Dos meus avós pouco tive, e poucas boas lembranças me deixaram.
Do meu avô paterno tenho a imagem do meu irmão chapado, homem baixo de estatura (física e mental) robusta. Carácter de homem bruto, que adorava sempre o neto mais recente, que assim que nascesse outro, era substituído na sua afeição. Como teve 17 netos, poucas lembranças terão eles do afecto do avô. Depois deviam ser tratados "com um pau nas costas"...
Teve a feliz ideia (infeliz para ele, mas merecida), de fazer a partilha da herança em vida. depois de servidos os herdeiros, com raras excepções, andaram a empurrá-lo entre eles. Típico de gente que só vive para o dinheiro e a influência.
Acabou por morrer na Azambuja, em casa da filha mais velha, e onde está enterrado.
Da minha avó paterna a pouca recordação que tenho é uma imagem de uma mulher grande, pelo menos para mim, miúdo, era, rude e sem afectos para dar. Morreu de Diabetes.
O meu avô materno não o conheci`.
A minha mãe foi fruto de um caso fora do matrimonio de minha avó, não sei se casada na altura ou não, se o meu avô o era com outra ou não, pois tudo era tabu na família, em relação a isso. Sei que ela viveu sempre com a mágoa acerca disso, e descarregou no marido e filhos essa frustração. Embora sempre me apresentasse a minha avó como um exemplo de virtude, embora estivesse elas as duas longe disso.
Os mal tratos ficaram para nós...
Viveu para lá dos 90. Mulher magra, seca de corpo, sentimentos e inteligência. Autoritária e bisbilhoteira, queria controlar a vida de todos e fazer tudo á sua vontade, caprichosa.
Sobreviveu á morte de dois filhos, o mais velho e o mais novo.
Aquele a quem eu chamei de avô, embora sem ser do meu sangue, foi o avô Silva, ultimo marido de minha avó, e pai de 3 dos meus tios.
Sofria de Parkinson, mas era um homem calmo e agradável, foi o único avô que me deixou boas memórias.
Lembro-me sempre dele em duas ocasiões marcantes: Num grande incêndio ocorrido na Serra da Luz, há muitos anos, num bairro de barracas, estava ele no cimo das escadas da casa dos meus tios, a apontar e a tentar falar assustado. Vimos então ao longe o incêndio e as explosões (mais tarde soubemos que eram as bilhas de gás nas barracas), e chamámos os nossos pais. O incêndio alastrou-se até á Calçada da Carriche.
Outro acontecimento foi o da sua morte, a família toda reunida em casa á espera do seu falecimento, num velório tanto de macabro como de comovente. Senti na altura que a pessoa que mais sentiu a sua morte foi um meu tio, marido da sua filha mais velha, que não sendo do seu sangue o considerava como um pai.
Sei que muitos tem histórias bonitas sobre os seu avós. Também gostaria de as ter. Mas foi o que me caiu em rifa, duas famílias disfuncionais em afectividade.
Mas mesmo assim acho que não me sai nada mal...
domingo, abril 29
segunda-feira, abril 23
Sempre vivi um pouco sozinho.
A minha condição de homossexual não permitiu grande aceitação entre a minha família, os meus colegas de escola ou de trabalho.
Aos 10 anos já me sentia diferente dos outros. Embora não gostasse de desportos violentos (o que eu mudei...), não queria brincar com bonecas.
A visão do meu professor de ginástica a tomar banho na escola deixava-me fascinado, e ai percebi que não era igual aos outros meninos.
Por isso isolei-me, no meu mundo, cada vez mais só meu, numa tentativa de me proteger. Preferia estar sozinho comigo mesmo, que estar a ser magoado pelos outros.
Acho que foi isso que me tornou atento ao mundo a meu redor. Quando não entendo uma pessoa, um acto, um comportamento, distancio-me e observo, tento entender.
Quem me conhece sabe que sou um ser social, adoro a companhia dos outros e a troca de ideias, mas cheguei aqui devido a um percurso muito solitário e de grandes batalhas comigo mesmo, que me fez vencer barreiras, até me sentir confortável comigo mesmo e com o contacto com os outros. Por isso assumo a minha orientação sexual em pleno, e faço questão que saibam desde cedo que sou gay. Sem medos, receios, constrangimentos.
Tenho orgulho na pessoa em que me tornei: honesto, bondoso, solidário, sincero, humilde. Não sou perfeito, ainda tenho muito para aprender, mas sou o melhor que sei ser.
Já perdi muitas esperanças acerca da humanidade, mas continuo a acreditar no amor, sob todas as formas, como forma de redenção e salvação do homem.
Eu faço a minha parte. Já sai da redoma.
domingo, abril 22
Como eu amo o Porto.
