O povo português não é triste, mas entristece com facilidade.
Sou coleccionador do meu passado, do bom e do mau, pois chegando à minha idade temos muito passado, mas também muito futuro.
Por isso amo a minha cidade como se ama uma mulher.
E Lisboa é como uma mulher, precisa de ser amada e cuidada, para ficar feliz e ser mais bonita.
A cultura secular de Lisboa criou um ambiente que é muito dificil encontrar noutra cidade.
Lisboa é uma cidade misteriosa, sinistra e luminosa, decadente e serena, ponto de partida e chegada. O progresso não passa certamente pela destruição do que é bom, que tem valor histórico ou é bonito.
O que sempre senti é que pertencia a Lisboa. A minha ama foi Lisboa. E eu julgava que Lisboa era minha, como me enganava! Eu é que pertencia à cidade. Em Lisboa nasci e em Lisboa vou morrer.
Pois as emoções não se repetem...
Falo de mim quando falo de Lisboa. E poderá alguém separar-nos?
Só posso falar daquilo a que pertenço. E continuo a estar apaixonado por Lisboa, ela é a mulher da minha vida.
E o Tejo sempre me fascinou.
Lisboa foi aos poucos abandonando o seu Tejo, esquecendo o rio. Era parte de si própria. Desprezou a sua beleza, menosprezou a sua própria riqueza.
A vocação portuguesa esteve sempre voltada para o mar.
Não me lembro quando descobri Lisboa. Posso no entanto dizer que ainda não deixei de a descobrir...