barracas, estava ele no cimo das escadas da casa dos meus tios, a apontar e a tentar falar assustado. Vimos então ao longe o incêndio e as explosões (mais tarde soubemos que eram as bilhas de gás nas barracas), e chamámos os nossos pais. O incêndio alastrou-se até á Calçada da Carriche.
Outro acontecimento foi o da sua morte, a família toda reunida em casa á espera do seu falecimento, num velório tanto de macabro como de comovente. Senti na altura que a pessoa que mais sentiu a sua morte foi um meu tio, marido da sua filha mais velha, que não sendo do seu sangue o considerava como um pai.


Sei que muitos tem histórias bonitas sobre os seu avós. Também gostaria de as ter. Mas foi o que me caiu em rifa, duas famílias disfuncionais em afectividade.
Mas mesmo assim acho que não me sai nada mal...

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