Sou Alfacinha, nascido e criado, mas desde que vi a cidade do Porto com os meus olhos, pela primeira vez, fiquei apaixonado por ela e pela sua gente frontal e hospitaleira.
Adoro deambular pelas ruas do centro, para na Ribeira e olhar o rio e Gaia, sentir a atmosfera, o charme da cidade património mundial. E como se come bem no Porto.
Depois de 10 anos de ausência voltei ao Porto em Setembro do ano passado. Foi como um miúdo maravilhado com um brinquedo desejado que regressei á Ribeira, á Sé, á Alfândega, aos Clérigos, á livraria Lello & Irmão, que comi uma francesinha, e um bacalhau acompanhado com um delicioso vinho verde de Marco de Canaveses, e uma bôla.
2 meses depois lá estava novamente com os Dark Horses para jogar a segunda mão da Nuria Cup.
Novamente estive no Café Lusitano, onde dancei mais uma vez até á exaustão, com os meus companheiros de rugby.
Rui Reininho disse uma vez que "Lisboa é uma mulher bonita e o Porto um gajo porreiro". Concordo plenamente.
São duas cidades bem distintas, com carácter próprio e ambas belas e interessantes. Embora adore a minha Lisboa natal, continuo a sentir-me em casa no Porto, e a sentir-me em família com a sua gente, que sempre me respeitou, mesmo sendo "mouro".
E o bom filho á cada torna...
Não sei o meu futuro, mas quero voltar a casa o mais breve possível, pois tenho sempre saudades de voltar ao Porto
Sou Alfacinha, nascido e criado, mas desde que vi a cidade do Porto com os meus olhos, pela primeira vez, fiquei apaixonado por ela e pela sua gente frontal e hospitaleira.
Adoro deambular pelas ruas do centro, para na Ribeira e olhar o rio e Gaia, sentir a atmosfera, o charme da cidade património mundial. E como se come bem no Porto.
Depois de 10 anos de ausência voltei ao Porto em Setembro do ano passado. Foi como um miúdo maravilhado com um brinquedo desejado que regressei á Ribeira, á Sé, á Alfândega, aos Clérigos, á livraria Lello & Irmão, que comi uma francesinha, e um bacalhau acompanhado com um delicioso vinho verde de Marco de Canaveses, e uma bôla.
2 meses depois lá estava novamente com os Dark Horses para jogar a segunda mão da Nuria Cup.
Novamente estive no Café Lusitano, onde dancei mais uma vez até á exaustão, com os meus companheiros de rugby.
Rui Reininho disse uma vez que "Lisboa é uma mulher bonita e o Porto um gajo porreiro". Concordo plenamente.
São duas cidades bem distintas, com carácter próprio e ambas belas e interessantes. Embora adore a minha Lisboa natal, continuo a sentir-me em casa no Porto, e a sentir-me em família com a sua gente, que sempre me respeitou, mesmo sendo "mouro".
E o bom filho á cada torna...
Não sei o meu futuro, mas quero voltar a casa o mais breve possível, pois tenho sempre saudades de voltar ao Porto
domingo, abril 15
Já não se sabe sorrir em Portugal.
Anda nos rostos e nos gestos o sofrimento da fome e do ultraje, com que este governo, e esta Europa, nos castiga.
Estamos numa curva descendente de humanismo, de humilhação e, humilhação, tirando-nos a dignidade dia-a-dia, até não restar nada de homem em nós.
Não podemos baixar os braços, ser silenciosos, ser coniventes.
É a nossa carne que vai para o canhão, é a carne dos vossos filhos, dos vossos netos. É o futuro deles que estão a hipotecar, para manter os grandes gordos.
A nossa vida, é nossa. Pertence-nos, não a eles. Temos de a reclamar como nossa.
Portugal está a ser transformado num enorme campo de concentração. Eles já começaram a bater-nos, eles estão a aproveitar-se da nossa bonomia e desunião.
Temos 9 séculos de história como povo, somos uma raça de resistentes.
Antes morrer como um homem do que como um escravo submetido.
Anda nos rostos e nos gestos o sofrimento da fome e do ultraje, com que este governo, e esta Europa, nos castiga.
Estamos numa curva descendente de humanismo, de humilhação e, humilhação, tirando-nos a dignidade dia-a-dia, até não restar nada de homem em nós.
Não podemos baixar os braços, ser silenciosos, ser coniventes.
É a nossa carne que vai para o canhão, é a carne dos vossos filhos, dos vossos netos. É o futuro deles que estão a hipotecar, para manter os grandes gordos.
A nossa vida, é nossa. Pertence-nos, não a eles. Temos de a reclamar como nossa.
Portugal está a ser transformado num enorme campo de concentração. Eles já começaram a bater-nos, eles estão a aproveitar-se da nossa bonomia e desunião.
Temos 9 séculos de história como povo, somos uma raça de resistentes.
Antes morrer como um homem do que como um escravo submetido.
sábado, abril 7
Eu combato a minha superficialidade, a minha mesquinhez, para tentar chegar aos outros sem esperanças utópicas, sem cargas de preconceitos ou de expectativas ou de arrogância, o mais desarmado possível, sem armas, sem armaduras, aproximo-me dos outros de peito aberto, de pé, em vez de estraçalhar tudo com a minha superioridade, aceito os outros de mente aberta, como iguais, de homem para homem, para não perceber tudo ao contrário.
Mais vale ter um cérebro do que um punho fechado. Não quero estar mal preparado para conseguir ver as acções e os objectivos secretos de cada um.
Não quero fechar-me e manter-me enclausurado como fazem muitos, num permanente medo de que os outros vejam as suas fraquezas e nos julguem menores. Quero estar sempre o mais próximo possível da realidade e das pessoas reais, não quero estragar as minhas relações com os outros com a minha ignorância.
O facto de eu não compreender todas as pessoas não tem nada a ver com a minha inteligência. O não as compreender tem a ver com a sua humanidade, no meu caso com a sua falta. É assim que eu vivo. Talvez o melhor fosse não ligar ao facto de me enganar ou não sobre as pessoas e deixar andar. Se conseguirem fazer isso digo-vos, vocês são mais inteligentes do que eu.
O erro não está em crer que existem boas pessoas, mas sim ignorar que elas existem, e não ir á procura delas, e pensar que não temos direito aos seus afectos, em nome da nossa própria natureza.
E é evidente que essa é que é a tragédia, as pessoas que não gozam desses afectos.
sexta-feira, abril 6
Encaro sempre as tarefas a que me dedico e que me são confiadas com dedicação.
Sou daquela raça que luta, e nada pretende para si próprio, apenas servir os outros, e sentir a alegria de o fazer.
Só quem conhece o meu passado sabe porque sou assim. Não esqueço o que passei, mas quero pensar no futuro, é nele que mais penso, e invisto.
Amo a liberdade, e é só por ela que me disponho a lutar, para um futuro melhor para mim e para aqueles que amo. E é por isso que estou disponho ao sacrifício.
Tenho medo, seria muito estúpido se não o tivesse, mas reajo a quem me afronta, a quem me tenta magoar, sou aguerrido sem ser heróico (nunca me senti bem em cima dum pedestal), sou eloquente nas palavras e não gosto de sombras sinistras.
Sou daquela raça que luta, e nada pretende para si próprio, apenas servir os outros, e sentir a alegria de o fazer.
Só quem conhece o meu passado sabe porque sou assim. Não esqueço o que passei, mas quero pensar no futuro, é nele que mais penso, e invisto.
Amo a liberdade, e é só por ela que me disponho a lutar, para um futuro melhor para mim e para aqueles que amo. E é por isso que estou disponho ao sacrifício.
Tenho medo, seria muito estúpido se não o tivesse, mas reajo a quem me afronta, a quem me tenta magoar, sou aguerrido sem ser heróico (nunca me senti bem em cima dum pedestal), sou eloquente nas palavras e não gosto de sombras sinistras.
domingo, abril 1
Este orgulho de ser português, feito de arrogância e de
bondade, bravura e sacrifício, bonomia e nobreza.
Não me sai da alma, este orgulho de ser português.
Mas há alguns portugueses de que não me orgulho nada.
Não puder ajudar a resolver os males do mundo, ajudar todas
as pessoas, não é desculpa para não agirmos em defesa dos outros.
Esta ideia de que somos todos prestáveis só aos poderosos, é
aberrante.
Primeiro temos de nos ajudar a nós próprios, muitas vezes
esperar que venha o salvador não ajuda, o síndrome do sebastianismo não leva a
nada, ninguém pode salvar ninguém se essa pessoa não estiver disposta a ser
salva, ou se espera que os outros façam tudo por ela.
Ajudar os outros não é levá-los ao colo, e dar-lhes a hipótese
de resolverem as coisas por eles, dar-lhes a hipótese de escolha, a
oportunidade de pensarem. Eu sei que pensar é muito violento para muita gente…
Devemos ajudar o semelhante a levar a carga, mas não carregarmos a carga por
ele.
E quem não quer ser aconselhado não precisa de ajuda.
Se és poupado ao sofrimento, deves ajudar a atenuar o
sofrimento dos outros, mas quem precisa de ajuda constante e recorre sempre a
ti (e muitas vezes só) quando precisa, não é digno da tua ajuda, e não é teu
amigo. Deixa-o. Só te vais consumir.
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